Você sabe o que faz uma museóloga? No Brasil, a profissão foi regulamentada há 40 anos, mas nem todo mundo conhece a atividade, e tampouco faz ideia do trabalho que é feito antes que qualquer objeto fique exposto ao público. Se você relacionou a museu, pensou corretamente.

Assista a seguir à reportagem de Johann Germano e Thiago Pimenta

A museóloga Bárbara Freire trabalha no Museu Antropológico da Universidade Federal de Goiás (MA UFG), em Goiânia. “Aqui no museu nós fazemos algumas atividades, dentre elas a curadoria de objetos e também ações educativas. Então todo o planejamento de ações desde as maletas didáticas, todo o material que chega ao público passa pelos museólogos”, afirma.

E, acredite, o interesse da Bárbara pela museologia começou pela moda. “Na verdade fui cativada pela museologia. Minha formação inicial é em Design de Moda. Eu fiz uma pesquisa sobre a indumentária Oxum, exposta aqui no Museu Antropológico e descobri a museologia”, revela Bárbara.

A graduação em Museologia existe na UFG desde 2010. Bárbara conta que a inspiração para seguir a carreira veio da professora e orientadora Manuelina Duarte. “A Manuelina foi a coordenadora do curso de Museologia, foi minha professora e orientadora na minha especialização e mestrado. Eu sempre continuo o diálogo com ela, ela que me inspira a continuar”, confidencia.

À esquerda, a professora Manuelina Duarte, que inspirou a Bárbara Freire (à direita) a seguir na carreira de museóloga (Foto: Arquivo pessoal)

Inspiração, aliás, é o que não falta no Museu Antropológico da UFG, que fica ao lado da Praça Universitária. Pioneiros da Museologia em Goiás, dão nome a salas do museu, como a das professoras Judite Ivanir Breda e Margarida Davina Andreatta, nomes de reservas técnicas do MA UFG.

A pesquisadora alemã Irmhild Wüst dá nome à sala de exposições temporárias. Já a biblioteca do museu leva o nome de Edna Taveira, e o mini-auditório Acary de Passos Oliveira, primeiro diretor e um dos fundadores do MA UFG.

Reserva técnica

Praticamente tudo passa pelo crivo da Bárbara. Após a coleta em campo, no entanto, cada objeto é catalogado em uma das reservas técnicas, onde o recomendável é utilizar equipamentos de proteção individual (EPI), como luvas e máscara, para evitar a contaminação.

“Todo objeto que precisa passar por algum procedimento, passa pela conservação. A comissão de acervo eleva a demanda para a comissão, composta por integrantes das diversas áreas do museu, e então há o encaminhamento”, explica a museóloga.

Na reserva técnica, todos os objetos que chegam ficam armazenados nesses armários gigantes, deslizantes, e que são verdadeiros cofres. Enquanto estão nesse local, só podem ser manipulados por profissionais da área de museologia ou pesquisadores. Só depois que deixam essa etapa, porém, é que vão de fato para exposição e ficam visíveis ao público.

Organizar, preservar, catalogar, comunicar, fazer a salvaguarda e divulgar o acervo museológico estão entre as atribuições da Bárbara. Só no MA UFG, são 477 sítios arqueológicos registrados, e mais de 200 mil objetos salvaguardados.

“O cuidado no tratamento técnico com os objetos, o atendimento aos públicos, a resposta a essas demandas, e as dúvidas. As pessoas realmente ainda têm muitas dúvidas, não sabem muito os horários, se pode entrar de forma gratuita, o cuidado com a conservação e preservação”, enumera Bárbara, sobre as atribuições da profissão.

Exposição “50 Anos: Redes, Saberes e Ocupações”, coordenada pela Bárbara Freire, no MA UFG (Foto: Facebook/MA UFG)

Em centenas de caixas-arquivo pretas estão os relatórios de cada projeto que chega ao museu. São mais de 5,3 mil objetos etnográficos registrados, segundo dados do último levantamento do inventário do MA UFG, que data de janeiro desse ano.

Laboratório

É nesse espaço que acontece a análise dos materiais. No Laboratório de Arqueologia, há o trabalho de curadoria, que também é feito pela Bárbara. Entre os itens estão objetos líticos como machados polidos, lesmas e pontas de flecha em quartzo.

“Os machados eles usavam tanto para quebrar, até processos de construção de pigmentos naturais, como vemos nas pinturas rupestres. Já a lesma é utilizada para corte, o que seria uma faca no período ancestral, ou retirada de pele da caça. A ponta de flecha era para caça de animais”, esclarece.

Alguns dos objetos são réplicas, para que possam ser manipulados por estudantes ou pessoas com deficiência visual. “É para acessibilidade dos públicos, tanto o público infantil quanto deficientes visuais. Nós temos um projeto em desenvolvimento, que são as maletas didáticas para empréstimo às escolas, para que os professores usem esse material em suas aulas e compartilhem esse tema com seus estudantes”, afirma.

A Bárbara coordena ainda uma das principais exposições, a “Redes, Saberes e Ocupações”, que conta os 50 anos de história do Museu Antropológico da UFG. “Nós tentamos trazer essa diversidade com a qual o museu colabora desde a década de 70. O museu surge com o diretor Acary de Passos. A Edna foi a segunda diretora. E nós tentamos trazer essa diversidade com as várias comunidades indígenas e quilombolas que possuímos acervos aqui no museu”, pontua.

Tecnologia

Outro projeto da Bárbara foi criar uma ferramenta de visita à distância. É o aplicativo “Fala Sério, Aqui Tem Museu”, para dispositivos móveis. Com ele, é possível visitar museus do Brasil e do Mundo na palma da mão, sem sair de casa.

“Ele tem como objetivo facilitar o acesso da população, das instituições culturais de Goiânia e Aparecida de Goiânia e também de museus virtuais e cibermuseus do Brasil e do mundo”, afirma. “É possível ter acesso a locais, horários, gratuidades, tudo no Fala Sério”, complementa.

Para a museóloga, o maior desafio e atrair o público para dentro dos museus, conhecer a cultura e a própria história. “A preservação só acontece, de fato, quando a gente consegue transmitir isso para as pessoas. Por isso, cada vez mais a gente vem tentando trabalhar nessa perspectiva de aproximar a população dos patrimônios, conhecer um pouco da história local e dos patrimônios locais”, conclui.

*Este conteúdo está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) – ODS 08: Trabalho Decente e Crescimento Econômico

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