Realizada anualmente no Carnaval, a Confraternização das Campanhas de Fraternidade Auta de Souza (Concafras) 2023 começará neste sábado (18). O ex-delegado, advogado e coronel aposentado da Polícia Militar (PM) José Carlos Fiorido, 70, vai palestrar este ano na cidade de Belo Horizonte, na segunda-feira (20). Ele ressaltou a importância do evento.

“Nós vamos apresentar esse ano um trabalho inédito. Em São Paulo também foi um inédito, que foi a cartilha capixaba de assistência ao preso. Essa cartilha ganhou notoriedade nacional e com ela a Federação Espírita Brasileira (FEB) produziu uma equipe de trabalho, que fiz parte, para produzir uma cartilha nacional de orientação ao sistema penal. Então são duas novidades: primeiro essa cartilha da FEB e nela um outro elemento que foi acrescido, que é a assistência ao sistema socioeducativo”, contou.

“Penso que o movimento espírito que a Concafras, o que destaca para mim é o espiritismo prático. A doutrina tem o aspecto filosófico, científico, mas tem o moral, que não é falada, e sim vivenciada. A experiência que estou aprendendo na Concafras é exatamente nessa oportunidade de popularizar o espiritismo, tirá-lo de dentro do centro espírita, fazer com que alcance a população”, completou.

Nascido em Castelo (ES), José Carlos Fiorido mora na capital Vitória há mais de 30 anos. Ele também tem experiências de morar fora, como em Minas Gerais, São Paulo, Rio Verde (GO) e Brasília, onde trabalhou na Inteligência da polícia e fez pós-graduação em áreas do direito na Universidade de Brasília (UnB).

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Espiritismo a reeducandos

Um trabalho realizado com o espiritismo por José Carlos Fiorido no Espírito Santo é em cerca de 50 presídios do Estado. O objetivo é levar aos reeducandos a doutrina, desde conhecimento, palestras, etc. Segundo ele, existe toda uma preparação para os 18 grupos envolvidos no trabalho, já que é uma missão diferente de passar o espiritismo, por exemplo, a pessoas em liberdade. Nesse sentido, o ex-delegado contou como é a recepção das pessoas ao projeto nos presídios:

(Foto: Arquivo pessoal)

José Carlos Fiorido ainda relatou exemplos de pessoas que passaram pelo sistema prisional, participaram do projeto e, ao deixarem o local, continuaram seguindo a doutrina espírita.

(Foto: Arquivo pessoal)

Para condução desse projeto junto aos reeducandos, há uma motivação para José Carlos Fiorido. De acordo com ele, pelo fato de trabalhar de perto com assuntos envolvendo prisões, o fato da pessoa retornar ao sistema prisional sempre o incomodou.

“Quando eu prendia uma pessoa, sempre tinha essa preocupação: por que ela está voltando? E foi assim a vida toda. Me tornei espírita em meados da década de 1990 e em 1997 criei uma casa espírita em Vitória (ES) e a partir daí começa minha trajetória em voltar para esse ser em risco. Além de presos, também dependentes químicos, pessoas em situação de rua e acabei construindo algumas ideias e montei aqui em 2005 um projeto, pela Federação Espírita, de atendimento à população em situação de vulnerabilidade”, explicou.

Como é um trabalho junto à população carcerária, José Carlos Fiorido destacou que existe um preconceito e uma indiferença para com os reeducandos. Nesse sentido, o ex-delegado esclareceu que a primeira barreira é transpor tais sentimentos.

“A gente montou um plano de trabalho de sensibilização das pessoas. São 18 grupos atuando em 50% dos presídios do Espírito Santo. Cada grupo tem em média seis pessoas comprometidas e as visitas são semanais ou quinzenais. Como a equipe é pequena, qualquer falha do efetivo vai afetar o resultado da visita naquele dia”, ressaltou.

“Então, eu produzo uma entrevista inicial com o voluntário para entender por exemplo a mediunidade dele, para não ter desequilíbrio nela. Já aconteceu comigo eu estar falando para uma plateia de 80 mulheres e sete desmaiaram, seis internas e uma voluntária. A mediunidade é muito forte dentro do sistema, porque as pessoas estão aprisionadas e a sensação da busca pela liberdade, mais os pensamentos negativos, são muito densos. Então, se você põe lá um voluntário que tem desequilíbrio no campo da mediunidade, ou uma mente atormentada, ele vai me dar problema. Preciso ter muita certeza no preparo e na competência para que ele me auxilie no trabalho”, reforçou.

(Foto: Arquivo pessoal)

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