GABRIEL CARNEIRO, IGOR SIQUEIRA, DANILO LAVIERI, PEDRO LOPES E RODRIGO MATTOS
DOHA, QATAR (UOL/FOLHAPRESS) – Se tem uma defesa que representa o título da Argentina na Copa do Mundo de 2022, nenhuma delas foi nos pênaltis, por incrível que pareça. O confronto com a França, ao fim das contas, começou a ser definido minutos antes, nos instantes finais da prorrogação.

No relógio, 2 minutos e 40 segundos dos acréscimos do segundo tempo extra já tinham se passado. O árbitro prometera três. No caos que a partida tinha virado, Kolo Muani recebeu um lançamento. Estava livre demais. Armou o chute. Se acertasse, a França ficaria a segundos do título mundial. A batida de pé direito saiu com força. Mas aí apareceu um outro pé.

Se a Argentina já comemorou um título exaltando “la mano de Diós”, em uma trapaça de Maradona, agora pode exaltar o que o pé do goleiro Dibu Martínez fez no estádio Lusail, no Qatar. O movimento foi digno de goleiro de outro esporte, o handebol. Agilidade, elasticidade e competência resumidos em um lance.

Nos pênaltis, a defesa em dos dois pênaltis desperdiçados pela França completaram o pacote. Emiliano Martínez, o Dibu, virou sinônimo de herói para os argentinos. Não por acaso, foi eleito o melhor goleiro da Copa do Mundo 2022.

Ao longo da disputa de pênaltis, ele já mostrava a confiança de quem parecia ter alugado uma fazenda na mente dos adversários.

Primeiro, quase conseguiu espalmar a batida de Mbappé. Depois, segurou o chute de Coman. Em vantagem, viu Tchouaméni arriscar tanto o canto para fugir dele que o volante da França mandou para fora. Instantes antes, ele já tinha mandado a bola para fora da área, atrapalhando o ritual do adversário pré-cobrança.

Dibu dançou, catimbou e comemorou, alcançando um nível de idolatria que talvez se equipare ao de Di María na geração atual. Messi, como se sabe, é inatingível.

Martínez atinge aos 30 anos um protagonismo inédito na carreira. Por oito temporadas, alternou entre a reserva do Arsenal e empréstimos para times irrelevantes no futebol inglês, como Oxford United, Sheffield Wednesday e Reading. Até que em 2020 ele chegou ao Aston Villa e conseguiu uma guinada de vida.

Na seleção, virou titular depois de anos de rotatividade e insegurança na posição. A conquista da Copa América, em 2021, já teve protagonismo dele, com defesa de pênalti na disputa contra a Colômbia.

O roteiro ganhou proporções inigualáveis com o brilho na final da Copa. A Argentina tem um goleiro em quem pode confiar e idolatrar.