Fazer o uso consciente e sustentável da terra, valorizar os produtos locais como babaçu, buriti, baru e mel de abelha, é apenas um dos eixos considerados pelo Projeto Ceres. O nome é inspirado nas iniciais de Cerrado Resiliente. Resultado da parceria entre a União Europeia (UE) e organizações não governamentais do Brasil e Paraguai, como ISPN, WWF-Brasil e WWF-Paraguai, com coordenação do WWF-Holanda, a iniciativa, que existe desde 2020, visa fortalecer as comunidades locais e a paisagem de forma inclusiva.

Confira a entrevista a seguir no STM #285

É o que explica em entrevista à Sagres TV nesta quinta-feira (10), a coordenadora do Programa Cerrado e Caatinga do ISPN, Isabel Figueiredo. “A gente se reuniu em torno dessa temática que é a de melhorar sustentabilidade da paisagem do Cerrado a partir de uma proposta de um programa da União Europeia para paisagens do futuro”, afirma.

Um levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) revela que o Cerrado ocupava 23% do território brasileiro, mas a devastação tem sido tão intensa que a área degradada equivale ao estado de Santa Catarina. De 2020 para 2021, houve aumento de 13% nas áreas desmatadas.

A ideia do projeto, que terá quatro anos de duração e conta com investimento de € 5,5 milhões da UE (cerca de R$ 33,9 milhões) , segundo a coordenadora, é fazer com que o mundo tome conhecimento da existência e da importância do Cerrado, e que a comunidade internacional possa refletir sobre essa temática.

Soluções emergenciais e efeito estufa

A coordenadora de Conservação do WWF-Brasil, Carolina Siqueira enumera algumas das soluções emergenciais que o projeto busca para a preservação e valorização do Cerrado.

“Um deles é a questão de zerar o desmatamento no Cerrado, esse tema é urgente. O Cerrado é uma das principais fronteias de desmatamento, e a gente precisa criar soluções criativas para valorização do Cerrado. É a valorização dos povos e comunidades tradicionais, valorizando os produtos das sociobiodiversidades como sementes, castanhas, óleos extraídos com propriedades medicinais e alimentícias. É garantir que a gente consiga valorizar o Cerrado de pé com integração dos povos e comunidades tradicionais”, argumenta.

Para se ter uma ideia, o Cerrado detém vastos estoques de carbono, principalmente no subsolo, com aproximadamente 13,7 bilhões de toneladas. O processo de conversão do bioma impediria, por exemplo, o cumprimento dos compromissos internacionais do Brasil nas Convenções do Clima e de Biodiversidade.

“Quando a gente mantém o Cerrado em pé, significa que a gente está mantendo a nossa reserva de carbono ali intacta, e ele também vem fixando carbono à medida em que vai crescendo. Quando a gente faz restauração, a gente também está fixando carbono. Então [ao preservar o Cerrado] a gente está deixando de contribuir com o aquecimento global”, afirma Isabel.

O Projeto Ceres estruturado em três eixos complementares e que se fortalecem mutuamente, promovendo: 1) agricultura sustentável e sistemas alimentares de baixo carbono; 2) conservação por meio do uso sustentável da sociobiodiversidade e do fortalecimento das áreas protegidas; 3) fortalecimento de políticas públicas e privadas e práticas de segurança hídrica e alimentar, manejo sustentável da paisagem e redução da conversão de ecossistemas.