A onda de protestos, que reuniu mais de 250 mil pessoas nas principais capitais do país, gera uma reflexão a respeito das manifestações mais históricas do Brasil. A atual mobilização popular tem sido a maior desde o “Fora Collor”, há mais de 20 anos.

O professor doutor em ciências políticas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Francisco Tavares, destacou que ao contrário dos protestos anteriores, a manifestação atual não tem um objetivo específico de derrubar algo ou alguma pessoa. “A grande bandeira das Diretas Já, além das próprias eleições presidenciais diretas, era uma nova Constituição, portanto toda uma nova ordem política no país. No ‘Fora Collor’, a população vai às ruas por estar descrente com o primeiro presidente eleito na nova ordem política. Em todos esses momentos, havia uma insatisfação, que por outro lado era apresentada como suscetível a solução na próxima eleição. Esse atual protesto é um pouco diferente, eles estão descrentes com o Estado, põe em questão a própria ordem estatal e sua incapacidade de prover direitos pros cidadãos”.

De acordo com o professor Francisco Tavares, os protestos atuais podem servir como recado à elite política para que a sociedade seja mais consultada diante de todas as decisões tomadas pelas autoridades públicas. “As elites políticas, como os dirigentes partidários, os grupos financiadores de campanha percebem, como há muito não conseguiam perceber, que existe todo um conjunto da população não apenas insatisfeito como também revoltado com a maneira que o Estado é conduzido, e disso algumas conquistas eu tenho certeza que vão sair. Por exemplo, ninguém mais vai subir preço de tarifa pública sem estabelecer uma conversa com a população, e a segunda conquista é a ideia de que o Estado precisa tolerar mais os manifestantes”.

Segundo o cientista político, uma lógica de respeito e tolerância aos direitos civis dos cidadãos podem se tornar uma conquista da população, e em relação a eventuais pedidos de impeachment, o professor alega que este tipo de mudança já não é mais suficiente.