Novela Meirelles parece ter chegado ao fim. Depois de meses de especulação, presidente do Banco Central deve se filiar ao PMDB   Depois de meses de especulação e muita movimentação nos bastidores da política, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, decidiu filiar-se ao PMDB. A escolha surpreendeu o mundo político, já que o PP dava como certa a entrada de Meirelles no partido. A articulação que culminou com a escolha do presidente do BC pelo PMDB envolveu diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB).
 
A ficha de filiação será assinada no início desta semana. A escolha do candidato peemedebista ao governo, porém, fica para 2010. Até abril, Iris e Meirelles definem qual dos dois disputará o governo do Estado. Além de pleitear o comando do Palácio das Esmeraldas, o presidente do BC tem alternativas. Henrique Meirelles tem a opção de se candidatar ao Senado ou até mesmo a de tentar se viabilizar candidato a vice-presidente da República, esta última alternativa considerada improvável no momento.
 
A filiação de Meirelles a um partido político vinha sendo levada em banho-maria até a visita de Lula a Goiás no dia 13 agosto. Na passagem pelo Estado, o presidente rasgou elogios ao auxiliar, fortalecendo a postulação de Meirelles ao governo em detrimento de Iris Rezende, até então tido como o preferido de Lula. A preferência escancarada por Meirelles incomodou o prefeito de Goiânia e todo o PMDB. A mágoa peemedebista tornou-se pública, ameaçando a unidade da base de Lula em Goiás. Diante da crise iminente, o presidente reagiu.
 
Menos de uma semana após vir a Goiânia, Lula chamou Iris para conversa reservada em Brasília. Interlocutores do prefeito contam que Lula avisou a Iris que queria ver Meirelles filiado ao PMDB. No cenário apontado pelo presidente ao prefeito, Meirelles poderia disputar o governo ou outro cargo ou até mesmo continuar à frente do Banco Central. A vontade de ver Meirelles no PMDB teria como objetivo principal fortalecer a sigla para o embate com o senador Marconi Perillo (PSDB). A definição do candidato podia esperar.  
Aconselhado por Lula, Meirelles procurou Iris. A primeira conversa entre os dois, com o objetivo de discutir uma possível filiação no PMDB, deu-se em Goiânia. O peemedebista mostrou-se completamente de acordo com a filiação. O prefeito aconselhou, então, que Meirelles procurasse as principais lideranças do PMDB – deputados estaduais, federais, o presidente regional do partido, Adib Elias, e o prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela. E, assim, o presidente do BC seguiu o rito.
 
Em reunião com Iris e a cúpula peemedebista, na noite de quinta-feira, 24, em Goiânia, Meirelles anunciou que havia tomado a decisão de filiar-se ao PMDB. Antes, o presidente do BC também conversou com o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, de quem recebeu sinalização positiva. Finalmente, Henrique Meirelles reportou-se mais uma vez ao presidente Lula e bateu o martelo.
 
O PMDB não demonstrou qualquer dificuldade em receber a filiação de Henrique Meirelles. Ao contrário, a definição deixou os peemedebistas eufóricos. O partido sacramentou que terá candidatura própria ao governo, antes vista com ressalvas, e parte agora para a aglutinação de forças. De início, arrasta para junto de si o PT, o PSC, o PDT e o PC do B. Com Meirelles é possível que o leque de alianças seja ampliado e alcance o PR e até o PP do governador Alcides Rodrigues. Tudo dependerá da habilidade de articulação a ser conduzida até as convenções.
 
Definição
Por ora, Iris e Meirelles manterão em suspense o nome do PMDB que irá às urnas em 2010, mantendo a expectativa de poder em torno do partido, movimentado as bases e agregando aliados. É certo, no entanto, que Iris concorda em apoiar a candidatura do novo peemedebista ao governo. Acima da vontade de ser pela terceira vez governador de Goiás, Iris quer ver novamente o PMDB no comando do Palácio das Esmeraldas e, principalmente, seu principal adversário (o senador Marconi Perillo) derrotado. Se o projeto mais viável for apoiar Meirelles, o presidente do BC será ‘ungido’ pelo prefeito.  
A indefinição que, salvo algum contratempo, será arrastada até início de abril de 2010, tem outros componentes. O principal deles é que Henrique Meirelles sonha com um voo nacional. Agora no PMDB, acredita ter condições de aspirar a uma candidatura a vice-presidente na chapa a ser liderada pela ministra-Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Na hipótese, por enquanto improvável, de a ministra ser rifada – Dilma está estagnada nas pesquisas –, ainda poderia entrar na lista de opções de Lula para disputar a sucessão presidencial. Com Meirelles em Brasília, Iris vai ao governo.
 
Se, por outro lado, Meirelles não conseguir abrir espaços no PMDB nacional e, até mesmo, apresentar-se como inviável na disputa pelo governo de Goiás (hoje aparece em desvantagem na comparação com Iris nas pesquisas), ele ainda teria a possibilidade de concorrer a uma das duas cadeiras de senador, eleição tida como mais tranquila. Nesse cenário hipotético de não ser a melhor alternativa para enfrentar o senador Marconi Perillo, o prefeito Iris Rezende também estaria pronto para a empreitada. Como se vê, o PMDB, que teve sua candidatura colocada em xeque para as eleições de 2010, agora tem dois nomes em potencial.
 
Qual o melhor caminho?
Quando o assunto é o destino do presidente do Banco Central, não há consenso. Especialistas ouvidos pela Tribuna avaliam que o melhor caminho para Meirelles seja a candidatura ao Senado com o apoio do prefeito Iris Rezende, postulante ao governo. De modo geral, eles defendem que existe uma expectativa, por parte do eleitorado goiano, para a reedição do confronto de 1998, quando o peemedebista concorreu com Marconi ao governo do Estado.
 
Em contrapartida,  alguns dos estudiosos ouvidos pela reportagem acreditam que o presidente do BC tem boas chances na disputa majoritária, se ele contar com a estrutura do PMDB e com o apoio do prefeito Iris Rezende. De acordo com eles, o desconhecimento de Meirelles pela população pode ser positivo, na medida em que sua imagem não apresenta desgastes, ao contrário de Iris e Marconi.
 
Cenários
 
* Com Iris candidato ao governo, Meirelles deve se candidatar ao Senado. Nesse caso, a tendência seria compor a chapa com PT e PR. Os nomes mais prováveis nesse cenário seriam os deputados Rubens Otoni (PT) e Sandro Mabel (PR). O republicano aparece com alto potencial de votos ao Senado, como mostra a pesquisa Grupom, realizada no último mês, nas diferentes regiões
do Estado.
 
* Com Meirelles candidato ao governo, Iris se mantém no comando do Paço Municipal. O prefeito já afirmou que não pretende deixar a prefeitura para concorrer ao Senado. Nesse caso, há, inclusive, a possibilidade de atrair o PP para a chapa dos partidos do presidente Lula. Os pepistas teriam dificuldade em apoiar a candidatura do prefeito Iris Rezende. Com Meirelles, as chances de composição são maiores.
 
* Apesar da possibilidade de concorrer ao Senado ou ao Governo, o presidente do BC tem ainda duas opções: se tornar o candidato à sucessão de Lula, caso a ministra Dilma não decole nas pesquisas, ou sair na vice da petista. Nesse caso, Meirelles depende da vontade do presidente e dos líderes peemedebistas, já que seu projeto nacional vai de encontro às negociações que já estão em curso no partido.