Uma ideia que se funde ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 11 da Agenda 2030 da ONU: Cidades e Comunidades Sustentáveis, e que tem total apoio do Sistema Sagres de Comunicação. Em um estudo publicado na revista Bioresource Technology, integrantes do Centro de Pesquisa para Inovação em Gás (RCGI) descrevem um método que permite produzir bioplástico a partir de uma matéria-prima barata, abundante e que não concorre com a indústria alimentícia: o gás carbônico (CO₂).

Na pesquisa, foram utilizadas cianobactérias, também conhecidas como algas azuis, que são microrganismos procariontes capazes de realizar fotossíntese. Ao serem submetidas a condições de estresse em meio de cultura com excesso de luz, as cianobactérias capturam o CO2 e produzem em seu interior grânulos de polihidroxibutirato (PHB), um tipo de bioplástico. Estas cianobactérias, do gênero Synechocystis sp., foram coletadas em áreas de manguezal próximas a Cubatão, em São Paulo.

“É possível, utilizando alguns microrganismos, que a gente chama de cianobactérias, que elas capturem o CO₂ e produzam um tipo de bioplástico. Os bioplásticos são polímeros de origem renovável e são totalmente biodegradáveis”, afirma a coordenadora do projeto e professora da Universidade de São Paulo (USP), Elen Aquino.

Elen Aquino no STM #245 desta terça-feira (13) (Foto: Sagres TV)

Segundo Elen Aquino, a utilização do gás carbônico não compete com a indústria alimentícia porque a composição desse novo bioplástico não leva açúcar, como já ocorre industrialmente. Ainda segundo a coordenadora, a remoção do gás carbônico do ambiente ajuda no combate ao efeito estufa, já que o CO₂ é o principal causador desse aquecimento.

Baixo custo

A professora da USP explica que o bioplástico custa três vezes mais que o plástico tradicional, mas que a produção a partir do gás carbônico pode reduzir esse custo. “30% de toda essa biomassa que vai ser gerada por esse microrganismo, vai ser convertida em biopolímeros. Então o custo diminui bastante quando se tem fixação de CO₂ em biomassa”, esclarece.

Para que possa ser realizada uma produção industrial desse bioplástico a partir de CO₂, a conversão em biopolímeros precisa dobrar para 60%. O processo pode aumentar inclusive a competitividade desse tipo de material.

“O grande problemas dos plásticos não serem competitivos comercialmente é porque não existe produção, ou seja, não tem concorrência e indústrias produzindo esse tipo de plástico”, agumenta.

Com as mesmas propriedades do polipropileno, produzido a partir do petróleo, a produção de bioplástico atualmente é direcionada ao mercado europeu, principalmente para elaboração de próteses ortopédicas. “Tudo que é feito de polipropileno hoje em dia pode ser substituído por esse bioplásticos”, afirma.

Novo método permite produzir bioplástico a partir de gás carbônico
Em estudo conduzido no Centro de Pesquisa para Inovação em Gás, biopolímeros foram produzidos por cianobactérias que capturam o CO2 da atmosfera. Além de mais barata, técnica contribui para a fixação do principal gás de efeito estufa (Cianobactéria do gênero Synechocystis; Foto: Alchetron)

O próximo passo do estudo é fazer o chamado “consórcio microbiano” para tentar potencializar a produção do bioplástico: colocar bactérias e cianobactérias para crescerem juntas em meio de cultura, na presença de CO2 e CH4. Diferentemente das cianobactérias, as bactérias utilizadas em outro projeto capturam gás metano (CH4) e também o transformam em PHB.

Confira a entrevista na íntegra no STM #245 a seguir