A cidade está coberta de cadáveres e o fato é tido como natural. O secretário de Segurança Pública, Joaquim Mesquita, até comemora ter reduzido o número de bairros de Goiânia em que não houve assassinatos. Nenhuma palavra sobre os quatro homicídios diários na região metropolitana. Nenhuma palavra sobre a decisão da polícia de não investigar sequer as mortes. Isso para se falar apenas na matança desenfreada. Mas as autoridades não emitem um só ruído comentando crimes como o arrombamento de residências. São tantos os roubos nas casas que pouquíssimas vítimas se dão o trabalho de procurar a delegacia. Elas descobriram que vão gastar tempo e paciência e não vai dar em nada, porque não existe apuração de crime contra o patrimônio. A polícia só vai atrás de assassinos e estupradores, quando vai. Dos ladrões ela já desistiu.

{mp3}stories/audio/2013/Setembro/A_CIDADE_E_O_FATO-03_09_2013{/mp3}

Qualquer pé-rapado, zé-mané, quarta-feira, idiota completo que estudar meia hora sobre teoria e prática de segurança vai entender que o crime pequeno é a meia-entrada para o hediondo. O sujeito começa furtando bicicleta, passa a arrombar porta para levar botijão de gás e, se ninguém impedir sua escalada, logo está estuprando e matando. Só então a polícia vai cuidar do coitadinho, um deserdado dos direitos sociais, um órfão do sistema cujo único passeio foi pelo Código Penal. De suas vítimas quem cuida é o coveiro e, se tiverem muita sorte, os médicos da emergência do Hugo.

Como está não tem como permanecer. É consenso que as drogas são a causa de 80% dos delitos graves. Se as autoridades sabem disso, então, por que não barram a circulação dos entorpecentes? Não tem plantação de coca sob as marquises que abrigam os craqueiros. A droga atravessa pelas fronteiras com Bolívia, Paraguai e Colômbia, vigiadas em tese por Polícia Federal e Forças Armadas. E vem parar nas cracolândias. Os policiais sabem onde são todos os mocós, todas as bocas-de-fumo, todas as centrais de produtos contrabandeados, todos os desmanches de carros roubados, todos os esconderijos de bandidos. Portanto, se conhecem a causa e o efeito, não se entende a ineficiência no combate. Para isso existe uma palavra: incompetência.