O infectologista Boaventura Braz explicou em entrevista à Sagres 730 nesta segunda-feira (28), a cepa variante do SARS-CoV-2, o vírus que causa a Covid-19, que parece se espalhar mais facilmente do que as versões anteriores. De acordo com o infectologista, as variantes do vírus era esperada e essa cepa demostrou a capacidade de transmissibilidade maior que a anterior.

“Esse é um vírus que como qualquer outro, na medida que vai replicando aparecem mutações, e as mutações que são mais viáveis são as que sobrevivem”, afirmou. “Nesse caso, está claro que esse vírus tem se mostrado com essa cepa a capacidade de transmissibilidade maior que a anterior. Agora resta saber se isso vai implicar em uma piora do quadro clínico do paciente. Outra coisa que não sabemos, quais são as implicações que terá em relação às vacinas”.

Diversos países detectaram casos da nova cepa de coronavírus, descoberta inicialmente no Reino Unido há cerca de duas semanas. Canadá, Itália, Suécia, Espanha, Japão e Portugal notificaram nos últimos dias infecções desta variante, depois de França, Alemanha, Líbano e Dinamarca. De acordo com um estudo da London School of Hygiene and Tropical Medicine, a nova cepa é entre 50% a 74% mais contagiosa.

As mutações afetam quatro proteínas virais diferentes: a proteína spike, a ORF1ab, a Orf8 e a proteína N, uma das principais estruturas do nucleocapsídeo. “As alterações que foram observadas, foram na glicoproteína, a proteína chamada spike que é exatamente o ponto de ligação do vírus em relação à célula humana”. De acordo com Boaventura Braz, a nova variante pode se tornar mais difícil de ser neutralizado. “Há o risco que anualmente precise fazer uma revisão da vacina baseado nas mutações do vírus, mas ainda é especulação, ainda não dá para ter certeza com isso”.

Vacinação

No Brasil, alguns passos ainda precisam ser concluídos antes do início da vacinação, prevista para janeiro entre grupos prioritários. Questionado se há demora nas decisões do Ministério da Saúde sobre a vacinação, o infectologista afirmou que sim, e que esse atraso pode prejudicar a imunização da população contra a covid-19.

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“Infelizmente estamos atrasados, tanto atrasados que não conseguimos comprar a vacina da pfizer neste primeiro semestre. A pfizer mandou comunicado dizendo que não consegue fornecer mais vacina para ninguém porque todo estoque produzido já foi vendido, e olha que a produção da pfizer tem uma capacidade muito alta”, disse. “Quanto mais tempo nós perdemos, menor a probabilidade de conseguir proteger toda a população brasileira em 2021”, completou.