ALEX SABINO – DOHA, CATAR (FOLHAPRESS) – Quem acessa o estádio 974 pela estação de metrô Ras Abu Aboud enxerga a mensagem de boas-vindas pintada em um contêiner.
É a 974ª estrutura metálica usada na construção do estádio 974, a arena que representa toda a mensagem que o Catar deseja passar ao sediar a Copa do Mundo deste ano.
Ele recebeu sete partidas do torneio. A última foi nesta segunda-feira (5), a vitória por 4 a 1 do Brasil sobre a Coreia do Sul, pelas oitavas de final.
Não foi apenas a despedida do torneio. Foi o derradeiro jogo no local. Única do Mundial que não teve divulgado o custo de construção, a arena será 100% desmantelada a partir de 19 de dezembro, dia seguinte ao término da competição.
É o primeiro estádio desmontável usado na Copa do Mundo.
Para ajudar no marketing do evento, foi divulgada a utilização de 974 contêineres na estrutura. Trata-se do código de discagem direta internacional do Catar. Desenhado pelo estúdio espanhol Fenwick Irribarren, o estádio tentava passar mensagem de sustentabilidade, modernidade, uso inteligente dos recursos e colaboração com países em desenvolvimento.
Todos os estádios construídos ou reformados no Catar tentam passar, na teoria, uma mensagem. Seja referência à cultura ou à história do país. Alguns resultaram em polêmica involuntária. O Al Janoub, em que o teto simula um véu, causou desconforto na organização da Copa porque começou a ser comparado nas redes sociais com a genitália feminina.
O 974 era, para o Supremo Comitê da Entrega e Legado, responsável por realizar o Mundial, a menina dos olhos.
Os contêineres remetem ao porto próximo. O arrojo do desenho é a modernidade do projeto Catar 2030, um plano para transformar a nação em um polo turístico, mais influente na geopolítica mundial, e acabar com a imagem de território que apenas extrai petróleo e gás natural.
Na onda da sustentabilidade, o país procura mostrar com o 974 que colabora com o meio ambiente. Edifícios e grandes estruturas são responsáveis por 40% das emissões mundiais de dióxido de carbono.
As peças da arena desmontável serão usadas em uma obra de infraestrutura (talvez até um novo estádio) a ser realizada em outro local. Uma das possibilidades é o Uruguai, caso avance a ideia de o país sul-americano se candidatar para abrigar a Copa de 2030. Outra é um país africano.
Todo esse esforço e o gasto de milhões foram por marketing, imagem, geopolítica e para receber sete partidas.
Apesar do pouco uso, a arena causou furor durante a Copa. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) apresentou reclamação à Fifa (Fededação Internacional de Futebol) por causa do gramado. A entidade concordou que o campo deixou a desejar.
A seleção de Tite não foi a única.
“O campo está muito irregular. A bola fica rápida demais, quica e escapa”, queixou-se o volante argentino Alexis Mac Allister.
Diferentemente dos outros sete estádios usados no Mundial, o 974 não tinha nenhum sistema de refrigeração artificial. Chegou-se à conclusão de que não faria sentido em uma obra a ser desmontada em tão pouco tempo.
A única arena que será preservada integralmente após a competição será o Khalifa International Stadium.
Com uma liga nacional incipiente, o Catar começou a construção das estruturas para a Copa já com destino certo para os estádios.
Há o que vai se transformar em hotel de luxo (Al Bayt). Outro será reformulado em área com campos menores, clínicas esportivas e diferentes escolas (Lusail). O Cidade da Edução será doado à Universidade do Catar e usado pela seleção feminina.
Al Janoub ficará como sede do Al Wakrah, time da liga local. O mesmo vale para o Al Rayyan, que será administrado por equipe de mesmo nome. O Al Thumama passará a ser composto por escolas e clínicas esportivas.
Todos, menos o Khalifa, terão a capacidade reduzida ao menos à metade.