Um estudo de pesquisadores brasileiros e estrangeiros propõe aprimorar modelos para projetar os serviços ecossistêmicos das florestas montanhosas. Os profissionais argumentam que há poucos estudos sobre a rica biodiversidade das montanhas. Mas também pouca informação sobre seus importantes serviços ecossistêmicos, tais como água e regulação da temperatura e do clima regional e global. 

A pesquisa tem o título “Ecossistemas montanhosos da América do Sul e mudanças globais – um estudo de caso para integrar teoria e observações de campo para modelagem da superfície terrestre e gestão de ecossistemas”.

O estudo está publicado na revista Plant Ecology & Diversity. E então reúne diversos pesquisadores, dentre os quais Laszlo Karoly Nagy, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é um dos autores correspondentes das universidades brasileiras.

“Os resultados do nosso trabalho mostram que as informações categorizadas em termos de necessidades para modelagem dos clusters de montanhas na América do Sul são muito escassas, pontuais e insuficientes para incorporar em exercício de modelagem. Para avançarmos na abordagem, incluindo a diversidade socioecológica, precisamos de mais dados e que sejam mais específicos”, explicou Nagy.

Aprimorar os modelos

Para conhecer mais sobre os serviços ecossistêmicos da montanhas, o estudo sugere que aprimore os modelos já existentes. 

“Por isso, a ideia é implantar uma rede de sítios, que representará a heterogeneidade de realidades sociais e ecológicas dos ecossistemas de montanha e, dessa forma, permitir quantificar o papel até hoje negligenciado desses ecossistemas na ciclagem de carbono e água e em outros serviços ecossistêmicos”, contou Nagy.

Na pesquisa fica evidente que existem lacunas nos dados sobre as regiões manhosas. Assim, os pesquisadores citam temas como a interação entre a atmosfera e a dinâmica da vegetação em meio às mudanças climáticas nesses locais. Então, uma das sugestões apresentadas na pesquisa é criar uma rede transdisciplinar de estudos.

Uma rede que seja capaz de “estudar a dinâmica natural dos ecossistemas montanhosos e suas respostas aos fatores de mudança local, regional e à escala continental no quadro de um sistema socioecológico”.

Estudo das montanhas

A pesquisa ocorreu entre a Cordilheira dos Andes e o Sudeste do Brasil. Os locais estudados são os Andes venezuelanos; Andes colombianos e Andes equatorianos ocidentais. O Transecto Amazônia – Andes, Peru e as montanhas do noroeste da Argentina. E ainda o Cabo Horn (Chile) e as serras da Mantiqueira e do Cipó, localizadas no Brasil.

Os pesquisadores encontraram dados climáticos e ecológicos de apenas dois sítios pesquisados, sendo um do Brasil e o outro da Venezuela. Mas o modelo dos dados  é o Dynamic Global Vegetation Models (DGVMs), que são modelos dinâmicos de vegetação que simulam as próximas décadas da dinâmica vegetacional em escala regional, continental ou global.

“Características de montanhas necessitam de uma abordagem diferenciada, que analise, por exemplo, como se dá a limitação de crescimento das árvores nessas áreas, isto é, produção de tecidos vegetais versus limitação por fotossíntese”, afirmou Nagy.

Montanhas e mudanças climáticas

Dos Andes à Mata Atlântica, as florestas de regiões montanhosas apresentam variação de umidade, com algumas localizadas próximas ao mar e outras mais próximas a vales. São características únicas da vegetação de cada uma, mas que podem sofrer alterações causadas pelas mudanças climáticas.

As alterações provocam mudanças na estrutura e no funcionamento dos ecossistemas das florestas montanhosas. De acordo com o estudo, o aquecimento no Andes é três vezes maior do que em outras partes da América do Sul.

“Nesse contexto, as montanhas subtropicais e tropicais da América do Sul constituem uma área de alta prioridade para possibilitar projeções sobre os impactos de futuras mudanças climáticas na estrutura e no funcionamento desses ecossistemas, na retroalimentação para o clima e o potencial uso dos serviços ecossistêmicos”, contextualizou a Agência Fapesp.

Novos modelos

O projeto de obter novos modelos está em fase de definir novos sítios para serem estudados. O objetivo dos pesquisadores é sintetizar todo o conhecimento sobre as florestas montanhosas para saber como elas contribuem para as mudanças climáticas.

“É preciso estratificar a seleção das áreas com base no clima e na biogeografia, levando em consideração o contexto histórico-cultural do uso da terra. Tudo isso mostra a diversidade de situações que vamos encontrar em termos socioecológicos. Dessa forma poderemos sintetizar o conhecimento e abrir um caminho para construirmos um projeto amplo”, afirmou Nagy.

Então, os pesquisadores trabalham agora na construção de modelos, em parceria ibero-americanos e europeus. Apesar das dificuldades de obter dados das regiões de interesse que são de floresta de montanha e de vegetação naturalmente não arbórea. 

“Precisamos unir modeladores e pesquisadores do campo, que conhecem a floresta, e decidir o que funcionou para cada uma das partes, identificando as peculiaridades e como elas conversam. É importantíssimo que as duas comunidades interajam para que o resultado produzido por modelagem seja verificado por dados empíricos”, completou Nagy.

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