Há 15 anos o Vila Nova não conquista o título da primeira divisão do Campeonato Goiano. Na época, o clube era presidido por Leonardo Rizzo. Membro do Conselho de Administração de Patrimônio, o empresário voltou a fazer parte da direção do clube nesta temporada através da gestão liderada por Hugo Jorge Bravo, atual presidente executivo.

Responsável por conduzir trabalhos de melhorias na estrutura do clube, no estádio Onésio Brasileiro Alvarenga e no CT Toca do Tigre, Rizzo sonha além do objetivo inicial da direção – voltar à segunda divisão do Campeonato Brasileiro – e quer o clube na Série A. De preferência, com o time em campo no Serra Dourada sob o comando do seu “ídolo”, Bolívar. Também sem esquecer dos rivais, Atlético Goianiense e Goiás.

Ao Sistema Sagres de Comunicação, o dirigente falou com o comentarista Charlie Pereira sobre esses e outros assuntos. Confira a conversa.

Trabalhos na estrutura do clube e projeto para o Serra Dourada

Inicialmente, em relação ao título de 2005, Leonardo Rizzo lamentou que “realmente faz um tempo que fomos campeões”, e ponderou que “quando estive à frente da presidência do Vila Nova, uma coisa tão eletrizante e prazerosa que nem vimos como passou os dois anos, fizemos um trabalho interessante, porque também demos um ‘start’ na construção do CT. Achei que dali para frente seria maravilhoso, porque o (Carlos Alberto) Barros me substituiu, e foi um consenso geral”.

Na ocasião, “achávamos que iríamos fazer um formato empresa, como pretendemos hoje, e preparar o clube para que possa receber esses tipos de investimento e ser um clube competitivo a nível nacional e mundial. Hoje, esse é o caminho para os clubes de futebol e o Vila está se preparando para isso. Tenho um prazer imenso de estar hoje na diretoria e fui nomeado pelo Hugo com a missão de entregarmos até o final da sua gestão todo o departamento amador e grande parte do setor profissional concluído”.

“Na segunda etapa, e espero que o Hugo seja eleito por mais dois anos, aí sim entregaríamos o CT totalmente pronto. Poucas pessoas sabem, mas dentro do CT temos uma arena programada de 22 mil torcedores ‘prontinha’, já totalmente escavada. Com esses pré-moldados que estão fazendo depois da Copa, podemos fazer uma arena com um custo extremamente interessante. Mas confesso que não faria essa arena lá. Todo dinheiro que pudéssemos ter eu daria para a recuperação e restauração do Serra Dourada”, revelou.

“Em um momento oportuno, queremos fazer uma proposta séria ao governo de arrendarmos a praça para transformar o espaço em uma arena multiuso de primeiro mundo. Ao mesmo tempo, o time que gostaríamos que fosse dono daquela casa seria o Vila Nova, já que o Goiás tem a Serrinha e o Atlético tem o Accioly. Onde é o OBA, queremos fazer um grande centro de treinamento para crianças, com escolinhas de 4 anos para cima, até 12 anos. O campo do OBA seria fatiado em vários campinhos para isso”, completou.

Dessa forma, “temos a opção de levar o OBA para o CT e termos o Serra Dourada, mas isso é uma coisa que estou antecipando de um diálogo de daqui a dois anos. Por ora, queremos concluir o CT. Mas o nosso projeto é esse, porque um estado e uma cidade como Goiânia, que tem um Serra Dourada, os clubes investirem nas suas próprias arenas é um sinal de que as coisas não vão bem. Um estádio como o Serra Dourada merece todo o respeito nosso”.

Especificamente sobre o projeto no Serra Dourada, explicou que “seria uma oferta para fazermos um investimento de restaurar a praça e fazer o uso dela com um arrendamento de X anos, renováveis por mais X anos. Obrigatoriamente, teríamos que ter uma arena de primeiro mundo e já sabemos como deve ser feito: rebaixar o gramado, algo por volta de 3 metros, avançar com a geral, como se fosse arquibancada, e, externamente, a coisa funcionaria muito como um museu da história do futebol goiano e do Vila Nova”.

Sonho da Série A

Em um cenário ideal, o sonho de um Serra Dourada administrado pelo clube seria complementado por outro desejo: a Série A. Para isso, o treinador Bolívar “é a cara do Vila. Vou defender essa ideia com o Hugo e vou convidá-lo logo logo em um jantar na minha casa com o Bolívar e a comissão técnica dos dois. Quero conversar com eles no sentido de fazermos um contrato com ele (Bolívar) até a Série A. Quero que ele esteja conosco nessa caminhada e que seja um técnico reconhecido nacional e internacionalmente”.

Leonardo Rizzo complementou ainda que o atual treinador colorado “tem as características que queremos: é um profissional trabalhador, e olha que nunca falei com ele, mas sei só de observar o dia a dia do trabalho. A minha função aqui é dele ser o meu ídolo, e sobre o meu ídolo eu sei tudo. O meu ídolo talvez não saiba que eu exista, mas pode ter certeza que existo e sei tudo dele. E ele é meu ídolo: se tivesse que acertar um técnico no Brasil seria ele, e acertamos”.

Relação com Hugo Jorge Bravo

Na nova gestão, os papéis foram invertidos e hoje é Rizzo quem responde ao presidente, com que tem uma “relação de amizade, companheirismo, admiração e respeito. Quando fui presidente, o Hugo era presidente de torcida, um garoto. Sempre tivemos essas ideias e ele também sempre quis presidir o Vila Nova, então estar ao seu lado é uma honra e um prazer. Usufruir da credibilidade que ele tem também é um prazer, e as coisas se tornam mais fáceis. Pedir em nome do Hugo é como se estivesse pedindo para mim”.

“Hoje diria, sem sombras de dúvidas, que, com o grupo que está no Vila Nova, teremos muita dificuldade para substituir o Hugo, porque o número de pessoas que querem é muito grande, e pessoas que talvez vocês nunca tenham ouvido falar. São garotos muito competentes, que resolveram abraçar o Vila Nova. O Hugo, costumo dizer, é o padrinho desse grupo todo. Ao Hugo, muita saúde, prosperidade e firmeza para conduzir como ele tem conduzido, e tenho certeza que esse caminho é o caminho da vitória”, completou.

Além de Leandro Bittar, segundo vice-presidente de Hugo Jorge Bravo, “temos o Olímpio Jayme (Neto) e o João Pedro (Ferro), filho do Sizenando, que estão fazendo um trabalho nas categorias de base que me impressiona. No patrimônio, o (Fernando Henrique) Mussi e o Vinícius Marinari. No conselho, o Décio (Caetano) e, como vice, o Daniel de Paula, que hoje é o melhor expert financeiro da XP do Centro-Oeste”.

Rivalidade com Atlético Goianiense e Goiás

Entre a tradição do Goiás na Série A e o crescimento do Atlético, questionado sobre o que aprender com os exemplos dos rivais, Rizzo frisou que “é muito simples: é um projeto que tem continuidade. É bem verdade, a reestruturação do Atlético veio toda em cima de um poder político muito forte. Não podemos esquecer do Wilson (Carlos), do Valdivino (José de Oliveira), do Jovair (Arantes), que sempre esteve ali, do (Luiz) Bittencourt. E o Adson Batista é um menino iluminado”.

Apesar do desejo de já ter contado com o atual presidente rubro-negro, o dirigente ressaltou que não pensa mais assim, “porque o Adson, embora seja vencedor, não é mais o perfil do grupo que queremos no Vila. O Adson é um executivo e, se sair do Atlético, terá bons empregos em qualquer clube do Brasil. O Vila Nova, com essa estrutura que tem hoje, não precisa mais do Adson, e olha que sou fã e conheço todo o histórico dele. No Vila Nova, o ‘cara’ tem que ser identificado, tem que amar e não pode ser dividido”

O clube “será administrado como empresa S/A, com balanço e transparência, e, nessa parte de futebol, o que mais tem são pessoas que entendem, gostam e amam o Vila, e essa coisa não pode ser terceirizada. Vejo um exemplo muito bom do Hailé em relação às categorias de base: é um olho muito especial. Se você pensar bem, o Hailé faz do Goiás o que faz com a sua propriedade rural: ele cuida com carinho. Tem as melhores vacas e trabalhou para isso. Esse é o perfil do dirigente do Vila que temos hoje, e o Hugo é isso aí”.

“Não é porque ele (Adson) não é torcedor do Vila, o problema é que hoje é um executivo da bola, e o Vila precisa de uma pessoa identificada, não de um executivo. O que precisamos é de pessoas que entendam de jogador. O Adson entende de jogador, mas ele é mais executivo e temos profissionais melhores. Acho o Hugo melhor do que o Adson, até em futebol. Não tem um jogador no Brasil que o Hugo não conheça, e desde 2000 que conheço esse menino. Nosso time que formamos ele montou com o Osvaldo Pascoal”, acrescentou.

Ainda sobre Adson Batista, afirmou que é “um dos melhores profissionais hoje no mercado, mas não é o perfil do Vila. Ele não caberia, porque no Vila é diferente. O Vila é uma nação, e o Atlético é um quarteirão. No Atlético, tem ele e o Jovair: ele decide o que faz, pronto e acabou. No Vila, não. O Vila é o time do povo, tem um milhão de pessoas. Tem pessoas que contribuem e querem saber, então é cobrado, e ele não teria esse espaço no Vila para trabalhar, porque é preciso tempo”.

Já acerca de Atlético e Goiás, “os vejo bem, mas tenho uma definição sobre isso: o Goiás é elite e, como toda elite, um dia cairá. O Atlético é político e, como toda elite, o político um dia cairá. O Vila é o povo e, como todo povo, sempre tem razão e o poder, desde que esteja unido. O Vila é isso. Unido, vejo o Vila, e tem que respeitar a todos os co-irmãos, os respeitamos e consideramos, mas vamos passar por cima. Pode ter certeza”.

Confira a entrevista de Leonardo Rizzo à Sagres na íntegra