Um estudo recente conduzido pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) detectou fragmentos de microplásticos em peixes, águas e sedimentos das praias de Barra Seca e Perequê-Açú, localizadas no município de Ubatuba, São Paulo. Os resultados foram publicados no último dia 7 de junho, na revista científica “Neotropical Ichthyology”.

A pesquisa, realizada ao longo de 2021, envolveu a coleta de 120 peixes da espécie Atherinella brasiliensis, conhecida como peixe-rei, em três regiões costeiras de Ubatuba. Dentre os peixes analisados, 38% apresentavam partículas sintéticas de plástico. Além disso, os cientistas examinaram cinco amostras de água da superfície marinha e cinco porções de areia das praias durante o inverno e o verão.

O objetivo principal do estudo era comparar a presença de microplásticos no ambiente e no trato digestivo dos peixes. Para isso, foram avaliadas variáveis como temperatura, acidez e turbidez da água, utilizando uma sonda específica.

George Mattox, pesquisador da Ufscar e coautor do estudo, explica que o peixe-rei é uma espécie onívora, alimentando-se de plantas, algas e outros peixes, podendo ingerir fragmentos plásticos por engano. “Muito provavelmente, ele ingere as partículas sintéticas porque elas têm o mesmo tamanho e a mesma cor do alimento natural”, destaca.

Formato

A maioria das partículas coletadas era transparente ou azul, com formato fibroso, e o tamanho dessas fibras estava relacionado ao porte dos peixes. A quantidade de detritos sintéticos na água e no solo variou entre as praias, com o maior valor registrado nas águas de Barra Seca durante o verão, atingindo 490 partículas por metro cúbico. O menor valor, 300 partículas por metro cúbico, foi observado na praia de Perequê-Açú também no verão.

Os peixes coletados em Barra Seca apresentaram a maior taxa de contaminação, com cerca de metade dos indivíduos contendo material sintético no organismo. Isso sugere uma correlação entre a concentração de partículas no ambiente e sua presença nos animais.

Os pesquisadores destacam que a praia de Barra Seca tende a acumular mais sujeira devido ao regime de correntes e é o destino de desembocadura de rios, principais fontes de resíduos e partículas plásticas provenientes do continente.

Consequências

Mattox alerta que as consequências da presença de microplásticos nesses ambientes vão além dos efeitos imediatos, podendo ter sérias repercussões para o ecossistema e para a saúde humana. “Quando ingeridos pelos peixes, esses plásticos não são digeridos e vão se acumulando no organismo. Eventualmente, o peixinho pode morrer entupido de plástico”, diz.

Para evitar a perpetuação desse cenário, é necessário um esforço conjunto entre autoridades e população. “Qualquer animal que coma esse peixe vai comer o plástico que está dentro dele, inclusive os pescadores artesanais, ribeirinhos e caiçaras, por exemplo”, completa.

“Esperamos que, com esses resultados, possamos fomentar políticas públicas no sentido de conscientizar a população e os tomadores de decisão para darem o destino adequado para o plástico e atuarem em prol dos famosos três Rs: redução, reutilização e reciclagem”, conclui Mattox.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 14 – Vida na Água

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