A busca por soluções sustentáveis para problemas ambientais tem gerado inovações surpreendentes. Nesse sentido, um desses exemplos vem do pesquisador goiano Hélio Elias, professor de engenharia no Instituto de Pós-Graduação e Graduação (IPOG), que desenvolveu tijolos ecológicos a partir de rejeitos de mineração e plástico reciclado.
A iniciativa, que começou como uma tese de doutorado na Universidade Federal de Goiás (UFG), já recebeu reconhecimento nacional e internacional.
O projeto surgiu da necessidade de encontrar um destino para os resíduos de mineração de ferro, como aqueles provenientes dos desastres ambientais em Brumadinho e Mariana, e do grande volume de plástico descartado.
“Olhamos para esses materiais e pensamos: por que não transformá-los em algo útil para a construção civil?”, explicou Hélio. A solução encontrada foi substituir o cimento, cuja produção gera grande impacto ambiental, por plástico reciclado, resultando em um material resistente, econômico e sustentável.
Seis anos de testes e descobertas
O desenvolvimento do tijolo ecológico levou seis anos de pesquisa intensa. De acordo com Hélio, o processo foi baseado em tentativa e erro, até encontrar a composição ideal.
“Fizemos mais de 250 tijolos para chegar à fórmula certa. Testamos diferentes quantidades de resíduos de mineração e plástico, em variadas temperaturas e tempos de aquecimento”, detalhou o pesquisador.
Além disso, a pesquisa expandiu-se para outros materiais, incluindo resíduos da extração de esmeraldas em Campos Verdes, município goiano com a maior mineração dessa pedra preciosa já registrada no planeta. “Descobrimos que o tijolo feito com esse material é ainda melhor do que o de Brumadinho”, revelou.
Vantagens ambientais e viabilidade econômica
Os tijolos ecológicos desenvolvidos por Hélio possuem vantagens significativas em relação aos tradicionais. Enquanto a produção de tijolos cerâmicos exige a extração de argila e a queima em fornos a quase mil graus por 36 horas, liberando fumaça e degradando a natureza, os tijolos ecológicos são produzidos em apenas três horas, a 300 graus, sem emissão de poluentes.
Além disso, o custo do novo material é competitivo. “O nosso tijolo tem praticamente o mesmo preço do convencional, às vezes até mais barato, mas é tecnicamente superior e ecologicamente muito mais vantajoso”, afirmou o pesquisador.
O potencial de produção também impressiona: “Com os resíduos disponíveis hoje no Brasil, poderíamos fabricar tijolos para construir habitações para 2 milhões de pessoas por ano”, acrescentou.
Reconhecimento e impacto social
O impacto da pesquisa já ultrapassou as fronteiras brasileiras. Em 2021, o estudo recebeu o primeiro lugar em um concurso do Conselho de Engenharia do Brasil.
Do mesmo modo, no ano passado, o trabalho ficou entre os 15 melhores do país no programa mundial Falling Walls, promovido por uma organização alemã.
Além disso, um artigo detalhando o projeto foi recentemente publicado na prestigiada revista científica Remediation, da editora Wiley, uma das mais importantes do mundo na área ambiental.
Objetivo maior
A proposta de Hélio não se limita à pesquisa acadêmica. Ele e seu orientador, professor Nelson Roberto Antoniosi, pretendem doar a tecnologia para as comunidades afetadas por tragédias ambientais, permitindo que os próprios moradores possam produzir tijolos e reconstruir suas casas.
“Não queremos ganhar dinheiro com isso. Nosso desejo é que essa inovação beneficie a sociedade”, afirmou.
Agora, o desafio é encontrar investidores e instituições governamentais dispostas a transformar essa descoberta em uma realidade para a construção civil em larga escala.
“O mercado já existe, a tecnologia está pronta. Precisamos apenas de um aporte para iniciar a produção industrial desses tijolos sustentáveis”, concluiu.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis; ODS 12 – Consumo e Produção Responsáveis