Na última quarta-feira estive em um dos estádios mais lendários do futebol mundial: José Alberto Jacinto Armando, mais conhecido como La Bombonera. Situado no subúrbio de Buenos Aires, no bairro de La Boca, La Bombonera é muito mais que a casa do time local, o famoso Boca Juniors, é um templo do futebol mundial e o maior orgulho de um bairro pobre, de gente humilde, mas fanática por futebol.
O que chama a atenção no La Bombonera não é uma arquitetura ousada, monumental ou moderna. Longe disso. O estádio passa por problemas estruturais sérios, só recebe jogos com torcida única porque não há como garantir a segurança de torcedores adversários, o acesso às arquibancadas é antiquado e desconfortável e algumas áreas estão interditadas para obras de melhorias que ainda não começaram.
A história, o torcedor, a paixão. Isso é o que torna o estádio José Alberto J. Armando no La Bombonera, o temido e imponente La Bombonera. 55 mil xeneizes literalmente se amontoam para gritar pelo Boca, seja na vitória ou na derrota. 3×0? Não importa para quem, o “Dale, dale, dale Boca, dale!” não cessa. Não, não cessa. Não à toa que a “hinchada” impediu que o atual presidente, Daniel Angelici, levasse à diante um projeto de transferir a casa do time para outro estádio, que seria construído no (petulante) padrão Fifa e com ampliação para 80 mil pessoas.
A magia que envolve a Bombonera está resumida em uma palavra de apenas seis letras: paixão. Talvez em outras duas mais, que também são essenciais para que o estádio sempre esteja em clima de festa, mesmo quando não há jogo: respeito e interesse, por parte dos dirigentes que entendem com o que estão lidando e o quanto aquilo é importante não só para uma torcida, mas para um bairro, uma cultura e um país. O sucesso do La Bombonera é a prova mais simples e pura que o futebol brasileiro está sendo gerido com extrema incompetência e já há algum tempo.
As desculpas que são usadas frequentemente no Brasil para justificar o público cada vez mais pífios nas “canchas” brasileiras são todas desmoronadas no La Bombonera. Um estádio antigo, perigoso, com uma estrutura ruim, apresentando jogos de um futebol em crise profunda e que vendem todos os lugares antes mesmo da temporada começar com um detalhe: os ingressos são vendidos apenas para sócios-torcedores. Quem consegue um bilhete para ver um jogo do Boca na Bombonera tem motivo para se orgulhar e tirar sarro dos amigos durante muito tempo.
O que falta no Brasil para que um Serra Dourada, inúmeras vezes mais estruturado que a Bombonera, seja um sucesso de público é isso. Respeito e inteligência por parte dos dirigentes dos clubes (não só goianos, como no Brasil todo), em saber respeitar a paixão do torcedor, o limite financeiro do povo brasileiro e atrair novamente o torcedor para os estádios. Aos torcedores, cabe entender que os tempos já não são os mesmos e não desistir do seu time porque hoje tem uma equipe inferior a que tinha há dois ou três anos atrás.
Paixão? Isso eu tenho certeza que os torcedores brasileiros têm, espero agora que me provem que é na mesma intensidade que a dos nossos vizinhos e rivais históricos do Rio da Prata.