Por Vassil Oliveira
A única oposição ao governador Marconi Perillo (PSDB) hoje em Goiás é Marconi Perillo. Os partidos que teoricamente são contrários ao seu governo, na prática nem discurso têm. Os principais integrantes de sua administração, que teoricamente é coesa, na prática batem cabeça e brigam entre si.
Marconi mesmo, vira e mexe, produz notícia negativa que poderia desestabilizá-lo, mas logo retoma o controle da situação. Na prática e na teoria, ele segue inabalável.
Na perspectiva de 2014, três potenciais adversários de Marconi mais parecem propagadores de suas qualidades. E líderes tradicionais do Estado pouco influenciam na tentativa, até agora frustrada, de uma ‘resistência’ política oposicionista que abra perspectiva de poder no longo ou no médio prazo.
José Batista Júnior, o Júnior Friboi (PSB), movimenta-se no Estado com olhos pregados na sucessão estadual. Porém, sustenta um discurso inusitado: ele quer juntar Marconi e o ex-governador Iris Rezende (PMDB), adversários históricos, no mesmo palanque, em torno de seu nome.Elogia os dois. Dialoga com os dois. Avisa que não vai atrapalhar nem um nem outro ano que vem. Se houvesse um terceiro nome nessa história, também seria procurado por Júnior.Vanderlan Cardoso, terceiro colocado na disputa do ano passado e recém-filiado ao PMDB, carrega a bandeira da renovação peemedebista, mas curiosamente enfrenta forte oposição exatamente em seu próprio partido.
Há poucos dias, ele criticou a legenda e avisou que, do mesmo jeito que entrou, pode muito bem sair. Nada aconteceu de relevante desde então, a não ser mais viagens pelo interior bancadas por ele. Vão em seu avião os mesmos nomes que, em particular, ele critica.
Contra Marconi, Vanderlan até arrisca um discurso com críticas pontuais, mas tímido para quem quer liderar uma tomada de poder. É uma oposição de vez em quando, e em discursos pelo interior.
Contra a resistência em seu partido, Vanderlan pouco faz. Espera. Espera que Iris cumpra a promessa de lhe dar o comanda da legenda.
Em outros tempos, Henrique Meirelles esperou que Iris lhe garantisse a candidatura ao governo. O que aconteceu? Iris saiu candidato e perdeu a disputa para Marconi. Meirelles, na semana passada, mudou de partido – foi para o PSD – e de Estado – seu domicílio eleitoral voou de Anápolis para São Paulo.
Rubens Otoni, deputado federal pelo PT, é um nome considerado bom por todos, inclusive por articuladores do governo estadual. Mas, não bom o suficiente a ponto de estimular uma unidade partidária ampla, ou capaz de entrar na cota dos que metem medo no adversário.
Para dificultar, no início deste mês a Revista Veja deu destaque à condenação do deputado em primeira instância por suposta transferência de uma empresa para um ex-funcionário com o objetivo de não ter de arcar com suas dívidas. O fato repercutiu.
Como Vanderlan, Otoni arrisca algumas frases contra o governador. De efeito zero. Otoni costuma ir até o ponto em que sua ação não atrapalha a candidatura à reeleição de seu irmão, Antônio Gomide, em Anápolis.
Lá, no ano passado, Marconi obteve votação avassaladora. Gomide, por seu lado, vai na mesma direção: fala apenas quando incomodado, com discurso firme, mas de pouco alcance.
Nenhum destes três pré-candidatos ao governo, por exemplo, levantou a voz com consistência para criticar ou questionar as idas – com farta comitiva – do governador ao exterior este ano.
Dia 6 último, Marconi Perillo voou para Roma, Itália. Terceira viagem neste semestre. Foi para um evento empresarial, e não em missão governamental. Teve de explicar que o custo não era bancado pelo Estado. Mas foi.
Prato cheio para a oposição: Marconi viaja no momento em que Goiás vive apagões elétricos, consequência de falta de investimentos da Celg, a empresa de energia do Estado, em seu sistema.
A mesma Celg que poderia ter sido ‘salva’ – no discurso esboçado e não muito utilizado pelos poucos críticos – no ano passado, com um empréstimo de R$ 3,7 bilhões do governo federal, mas que ficou sem o dinheiro porque o tucano ameaçou não pagar a parcela de um empréstimo que a Caixa faria para viabilizar justamente o empréstimo.
Alguém se manifestou com força? Alguém protestou com veemência? Alguém aproveitou para marcar um gol político com o que poderia ser caracterizado como bola murcha de Marconi? Alguém… Quem?
O deputado Luis César Bueno, do PT, até que fez reparos às viagens. Falou, falou. Apanhou sozinho da estrutura política e de comunicação do governador.
Falta líder
Nomes de frente da política de Goiás também se calam, ou, quando falam, nada dizem.
O ex-prefeito de Goiânia e ex-governador Iris Rezende, em entrevistas pontuais, toca em assuntos que poderiam constranger o governador, mas ou fala por metáforas, ou fala vagamente, sugerindo irregularidades. Nada de discurso direto.
No início deste mês, Iris deixou claro o limite de oposição. Disse em entrevista ao jornal Tribuna do Planalto que não faria qualquer comentário sobre o governo por ter perdido a eleição no ano passado. Lavou as mãos. Com categoria.
O ex-governador Alcides Rodrigues (PP), maior alvo marconista nos últimos tempos, está recluso em sua fazenda. Deu uma única entrevista este ano, depois se calou e fincou pé em sua cidade natal, Santa Helena, onde sua mulher, Raquel Teixeira, é prefeita reeleita.
Alcides está quieto, não lidera qualquer articulação oposicionista no Estado, por menor que seja, nem mostra vontade de voltar à política. Sem precisar dizer, dá-se como aposentado.
Maguito Vilela (PMDB), ex-governador e hoje prefeito de Aparecida de Goiânia – segundo maior colégio eleitoral do Estado –, faz pior, para quem é de um partido que se arvora de oposição.
Maguito, que foi derrotado duas vezes pela força marconista na disputa pelo governo, em vez de fazer um reparo, meia crítica que seja, aos ato de Marconi, prefere elogiá-lo. E enquanto o PMDB chama o tucano de ditador, Maguito o define como “democrático”.
Por trás da ‘estratégia’ do prefeito, candidatíssimo à reeleição, estaria uma esperteza: não ser atacado agora pela máquina de comunicação do governo; deixar para apanhar lá na frente, mais perto da disputa. Ou não.
Entre peemedebistas é comum ouvir que o objetivo de Maguito é outro: voltar ao Senado em 2014. Para isso, ele estaria apostando em uma aliança com o tucano, que, claro, não descartou.
Fato: do jeito que vai, Maguito está mais para ‘cabo eleitoral’ antecipado da reeleição de Marconi.
Oposição em Goiás poderia ainda atender pelo nome de Paulo Garcia, prefeito da Capital, Goiânia, e do PT do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, ambos adversários declarados de Marconi Perillo.
Mas o prefeito não quer brigar. Tomado pela esperteza de Maguito, Paulo quer paz e amor agora, talvez combate lá na frente. Talvez.
Porque se o tucano acenar com apoio ano que vem, a conversa pode prosperar, admitem seus aliados. Tudo pela reeleição, avisam, sem titubear.
Profissão de fé no Paço Municipal: o governador acenou que pode apoiar Paulo como uma política de boa vizinhança que lhe abra caminho para uma reaproximação com Dilma. Amém!, dizem os articuladores do prefeito.
Munição é farta
Munição para uma oposição a Marconi é o que não falta. Fora o caso das viagens ao exterior e os problemas com a Celg, há questões em aberto no Estado que, no mínimo, geram polêmica e, em consequência, têm potencial para desgastar o governador.
Como o debate envolvendo as reestruturações da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e do Ipasgo, o instituto de assistência à saúde dos funcionários públicos de Goiás. Os dois assuntos estão na pauta do dia no Estado. E passam longe da unanimidade.
O governo anterior chegou a entregar a gestão do Ipasgo aos servidores, mas o atual não cumpriu a determinação. E agora promove mudanças profundas que vêm provocando desgaste direto para Marconi – pequeno, diante da dimensão do fato.
No que se refere à UEG, a discussão envolve tanto o tipo de mudança quanto a forma – de cima para baixo – como ela está sendo feita. A UEG é uma marca forte do primeiro governo Marconi. Portanto, o desgaste aí também é, ou poderia ser, grande.
Jogo duro versus jogo mole
Um conceito recorrente em Goiás é o de que Marconi Perillo continua vencendo eleições porque é trabalhador.
Outro é que a oposição não ganha uma porque não se organiza e não se une para o embate, como em 1998 (lei mais abaixo). Pois é. Os dois conceitos pressupõem o que os fatos, enfim, apontam: a oposição anda preguiçosa e amedrontada, no Estado.
Marconi joga com a força do poder o tempo todo. Cobra lealdade e impõe condições a aliados antigos e adesistas, sem distinção.
Ex-peemedebistas que o apoiaram no ano passado tiveram de elogiá-lo em público e renegar o passado irista. Passada, a eleição, tiveram de fazer o mesmo.
Marconi também cria e dá facilidades a parlamentares com uma mão, por exemplo, e tira com a outra ao menor sinal de contrariedade.
E quando um parlamentar ergue a voz para reclamar, como o fez recentemente Cláudio Meireles – presidente da CPI que investigou as contas do governo passado –, é alvejado por todos os lados nos veículos que lhe são fiéis.
Cláudio queria o óbvio, na cartilha marconista. Mais atenção, no entender de uns. Mais ‘ajuda’, no entender de outros, os governistas. Mais?
Nessas ocasiões, o deputado, bom e leal na louvação de colunas e editorias governistas, vira traidor e ingrato da noite para o dia. Literalmente.
Em se tratando de imprensa… No ano passado, antes mesmo de a campanha começar, Marconi agiu com mão de ferro nessa área.
Foram muitos os jornalistas, ou não jornalistas, processados por conta do crime de fazer, em artigos, “propaganda negativa antecipada” contra ele. A expressão entre aspas é da lavra de seus advogados.
História
Em 1994, a chamada oposição goiana se dividiu e o PMDB venceu a disputa pelo governo com Maguito Vilela.
Em 1996, pela primeira vez os oposicionistas se juntaram e ganharam a Prefeitura de Goiânia com Nion Albernaz (PSDB). Foi uma espécie de teste, para a prova de fogo dois anos depois.
Em 1998, novamente unida, a oposição derrotou o PMDB e um candidato, Iris Rezende, que largou com cerca de 80% das intenções de voto e tinha o governo do Estado a seu favor. Quem era o candidato? Marconi Perillo.
Marconi foi candidato por acaso. Por exclusão, na verdade. Ele só foi escolhido porque outros nomes mais fortes se recusaram. Por pouco, inclusive, ele teria ficado do outro lado, já que tentou ser vice de Iris e foi rejeitado.
A aliança com Iris era uma vontade expressa do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Sorte de Marconi, que pegou uma unidade ampla anterior ao seu sim como candidato e um ambiente em que ninguém queria enfrentar Iris.
Deu no que deu.
Esperança e fé
Nem a “oposição” que o governo faz a si mesmo é explorada pelos adversários de Marconi Perillo.
Desde o início do ano, não passa um mês sem que se tenha notícia de embates nos bastidores entre secretários, auxiliares diretos do tucano e parlamentares.
Já se estranharam – muitas vezes em público –, por exemplo, o secretário da Fazenda, Simão Cirineu Dias, e o do Planejamento e Gestão, Giuseppe Vecci; o chefe da Casa Civil, Vilmar Rocha, e o presidente da Assembleia, tucano Jardel Sebba; e o presidente da Agepel (Agência Goiana de Cultura), Gilvane Felipe, e o coordenador do Centro Cultural Oscar Niemeyer, Nasr Chaul. E não foram os únicos.
As guerras de bastidores rendem, promovem amplo debate, porém tudo também nos bastidores. A esperança dos que sonham com a derrota futura de Marconi é que esteja em andamento o que definem como “reação silenciosa” ao tucano.
Seria protagonizada por populares insatisfeitos com o governador, mas que não teriam coragem de se manifestar publicamente. A “resposta” a ele viria nas urnas, em 2014.
A mesma esperança embalou os peemedebistas em 2001, quando o governador pensava na reeleição que se daria no ano seguinte mas estava bem atrás nas pesquisas de intenção de voto, e em 2006. Em vão.
Sempre a referência se repete: foi a “reação silenciosa” que enganou o próprio PMDB em 1998, quando Iris Rezende perdeu a disputa para Marconi Perillo. Realidade estrondosa: desde então, Marconi não perdeu uma.
O seu poder de reação em todos os momentos em que se mostra em baixa, como se acredita agora – o evento de Catalão aponta que ele vive inferno astral, juram –, é proporcional à fé cega dos adversários.
Resistência, ainda que tímida
Para não dizer que tudo são flores no caminho de Marconi Perillo, na Assembléia Legislativa há uma mínima resistência, ainda que não se possa chamá-la de oposição.
Ironia: um de seus cavaleiros solitários é o filho de Maguito Vilela, deputado Daniel Vilela (PMDB), que vez ou outra é inclusive desautorizado pelo pai em suas críticas ao governador tucano.
Daniel não chega a dar trabalho, mas incomoda, assim como os deputados Wagner Siqueira (PMDB), Luiz Cesar Bueno e Mauro Rubem (ambos do PT), e Francisco Gedda (PTN).
Em tese, a oposição na Casa é até maior; na prática, se resume a estes nomes e a um ou outro que vez ou outra se arvora contra, para depois contemporizar – ou porque obteve o que queria, ou porque, digamos, pensou melhor.
A Assembléia tem 41 deputados. O governo tem a caneta. Faz o que quer.
O governo só não faz o que quer nas redes sociais. Aí a disputa muitas vezes chega a ser desequilibrada contra o tucano.
Mas é uma ação, ou reação, desarticulada, muito mais fruto de descontentamentos pontuais com a administração ou com integrantes do governo.
Os poucos assessores que agem de forma profissional, como os do PMDB, o fazem sem foco e sem objetivo definido, a não ser o de falar mal de Marconi, indistintamente. Nada de discurso consistente.
Nas redes, Marconi apanha mais por conta de sua desastrada política de comunicação, agressiva, do que pelos méritos de seus adversários.
Um exemplo recente é o vídeo com um bate boca entre o governador e Leonardo Bueno, presidente da Irmandade Nossa Senhora do Rosário, em Catalão, cidade onde a guerra entre PMDB e PSDB é acirrada.
Bueno omitiu o nome de Marconi durante uma missa, ao agradecer os que ajudaram a tradicional festa de Nossa Senhora do Rosário. O tucano, que contribuiu com R$ 100 mil, não gostou. E quase foi aos tapas. O vídeo ganhou imenso destaque no Estado e fora.
Nas redes, os peemedebistas deitaram e rolaram com o fato. Não passaram, porém, das piadas e cutucões. Os governistas é que se atrapalharam, tentando negar o inegável e desqualificar Bueno, como se Marconi não estivesse na gravação.
Como as imagens falam por si, resultado: tanto a ação peemedebista quanto a reação marconistas ficaram caricatas. Nas redes, repetiu-se o que se viu no vídeo: um desqualificado bate boca.
Em todo caso, a democracia na rede funciona. O controle da imprensa da máquina marconista, ali, é limitado.
Mais: a reação “popular”, a contrário do que sonham os peemedebistas, não é silenciosa. Só não é eficiente. Ainda.
Pré-candidatos alegam: não é hora de brigar
Os candidato a enfrentar Marconi Perillo em 2014 têm variadas frases de efeito na ponta da língua e a mesma explicação para o obsequioso silêncio de agora: não é hora de colocar “o time em campo”, “as manguinhas pra fora”, “o bloco na rua”, etc.
Agora é hora de conversar, de andar pelo Estado, de se estruturar.
A mesma opinião tem os ex-governadores Iris Rezende (PMDB) e Alcides Rodrigues (PP), segundo seus mais frequentes interlocutores.
Empresário de sucesso, Vanderlan Cardoso (PMDB) segue as orientações de Iris. Ele faz viagens regulares pelo interior, ouve bastante e procura criar raiz no partido.
Enquanto isso, briga por espaço na cúpula da legenda, à espera da promessa de que será o presidente “em breve”, e se desvia como pode dos pedidos de dinheiro que chegam a toda hora, feitos pelos correligionários, às vezes disfarçados de ajudas de custo “para a pré-campanha”.
José Batista Júnior (PSB) também conversa, articula, oferece ajuda estrutural e foge de investimentos políticos de retorno duvidoso. No entanto, é até mais procurado, por ser mais generoso no diálogo.
Júnior principalmente fala, buscando deixar claro que desta vez é pra valer sua disposição de buscar o poder. Nas últimas eleições, ele foi citado como possível candidato, mas não levou à frente o intento. Garante: agora, vai!
O trabalho mais consistente na relação com as chamadas bases é desenvolvido pelo deputado federal Rubens Otoni, do PT. Otoni viaja pelo interior, faz reuniões e conhece Goiás como poucos.
Seu discurso é o mais articulado e a sua equipe, a mais coesa. Até porque ele mantém estrutura política desde o primeiro mandato (está no terceiro), ao passo que Vanderlan e Batista Júnior sequer organizaram o grupo particular de apoio.
Essa é a oposição em Goiás pronta para tomar o poder. Enquanto isso, Marconi Perillo governa.
Publicado no blog do Vassil: www.vassil.com.br