Nas últimas semanas se intensificaram pelo mundo as manifestações antirracistas, movimentos motivados principalmente pela morte de George Floy durante uma abordagem policial em Minneapolis, nos Estados Unidos. Entre vários depoimentos e entrevistas concedidas neste período sobre esse assunto, uma me chamou a atenção.
Muito esclarecido e consciente em suas palavras, o volante Moacir, que hoje defende o Atlético Goianiense, mais uma vez deu uma declaração digna de aplausos. Entre tantas análises pertinentes, me chamou à reflexão o relato feito sobre como lida o assunto com seus filhos.
“Para mim não é novidade, eu prego isso na minha casa porque sou pai de filhos negros e sou filho de pais negros. Então na minha família é um assunto bem falado, eu tenho preparado meus filhos para Enes situações. O George Floyd revolucionou o mundo, mas infelizmente ele teve que perder a vida para isso acontecer”, disse o pai da Mohara, da Sophia e do Igor.
É inaceitável que em pleno 2020 um pai tenha que preparar seus filhos para o preconceito que possivelmente sofrerá por conta da cor de sua pele. Mas Moacir vai além. Ele nos mostra que o diálogo pode ser um caminho e que a discussão pública é importante sim.
“Nós teríamos que ter uma ‘janela’ para falar sobre isso várias horas e ainda assim não daria tempo. É muito fácil falar de racismo no 20 de novembro, dia da Consciência Negra e eu até acho bom quando sou abordado sobre o assunto. Acho que isso (morte do Floyd) é só para acordar o mundo. Acontece todo dia escondido, embutido em várias vielas, favelas e periferias. Acho que essa rebelião por causa da morte do válido é bem válida, mas claro, desde que pacificamente”.
Mas e como o futebol, esporte mais popular do país e um dos mais influentes do mundo, pode ajudar na causa? Entre muitas manifestações, a mais recente foi a de Marcelo, lateral-esquerdo do Real Madrid, que se ajoelhou após marcar o terceiro gol merengue na partida.
Mesmo assim, o volante atleticano ainda cobra um maior posicionamento dos integrantes de sua classe. Mais uma lição do atleta rubro-negro.
“Parte muito de só jogadores negros e para nós fica fácil porque estamos defendendo a nossa raça. Mas tem outros vários jogadores, negros e brancos, que deveriam ter mais empatia. Só ter dó no momento que acontece o ato fica muito fácil. Eu falo muito em ter essa luta e essa briga o ano inteiro, não esperar acontecer casos como o do João (Pedro), Floyd e Amarildo”, pediu.
Eu ouvi, participei da entrevista, reproduzi na Sagres 730 e passei muito tempo refletindo. E não é que Moacir tem razão? É muito fácil se posicionar, trazer à tona na mídia quando a tragédia acontece e manifestações se espalham pelo mundo. Será que eu não poderia ser mais ativa no combate ao racismo e qualquer tipo de preconceito? E você?
Esta não foi a primeira entrevista que fiz com o Moacir, não foi também a primeira que ele falou sobre o assunto. Entretanto, foi a que mais me chamou a atenção. É preciso dar voz às vozes que ecoam nas palavras do Moacir. É preciso escutar e aprender com ele.