Sinisa Mihajlovic, Pelé, Gianluca Vialli e Roberto Dinamite. No espaço de um mês, o futebol mundial perdeu grandes ex-jogadores e figuras históricas do esporte. Cada qual com sua própria singularidade, mas todos pelo mesmo motivo: o câncer.

Além dos falecimentos dos ídolos do futebol brasileiro, ambos provocados por câncer no intestino, as mortes do italiano (pâncreas) e do sérvio (leucemia) levantaram um debate na Itália: o esporte condicionou o desenvolvimento de células cancerígenas nos ex-jogadores?

Ex-companheiro de Vialli, na Juventus, e de Mihajlovic, na Lazio, o ex-volante Dino Baggio afirmou em entrevista à Tv7 que “precisam investigar as substâncias que usamos naquela época. Sempre houve doping, e precisamos saber se certos suplementos causam doenças com o tempo. Está acontecendo com muitos jogadores e tenho medo”.

A fala de Baggio é em referência às supostas administrações de drogas ilícitas a jogadores da Juventus durante os anos 1990. Ex-médico do clube italiano, Riccardo Agricola foi condenado em 2002 por administrar eritropoietina (EPO), substância que provoca o aumento na concentração de hemácias, e entre outras substâncias.

A preocupação e suspeita do ex-jogador, hoje com 51 anos, também foi compartilhada por dirigentes, como Claudio Lotito, presidente da Lazio e senador italiano. “Espero que não haja conexão, mas temos que fazer esses questionamentos para investigar alguns tipos de doenças que começam a ser numerosas no nosso mundo”, disse o dirigente.

O ex-volante Dino Baggio disputou mais de 60 partidas pela seleção italiana nos anos 1990 (Foto: Reprodução/Sport)
Histórico que preocupa

Mihajlovic e Vialli não são os primeiros casos no futebol italiano. Bruno Beatrice, ex-jogador da Inter e da Fiorentina nas décadas de 60 e 70, morreu em 1987, aos 39 anos, vítima de leucemia. A pedido da viúva Gabriella Bernardini Beatrice, a promotoria de Florença abriu uma investigação em 2005 sobre a morte do ex-meio-campista.

Em 76, por conta de uma pubalgia crônica, Beatrice foi tratado diariamente por cerca de três meses com radioterapia à base de raios X e precisou passar por terapia intravenosa após as sessões. Na época, o então jogador da Fiorentina sofreu com insônia, tremores e espasmos musculares. O caso foi arquivado em 2009 por prescrição.

Ferruccio Mazzola, também ex-jogador de Inter e Fiorentina, e com passagens pela Lazio, dedicou o fim de sua carreira a expor práticas adotadas durante a sua época. Em um livro publicado em 2004, acusou Helenio Herrera, histórico treinador franco-argentino, de submeter seus atletas a anfetaminas, dissolvidas no café.

Mazzola também associou mortes e doenças de seus ex-companheiros a drogas ministradas na época para melhorar o desempenho dos atletas, supostamente submetidos a práticas ilegais por treinadores e médicos. Como Beatrice, que jogou no mesmo período de Ferruccio, que faleceu após uma longa doença em 2013, aos 68 anos.

No entanto, nunca existiu uma comprovação científica que tenha atestado uma ligação entre os cânceres de ex-jogadores às substâncias utilizadas durante suas carreiras. Beatrice, Mihajlovic e Vialli, todos tiveram tipos diferentes de câncer, sem qualquer relação.

O ex-meio-campista Bruno Beatrice morreu de forma precoce, aos 39 anos, vítima de leucemia (Foto: Divulgação/Fiorentina)
A outra doença que assombra os jogadores

O que, de fato, já foi demonstrado pela medicina italiana é a associação da prática esportiva ao desenvolvimento da esclerose lateral amiotrófica (ELA) em jogadores de futebol. O ex-atacante Stefano Borgonovo, que faleceu aos 49 anos, em 2013, após uma longa batalha contra a doença, é o caso mais conhecido na Itália.

Um estudo recente mostrou evidências da ligação entre a ELA e o futebol, confirmando que a doença afeta com maior frequência os futebolistas. Ao revisar dados relativos a mais de 23 mil jogadores das três primeiras divisões do futebol italiano entre 1959 e 2000, os pesquisadores observaram 34 casos.

Trata-se de uma incidência com quase o dobro da população italiana em geral. Os estudiosos apontaram que uma das hipóteses da ligação entre a doença e os atletas esteja relacionada a eventos traumáticos, comum em esportes de contato como o futebol.

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