A líder quilombola Procópia dos Santos Rosa, de 89 anos, teve sua luta pelos direitos do povo Kalunga reconhecida com o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Estadual de Goiás (UEG). Conhecida como Iaiá Procópia, ela se tornou a primeira mulher negra a receber a honraria, em solenidade realizada no dia 7 de dezembro, na comunidade Kalunga Riachão, em Monte Alegre de Goiás. O título é a maior outorga concedida pela universidade a personalidades que tenham se destacado na contribuição à arte, ciências, filosofia, letras e para o melhor entendimento entre os povos.

Segundo a UEG, Procópia foi a 9ª personalidade a ser homenageada com honraria. Na ocasião, a matriarca exaltou a harmonia entre os povos. “Se não fosse a união, aqui não tinha nada. Hoje todos estão se formando, e quem esperava por isso? Aconteceu porque a gente correu atrás, com união e paz” disse. A matriarca que não pôde estudar se destacou na luta em defesa do território Kalunga, na promoção da harmonia entre os povos, contra o racismo, pelas mulheres e o meio ambiente.

Neta de Iaiá Procópia, Lourdes Fernandes de Souza, conhecida como Bia Kalunga, destacou que a honraria é um marco histórico para o quilombo e que mostra a “potencialidade e a visibilidade dos direitos humanos” para os negros. 

“A Procópia se tornar Doutora Honoris Causa no quilombo é um símbolo de muita luta, conquista e de muita resistência. O quilombo que era um espaço de esconderijo, hoje é um espaço de estar presente em toda parte desse mundo, contando a nossa história como seres humanos, como parte construtora desta nação”, contou. 

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Reconhecimento

Para Lourdes, o quilombo é um lugar sagrado de luta, fé, mas também de muitas conquistas. Liderança da comunidade Kalunga, ela é professora na rede estadual de ensino desde 2007 e diretora do Colégio Estadual Quilombola Kalunga II. Além disso, administra o Museu Iaiá Procópia, que homenageia a avó. A professora reconheceu que a trajetória da avó teve um impacto muito grande na vida dela e de todos à sua volta.

“Tudo o que a gente tem hoje é graças ao que foi iniciado pela luta dela. Eu sou mestranda, professora, liderança, mãe, mulher, então eu sou uma discípula dela”, enfatizou.

Bia Kalunga ao da avó, Iaiá Procópia (Foto: UEG)

Lourdes destacou ainda que a história de vida de Iaiá Procópia se mistura com o processo histórico de reconhecimento da comunidade e da busca por direitos. A neta apontou a avó como uma das primeiras lideranças na luta para a comunidade ter escolas e para o reconhecimento do território.

“Iaiá Procópia nasceu com essa missão de liderar, buscar e reivindicar os nossos direitos enquanto seres humanos. Para a gente conquistar o que temos hoje foi uma luta bem árdua: as primeiras escolas, o reconhecimento do quilombo, o registro das terras, o impedimento da barragem no território porque iria inundar tudo e a gente iria ter que mudar daqui. Tudo isso foi uma luta de resistência para permanecer nesse espaço, nesse lugar lindo, sagrado, que Deus nos concedeu”, salientou a professora. 

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Referência

Criada em 1999 pela Lei 13.456, a UEG afirmou que já formou mais de 100 mil pessoas e que este é o 9º título de Honoris Causa entregue pela entidade. Lourdes disse que o recebimento do título de Doutora Honoris Causa da UEG por Iaiá Procópia levou referência e visibilidade para o povo Kalunga.

“A história de vida de Iaiá Procópia se configura com o processo histórico de formação do quilombo Kalunga, que é esse espaço onde habita pessoas que querem viver com dignidade e ter os direitos que um dia nos foram  roubados. E agora a gente quer viver a nossa vida aqui com dignidade, gratidão, fé, esperança e as divindades que a gente acredita”, disse.

Procópia foi indicada pela Organização das Nações Unidas (ONU) ao Prêmio Nobel da Paz em 2005. Na ocasião, a entidade indicou mil mulheres de todo o mundo e dentre as 52 brasileiras da lista estava Iaiá Procópia.

“A indicação se deu pela pessoa, pelo ser que ela é. Ela é um ser de coração bom, um ser de luta, uma pessoa que pensa sempre no coletivo e na dignidade para todos. A indicação foi pela luta, pela causa, por ela defender não só os direitos humanos, mas também todo o espaço ambiental”, concluiu.

Assista a entrega do Título de Doutora Honoris Causa à senhora Procópia dos Santos Rosa na UEG TV pelo YouTube:

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