Na terça feira, 9 de junho, a morte levou a ex-deputada federal goiana, Nair Xavier Lobo. Junto a um legado de amor na atuação na vida pública, Nair era divorciada e deixou quatro filhos e cinco netos. A ex-deputada morreu aos 64 anos, em casa, no Alphaville, em Brasília. Há um ano, descobriu um câncer na glândula tireoide que fez metástase e culminou com sua morte.

Filha de um dos mais renomados advogados goianos de todos os tempos, Rivadávia Xavier Nunes e de Marina de Carvalho Brito, Nair pensou em seguir a carreira do pai e se formou em Direito, pela UFG. Com a graduação na mão, fez especialização em Direito Administrativo e Constitucional. A especialidade lhe valeu uma nomeação para a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás e ali descobriu a verdadeira vocação, a política.

Em 1990, a convite do então deputado José Gomes da Rocha, se filiou ao PRN: “Descobri, neste período em que estou trabalhando no parlamento estadual, que amo a política pois com ela posso dar mais de mim para que o povo tenha uma vida de mais justiça e respeito, e é com estas bandeiras que entro nesta nova empreitada”.

Mesmo vindo de um berço dos mais abastados do estado, Nair não quis viver vida de filha de rico. Tinha amizades simples, não exibia roupas de marca e, já na adolescência, realizava trabalho assistencial de distribuição de pães recheados com mortadela para moradores de rua do centro de Goiânia. Ela nunca usou este fato para fazer propaganda política. O PRN elegeu Fernando Collor de Melo, presidente da República. A incompatibilidade com as ações do presidente acabou gerando sua saída da sigla, indo para o PMDB, a convite de Maguito Vilela.

Nair foi uma mulher além do seu tempo. Enquanto muitos pregavam o neoliberalismo, ela falava em projetos que dessem ao Estado receitas extras. Foi em função disto que um dia convidou quatro deputadas a deixarem a sessão na Câmara Federal para se reunir com duas ufólogas norte-americanas. O assunto era a criação da Cidade Internacional do Conhecimento, em Alto Paraíso de Goiás. O projeto previa espaço para meditação e atividades místicas e de um observatório espacial. Alto Paraíso tem fama de ter em seu espaço a presença de naves extraterrenas. Nair não se interessava pela ufologia, mas acreditava que o projeto renderia muito dinheiro para os cofres públicos do município, através do turismo, sobretudo o internacional.

O projeto não deu em nada. É de sua autoria o projeto que assegura a licença-maternidade a quem assume o bebê, quando a mãe morre logo após o parto. A lei dá à mãe cinco meses de licença após o parto, para cuidar do recém nascido. Para aprovar este projeto, Nair travou dura luta com alguns parlamentares ligados ao setor produtivo. Quando conseguiu a aprovação, Nair fez um pronunciamento emocionado, citando as palavras de Gibran Khalil. “A vida pode ser de fato escuridão se não houver vontade, mas a vontade é cega se não houver sabedoria, a sabedoria é vã se não houver trabalho e o trabalho é vazio se não houver amor”.

Muito emotiva, ela terminou a fala com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Outro momento marcante na trajetória política de Nair Xavier foi a proposta de cassação do mandato do deputado alagoano César Talvane Albuquerque. Ele assumiu o mandato após a morte da deputada Ceci Cunha, de quem era suplente. Talvane foi acusado de ter assassinado Ceci para herdar o mandato. Nair se apossou dos documentos da investigação e entrou com o pedido de cassação em meio a muitas ameaças do grupo ligado ao deputado alagoano, entre os que brigaram com Nair estava o então deputado Jair Messias Bolsonaro. Nesta primeira investida, Talvane não foi cassado, mas logo ocorreu uma chacina no seu estado, onde morreram, entre outros, o viúvo e dois parentes próximos da deputada Ceci. As investigações mostraram que Talvane era o mandante da chacina. Desta vez, com 427 votos a favor, o alagoano foi cassado. “Vocês deixaram um homem/fera com o escudo do mandato e acabou dando no que deu. Estas mortes poderiam ter sido evitadas”, falou Nair Xavier, na época.

Nair também aproveitou a popularidade do rádio para divulgar suas ideias, através de um programete que apresentou na Rádio Brasil Central, intitulado Mulher com Nair Xavier. No espaço ela falava sobre direitos femininos, dava dicas de beleza e profissionais. Sempre muito carinhosa com as pessoas, muito emotiva e dona de elegância ímpar sem perder jamais a simplicidade, Nair era muito querida entre seus eleitores, sobretudo os mais pobres. Ela foi sepultada nesta quarta feira (10), no Cemitério Jardim das Palmeiras, em Goiânia.

Para homenageá-la, vou encerrar esta narrativa citando seu autor preferido, Gibran Khalil: “A morte deixa uma mágoa que ninguém pode curar, mas o amor deixa uma memória que ninguém pode roubar”. Um beijo, Nair!