Norberto Salomão
Norberto Salomão
Norberto Salomão é Advogado, Historiador, Professor de História, Analista de Geopolítica e Política Internacional, Mestre em Ciências da Religião e Especialista em Mídia e Educação.

Os principais desafios do próximo presidente

Não se pode negar que vivemos tempos difíceis para a democracia, no Brasil e no mundo. Toda aquela construção do pós-Segunda Guerra Mundial tem passado por uma verdadeira “prova de fogo”. Os ataques têm sido constantes e muito duros contra o pluralismo político; o multilateralismo; a manutenção do estado de direito e a separação, independência e harmonia entre os Três Poderes. Muitos estão confundindo discursos autoritários como sendo proposta de garantia de segurança, de combate à corrupção e de defesa da ordem social. Infelizmente é uma tendência que vem ganhando adeptos em várias partes do mundo.

É em meio a esse quadro que o Brasil realizou o 2º turno da eleição presidencial. As campanhas foram marcadas por duras acusações, inúmeras fake news e debates extremamente improdutivos em relação às propostas dos candidatos sobre como iriam conduzir seus possíveis governos. Mas, apesar de toda essa gama de eventos internos, nossa análise visa compreender qual o cenário internacional que o novo presidente vai encontrar.

O quadro que se apresenta para 2023 é bastante preocupante, e certamente os governantes precisarão adotar atitudes muito bem planejadas e assertivas, para poder enfrentar problemas como: a interminável Guerra da Ucrânia; a queda de crescimento chinês e as tensões em Taiwan e Hong Kong, que são polos econômicos significativos. Além disso, há uma Europa que vive um inegável quadro de recessão econômica, com escassez de produtos, elevação dos índices inflacionários e aumento das taxas de juros.

A eleição do presidente Lula, com uma vantagem apertadíssima (50,88% contra 49,12%) no 2º turno, torna a nova gestão do governo brasileiro muito suscetível às pressões tanto no campo interno quanto nas ações que envolvam a política internacional. Assim, o novo presidente eleito e sua equipe devem estar atentos para adotarem estratégias que reduzam essa vulnerabilidade. Ações voltadas para fortalecer os compromissos internacionais ao meio ambiente e a proteção da Amazônia e dos Povos Originários poderão recolocar o Brasil como ator importante no contexto global.

Cabe destacar que a vitória da coligação liderada pelo petista faz com que o Brasil integre o grupo de países sul-americanos que fizeram uma guinada para a esquerda e centro-esquerda como Peru, Argentina, Chile e Colômbia. Porém, tudo dependerá da maneira como estabelecerá seu discurso e suas relações com Cuba, Venezuela e Nicarágua. Qualquer passo em falso pode ser fatal.

Outro aspecto crucial será o “jogo de cintura” que o novo governo do Brasil terá que fazer para conciliar os interesses diplomáticos e econômicos em meio às intensas e tensas relações entre os EUA e China, duas nações fundamentais para os variados interesses brasileiros. Em relação à União Europeia será necessário restaurar importantes laços com a França e Alemanha, que ficaram muito estremecidos durante a gestão Bolsonaro.

Certamente o Brasil será “convocado”, pelos países ocidentais, para uma espécie de cruzada para fortalecer o sistema multilateral e os princípios democráticos estabelecidos na Carta da ONU e na Carta de Diretos Humanos. Óbvio que isso terá que ser feito com muita habilidade, para não ferir os interesses de parceiros do Brics, como Rússia e China. Não será uma tarefa fácil, mas aponta para o retorno do Brasil à sua histórica tradição diplomática.




Norberto Salomão é advogado, historiador, mestre em Ciências da Religião, professor de História, especialista em Mídia e Educação e especialista em Geopolítica.

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