Quanto chove em média anualmente?

Em Goiás a precipitação média anual está entorno de 1500 a 1600mm, concentrados principalmente entre os meses de outubro e março, ou seja, há duas estações bem definidas, sendo uma de seca e outra das chuvas.

Quais as alterações estão ocorrendo com as chuvas?

Contudo, ano após ano, identifica-se redução da ocorrência de precipitações, ou quando ocorrem, são concentradas e de maior intensidade. Em todas as situações é evidente que a disponibilidade hídrica tem diminuído.

O que é necessário para ocorrer chuvas?

É importante compreender, que para que ocorra chuva, alguns fenômenos devem anteceder, dentre os quais, a saturação do ar atmosférico, possibilitando a condensação e consequente precipitação da gota de chuva.

O índice mais conhecido para descrever o conteúdo de vapor d’água é a umidade relativa. A umidade relativa do ar é um indicador da possibilidade de ocorrência de chuva, mas também, em bons níveis, um indicador de qualidade de vida, visto que favorece inúmeros processos metabólicos e de bem-estar da população. Se o conteúdo de vapor d’água permanecer constante, o decréscimo na temperatura aumentará a umidade relativa e o aumento na temperatura causa diminuição na umidade relativa. Isto porque o ar quente se expande e aumenta a capacidade de reter umidade. Ao contrário, o ar frio, se comprime, saturando-se mais facilmente. Neste ultimo caso, o funcionamento de um ar condicionado exemplifica, ao resfriar o ar retirado do ambiente, libera água retida do ar mais quente.

Quais as principais origens das chuvas que caem em Goiás?

Sendo assim, destaca-se que as chuvas que ocorrem em Goiás têm duas origens principais;

Proveniente das frentes frias oriundas do sul do país, especialmente do polo sul; e Proveniente das massas de ar úmidas da Amazônia;

As frentes frias e úmidas provenientes do polo sul, com força para alcançar a região central do Brasil, resultam em precipitação no Estado de Goiás.

Da mesma forma, as massas de ar provenientes do norte do país, chegam a Goiás com umidade e temperatura elevadas, bastando apenas, encontrarem uma condição local de menor temperatura para o ar se comprimir e liberar as gotas de chuva.

Por sua vez, solo e vegetação complementam este ciclo hidrológico, garantindo infiltração e os processos de evaporação (solo) e transpiração (plantas), ou seja, a evapotranspiração. Será tanto maior e mais frequentes as precipitações, quanto maiores forem os processos de infiltração e evapotranspiração.

Então, com solo impermeabilizado e ausência de vegetação as gotas da chuva, quando ocorrem, rapidamente são drenadas aos córregos e em até 15 dias atingem os pontos mais baixos, os oceanos.  Por sua vez, sem água infiltrada e sem vegetação, dificultam-se os processos de evapotranspiração, não reestabelecendo a umidade relativa do ar necessária para futuras precipitações.

Um fator bloqueador é a massa de ar quente que permanece sobre o Estado de Goiás e a parte central do país, que impedem a chegada de frentes frias e úmidas provenientes do Sul, bloqueando-as na região sudeste, ocasionando chuvas torrenciais e de elevada intensidade e posteriormente, deslocando-se para o oceano atlântico.

Da mesma forma, quando o ar está aquecido, ele se expande aumentando a capacidade de reter umidade. Entretanto sem a umidade presente, não ocorre a saturação. Para piorar a umidade que viria da Amazônia, não mais chega na intensidade esperada, especialmente em função dos desmatamentos e alterações o uso e ocupação do solo na região norte do país. Neste caso, o ar demora muito a se saturar e quando ocorre, a tendência é precipitação torrencial, intensa em curto espaço de tempo. A demora na saturação do ar pela falta de umidade também conduz a chuvas ocasionais, de menor frequência temporal.

Que soluções podem mitigar o problema da escassez das chuvas?

Fatalmente, a tendência futura nos reserva escassez hídrica, simplesmente por fatores como crescimento populacional e maior demanda para as atividades produtivas. Entretanto, não são apenas estes fatores que determinam a disponibilidade de água. Ressalta-se os constantes processos de degradação ambiental e comprometimento da qualidade da água, que afeta sua disponibilidade. Acrescenta-se os constantes desmatamento, retirada da mata ciliar, comprometimento das nascentes e impermeabilização do solo. 

Diante destes fenômenos, algumas soluções podem ser relacionadas:

– Aplicar os instrumentos da política nacional de recursos hídricos: plano de recursos hídricos, outorga de água, cobrança dos recursos hídricos, enquadramento dos corpos hídricos e sistema de informações.

– Fiscalização e monitoramento dos recursos hídricos

– Manutenção da mata ciliar, área de preservação permanente, e da reserva legal.

– Propagação de programas como produtor de água.

– Pagamento por serviços ambientais prestados pela natureza.

– Incentivo à construção de barragens de água

– Implantação de bacias de retenção e infiltração de água

– Adoção de práticas de infiltração de água no solo

– Educação ambiental para uso racional da água.

Muitas podem ser as ações voltadas para melhoria da qualidade e quantidade de recursos hídricos disponíveis. Entretanto, em situações de crises hídricas, não basta somente orar, rezar para São Pedro pedindo que nos envie água, mas é importante recordar os ensinamentos de São Francisco de Assis, que a prática de preservação é mais eficiente e barata que a necessidade de remediação.

Antônio Pasqualetto é doutor em engenharia agrônoma, professor da PUC Goiás e do IFG e coordenador do mestrado em desenvolvimento e planejamento territorial.