A cidade assiste ao sofrimento de seus filhos e o fato é sempre chocante. Dezenas de crianças morrem por falta de UTI neonatal, ainda que os dados oficiais não apontem nem as autoridades reconheçam. O atestado de óbito dos pequeninos não tem como causa da morte a incompetência, a corrupção e o desleixo dos políticos. Definem que quem mata é determinada doença. Não, a doença é consequência. Quem mata o nosso futuro é o desvio de dinheiro associado ao desvio de finalidade. As verbas da saúde pública são torradas com aspones, licitações fraudulentas, compras superfaturadas e outras roubalheiras.

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Goiás deveria ter UTI neonatal em 50 de suas 246 cidades. Tem em duas. Quando precisam, as famílias enlouquecem, xingam, brigam, mas não adianta: os bebês morrem nos braços dos pais por falta de atendimento. Por isso é tão grande a vitória da sociedade com a inauguração de 25 leitos entre UTI neonatal e unidades de cuidados intermediários. O prefeito Paulo Garcia está de parabéns.

Quase sempre, a UTI neonatal fica em hospital privado. Para conseguir vaga, é preciso dispor do dinheiro e da sorte. Às vezes, a família tenta pelo SUS e é humilhada. Pega empréstimo no banco e mesmo assim fica sem seu bebê, porque não encontra vaga e o pequenino morre. A direção da unidade dá uma explicação qualquer, o secretário de Saúde lamenta e é mais um enterro de quem não teve a oportunidade de viver.

Os leitos de UTI neonatal ficam na Maternidade Dona Íris. Na manhã desta terça-feira, o secretário Luciano de Castro informou que, desde a reinauguração da maternidade, há dez meses, já nasceram ali quase mil bebês. E nenhum deles morreu. É maravilhoso dar uma notícia tão boa assim. Triste é constatar o ineditismo de centros semelhantes. Em vez de ser exceção, a excelência da Maternidade Dona Íris deveria ser a regra. O povo paga para isso e o que recebe de volta é o corpo inerte de seu filho morto pela falta de assistência.