O Dia Mundial Sem Carro, ou World Car Free Day, é comemorado anualmente em 22 de setembro. A data foi criada com o objetivo de incentivar as pessoas a refletirem sobre os enormes problemas que o uso excessivo dos veículos, nas grandes cidades, pode causar ao meio ambiente e ao bem-estar da sociedade.

Os promotores do evento aconselham a população a deixarem os carros e motos em casa e experimentar utilizar, durante o dia 22, meios de transportes alternativos e que não poluam a atmosfera. As bicicletas são sempre uma das melhores opções para a maioria dos aderentes ao movimento ativista.

Em entrevista ao Tom Maior #101 desta sexta-feira (18), a pós-doutora em Mobilidade Urbana Erika Kneib fala sobre a importância da data, mesmo em tempo de pandemia, em que, teoricamente, deveria haver menos veículos nas ruas por causa do isolamento social.

“A mobilidade está sim relacionada à saúde da nossa cidade, e a gente sabe que uma cidade saudável vai levar a cidadãos mais saudáveis também. É uma data muito importante, mesmo nessa época, a gente aproveitar para pensar em como podemos melhorar a mobilidade nas cidades”

Para Kneib, as cidades que favorecem o uso excessivo de carros e motos estão suscetíveis ao aumento da poluição, o que prejudica a saúde de quem depende do trânsito diariamente.

“Nós vamos ter muita poluição. A gente sabe ela impacta os problemas respiratórios e o sistema de saúde. Acidentes de trânsito matam e mutilam muito todos os dias no Brasil, também é considerado uma epidemia. Temos também a degradação do ambiente urbano. Uma rua que passa muito carro é poluída, difícil de caminhar, que tem o que a gente chama de paisagem degradada. O excesso de utilização do carro é muito prejudicial para a cidade”, afirma. “Toda vez que a gente constrói uma nova via, um novo viaduto, você só estimula, só convida as pessoas a usarem mais carro”, complementa.

Ainda que elas ocorram gradativamente, Erika Kneib acredita que sejam muito difíceis as mudanças na mobilidade dos grandes centros urbanos. A pós-doutora enumera quatro alterações que poderiam ser feitas nas cidades para promover a melhoria da mobilidade e que poderiam tornar o ambiente urbano mais saudável.

Prioridade ao pedestre e ao ciclista: “Isso não é mais opção, está na lei federal. A maioria dos planos diretores das cidades traz isso. Construir calçadas, ciclovias, espaços adequados para o pedestre e para o ciclista não é mais favor da gestão pública. É necessidade de cumprimento de legislação”;

Valorização do transporte público: “A maiorias das cidades do Brasil não tem um transporte público que atenda à maioria das necessidades, mas somente cidades com bons sistemas de transporte público conseguem alcançar a melhoria da mobilidade”;

Construir a cidade para que a mobilidade funcione: “A maneira que se dispõe as atividades no território das cidades, vai levar a uma melhor ou pior mobilidade. Se você a possibilidade de morar e trabalhar próximos, o seu deslocamento vai ser menor. Pensar como essas atividades são distribuídas na cidade é fundamental”;

Desincentivar o uso do carro e da moto na cidade: “É muito difícil porque é uma medida muito impopular. Nenhum gestor público teve coragem de assumir, de implementar, de efetivar medidas que desestimulem o uso do carro e da moto na cidade. E existem várias. Controle de estacionamento, o pedágio urbano ou a cobrança pela utilização da via, enfim. Inclusive a lei federal de mobilidade traz uma série de medidas que podem ser adotadas nas cidades para desestimular esse uso do carro. O carro não é o vilão, ele não precisa sumir da cidade. O problema é que hoje a maioria das pessoas de desloca de carro, e nos horários de pico”.

Confira a entrevista na íntegra no Tom Maior #101