Uma garota adotada, nascida e criada em Sorocaba, cidade do interior paulista, com uma infância tranquila em uma chácara, e de adolescência um pouco conturbada em uma família de classe média paulistana. Uma vida aparentemente “normal”, e que leva muitos a perguntarem porque Raquel Pacheco escolheu tomar o rumo que tomou: tornar-se na Bruna Surfistinha, a (ex) garota de programa mais famosa do Brasil.

Ela até tem as respostas para essa inquietação, mas o que Bruna faz questão de ressaltar é somente uma coisa. “Eu sinceramente não me arrependo. Não sei se algum dia me arrependerei, mas por enquanto não”, assegurou. Em entrevista exclusiva ao produtor Rodrigo Augusto, e ao apresentador Márcio Ferreira para o programa “Madrugada Viva” da RÁDIO 730, a ex-prostituta e hoje celebridade pop no país, deu essa e muitas outras declarações sobre sua vida, que já rendeu quatro livros, e um filme, que está atualmente em cartaz, com Deborah Secco interpretando Bruna.

“Sou uma pessoa extremamente determinada, corajosa, com muitos sonhos, tento levar uma vida normal, embora eu tenha muita determinação, então no ponto de quando eu resolvo fazer algo na minha vida, eu corro atrás sem pensar nas consequências”. E foi com esse pensamento que Raquel fugiu de casa aos 17 anos já com a intenção de se prostituir. Ela conta que a falta de liberdade, devido à superproteção dos pais a partir do momento que mudaram para São Paulo, foi um dos fatores para a atitude.

“Isso acabou fazendo com que eu tivesse vontade de fugir dessa realidade, porque na verdade eles não me deixavam ter a vida adolescente que eu gostaria, e eu acabei confundindo bastante essa proteção com falta de amor”, explica. “Depois, na verdade, eu fui descobrir, a falta de compreensão era minha, e não deles”, confessa. Entretanto, a ainda garota Raquel não queria sair do bom padrão de vida que tinha. “Eu não queria sair da casa deles (pais) para passar fome, frio e não ter um lugar, uma cama pra dormir”.

Mas o dinheiro não foi o único motivo que encontrou para entrar na prostituição. A curiosidade para se descobrir sexualmente também a atraiu. “Quando eu coloquei na minha cabeça que eu me prostituiria, eu comecei a fantasiar situações, o que eu poderia fazer ou não na cama, e acabei unindo o útil ao agradável. Eu tinha muita vontade de viver essa aventura sexual na minha vida, e ao mesmo tempo queria dinheiro”, acrescentou.

O nascimento de Bruna Surfistinha

Ao embarcar na nova vida, Raquel passou por várias transformações. A começar pelo nome. Toda garota de programa mantém o chamado “nome de guerra”. Segundo ela, o nome Bruna veio por acaso, após uma colega de trabalho ter dito que gostava do nome. A alcunha de “surfistinha” vem tanto da adolescência, quando ia muito ao Guarujá, onde tinha amigos surfistas, quanto de alguns clientes, que à época a achavam com cara de surfista.

Mas o nome foi apenas um detalhe. A vida de garota de programa lhe rendeu muitas histórias, e momentos tensos. “Tive muita sorte porque sei que tem muitas garotas RAQUEL_PACHECO_01de programa que são agredidas por homens, e as únicas agressões que eu sofri na prostituição foram agressões verbais”, disse. “Sempre tive muito receio, porque ir para a cama com um estranho, sem saber quem ele é, se ele tem algum problema psicológico, o cliente pode ser qualquer pessoa. Sempre tive um pouco de receio sim em relação a minha segurança. Graças a Deus nunca aconteceu nada de ruim comigo”, ressalta.

A fama antes de vir na internet, com o blog que criou, chegou primeiro entre os clientes em São Paulo. E a receita para se dar bem no ofício, segundo Surfistinha, é só uma: aceitar tudo que o cliente pedir. “Tem que ser extremamente liberal, tem que topar fazer tudo que o cliente pede justamente porque a maioria dos clientes buscam uma garota de programa para realizar aquilo que as mulheres deles não fazem. A maioria infelizmente é casado, ou no mínimo tem algum compromisso”, apontou.

Raquel ainda reitera que sempre procurou estar bem informada, e tinha um nível cultural acima da média que as companheiras de trabalho, o que lhe permitia diálogo com os clientes, e os atraía ainda mais. “Mais do que sexo, eu sempre conversei muito bem sobre qualquer tipo de assunto. Então isso chamava bastante atenção porque muitos clientes procuravam uma garota de programa não apenas pelo sexo”, acrescentou.

O susto

Hoje Bruna Surfistinha voltou a levar a vida de Raquel Pacheco. A reviravolta na vida aconteceu após quase ter morrido com um princípio de overdose de cocaína. “Consegui parar com o vício, porque eu passei por um susto muito grande. Tive um início de overdose, quase morri, fui parar no hospital, e quando eu acordei não lembrava de nada do que tinha acontecido comigo”, lembra. Segundo ela, a droga é mais um dos vários dramas recorrentes na vida de uma garota de programa.

“A cocaína acabou se tornando durante um longo período da minha vida a minha válvula de escape, que é o que acontece. É uma maneira das garotas fugirem da realidade, da prostituição”, explica. Após a luta contra o vício da cocaína, Bruna continuou a se prostituir, mas apenas para juntar dinheiro e parar com a atividade. “Depois do susto eu percebi o que eu estava fazendo com a minha vida, na verdade eu estava destruindo a minha vida. Eu tive naquele momento duas opções a escolher: ou eu saía do hospital e continuava um drogada, ou eu parava com o vício e continuava a minha vida, e eu decidi viver”, conta.

Raquel hoje é casada com João Correa de Moraes, advogado e que era cliente dela. João deixou a esposa e dois filhos para se casar com Raquel. Segundo ela, é comum a prostituta se envolver emocionalmente com alguns clientes. “Um grande problema com a garota de programa, é que a garota de programa tem uma carência afetiva muito grande porque elas não tem o apoio da família, e fora o fato de ter vários homens, e não ter nenhum ao mesmo tempo”, declara.

A fama

O fenômeno Bruna Surfistinha começou em 2005, quando já conduzia sua atividade na prostituição (fora de um prostíbulo), e criou o blog na internet, onde contava BANNERdetalhes dos programas que realizava. “Eu me sentia muito sozinha, e o computador era realmente a minha única companhia. Então eu decidi criar o blog justamente para mostrar pra sociedade que a garota de programa é uma mulher como outra qualquer. A única diferença é que ela cobra pelo sexo, vende o corpo, mas merece ser respeitada do mesmo jeito”, enaltece.

Além dos programas, Surfistinha convivia também com entrevistas e assédio de fãs. Tudo isso lhe rendeu três livros: o best-seller “O doce veneno do escorpião” (2005), que fez junto com o jornalista Jorge Tarquini, e que teve cerca de 250 mil exemplares vendidos. Em 2006 lançou “O que Aprendi com Bruna Surfistinha”, também com Tarquini, e em 2007 Raquel escreveu “Na cama com Bruna Surfistinha”. Outra obra que trata da ex-garota de programa é “Depois do Escorpião: uma História de Amor, Sexo e Traição” (2006) de Samantha Moraes, ex-mulher de João Correa de Moraes, atual marido de Raquel.

Mais recentemente, a vida da personagem “Bruna Surfistinha” se tornou no filme dirigido por Marcus Baldini, e estrelado por Deborah Secco, e que teve a aprovação de Raquel, mas com ressalvas. “Muitas partes, muitas situações que eu contei no livro não estão no filme. Eu acabei sentindo falta de algumas situações, principalmente da despedida da minha mãe quando eu estava fugindo de casa e eu sabia que eu não voltaria pra casa”, exemplifica. Entretanto, a atuação de Deborah foi bastante elogiada por Raquel. “Na minha opinião ela interpretou muito bem, ela se entregou ao personagem de uma maneira que eu consigo me ver nela do começo ao fim do filme”, diz.

Raquel sempre será Bruna

Já há cinco anos sem se prostituir, Raquel Pacheco não faz questão de deixar a imagem de “Bruna Surfistinha”. “Eu acabei percebendo que não faria sentido eu deixar de escrever, deixar de ajudar as pessoas, porque querendo ou não eu recebo muitos emails principalmente de mulheres, dicas sexuais, e eu sentiria muita falta, até mesmo pelo blog. Me tornei famosa por causa do blog, e não faria sentido eu acabar com tudo isso”, ressalta.

“Acabei aprendendo que a Bruna Surfistinha faz parte de mim já, e eu preciso mantê-la viva. Talvez o personagem se torne mais do que um personagem, se torne uma marca”, complementa. E a marca já está no mercado. Não só nos livros e filme. Raquel lançou uma “sex shop” virtual, e disse que pretende continuar escrevendo. Mas a procura é somente uma. “Eu sou uma mulher sempre em busca da felicidade, sou muito feliz hoje”, resume Raquel Pacheco, ou Bruna Surfistinha, como queiram.