Foi por meio da escola que a família de Waléria Corsino compreendeu que havia algo diferente com a audição da criança. Apesar de ter nascido sem deficiência, aos dois anos e oito meses de vida, Waléria teve meningite e, consequentemente, sua adição afetada. “Tive muitas dificuldades na escola, principalmente com a leitura. Alguns professores incentivavam a escrita. Meus familiares estavam presentes e viram a necessidade de um acompanhamento mais de perto na minha educação”, disse a estudante.

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Superadas as primeiras dificuldades até chegar ao diagnóstico, Waléria cresceu, concluiu o ensino superior e se tornou a primeira estudante surda do Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da Universidade Federal de Goiás (UFG). A defesa de mestrado de Waléria, ocorrida em julho, trouxe como tema justamente os desafios que um estudante surdo enfrenta na educação.

“Eu fiz a prova, tinha algumas leituras, temos a presença de intérpretes, eu fui aprovada e sou a primeira surda do programa. Isso me causa muita satisfação, por ver todo esse percurso sendo compensado agora”, destacou Waléria.

Em 2019, o Programa de Pós-Graduação da UFG lançou o edital que teve como referência uma portaria do Ministério da Educação (Mec), que criou o Programa UFG Inclui. Foi nesse momento que uma vaga foi reservada na área de estudos Linguísticos, destinada a candidatos surdos, e Waléria agarrou a chance.

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Coordenadora do Programa, Elena Ortiz argumentou que além da criação de condições de acesso a essas vagas, também é preciso fomentar a permanência dos estudantes com deficiência. “Nem todos os professores do curso sabem Libras, então a cada disciplina que o aluno vai cursar nós precisamos ter um intérprete. Para cada atividade acadêmica, precisamos garantir esse intérprete. Então, é sempre um esforço institucional de criar essas condições para que o surdo possa entrar e fazer o curso com qualidade”, comentou.

Segundo Elena, prova de que a UFG está engajada em superar os desafios de fazer com que os estudantes surdos permaneçam nos cursos é o fato de que a instituição já absorveu a ideia de oferecer uma vaga para surdos em todas as turmas de pós-graduação.

A cada ano, o Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da UFG recebe mais candidatos surdos nos processos seletivos, tanto a nível de mestrado quanto para doutorado. Em 2020, o número de candidatos chegou a sete.

“Tenho ainda o anseio de continuar meus estudos no doutorado. Vou dar um tempo ao finalizar o mestrado, mas futuramente quero [fazer o doutorado] e gostaria muito de trabalhar na UFG. Não vou desistir até concluir todo esse percurso”, disse Waléria.

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