JOÃO PEDRO PITOMBO, JÚLIA BARBON, LEONARDO AUGUSTO E THIAGO RESEND / SALVADOR, BA, RIO DE JANEIRO, RJ , BELO HORIZONTE. MG E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Protestos contra o presidente Jair Bolsonaro liderados por centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de esquerda reúnem manifestantes em várias cidades do país.
Na manhã deste sábado (29), houve atos em capitais como Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte e Recife. Em São Paulo, há concentração marcada para as 16h em frente ao Masp, na avenida Paulista.
As manifestações, que foram alvo de críticas por acontecerem presencialmente em meio à pandemia da Covid-19, são realizadas num momento em que o país ultrapassa 450 mil mortes pela doença, sendo 2.418 registradas em 24 horas. Pelo menos nove capitais, além do Distrito Federal, têm ocupação acima de 90% dos leitos de UTI.
A expectativa da organização é que atos semelhantes aconteçam até o final do dia em cerca de 200 cidades, incluindo as 27 capitais.
Como mostrou a Folha, a mobilização nacional deste sábado foi feita pensando em desgastar Bolsonaro e incentivar a CPI da Covid, enquanto o impeachment é visto como algo ainda distante. Líderes ligados à organização, porém, enxergam os atos como um impulso.
O dilema entre o discurso pró-isolamento social e o incentivo a aglomerações resultou em diferentes níveis de participação. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) não convocaram seus integrantes institucionalmente, embora não impeçam a ida.
PT, PSOL, PC do B, PCB, PCO e UP declararam apoio à iniciativa e dispararam chamados para os militantes, mas ressaltaram que a organização é de responsabilidade de frentes Povo sem Medo, Brasil Popular e Coalizão Negra por Direitos (que congregam dezenas de entidades).
Mesmo entre os partidos que endossaram a iniciativa não houve unanimidade. Em estados como a Bahia, por exemplo, o PT do governador Rui Costa incentivou a realização de atos virtuais.
Em Pernambuco, o Ministério Público estadual emitiu uma recomendação de suspensão dos atos marcados para este sábado, para evitar a disseminação do vírus. Ele expediu recomendações semelhantes contra aglomerações em manifestações de apoio ao presidente Bolsonaro.
O protesto foi mantido pelos organizadores, mas foi interrompido pela Polícia Militar de Pernambuco, que lançou bombas de gás lacrimogênio e usaram spray de pimenta nos manifestantes.
De acordo com os organizadores, o ato vinha acontecendo de forma pacífica e mantendo o distanciamento entre as pessoas. Contudo, os manifestantes foram surpreendidos por uma guarnição da tropa de choque bloqueando a rua já no final do trajeto.
Os manifestantes pararam a cerca de 200 metros do bloqueio, mas os policiais avançaram e lançaram bombas de gás, gerando correria.
No Rio de Janeiro, milhares de manifestantes caminharam das 10h às 13h pelo centro da cidade, fazendo o trajeto do Monumento Zumbi dos Palmares até a Cinelândia.
Um grande boneco inflável do ex-presidente Lula, com os escritos “Lula Livre”, foi levado ao ato, assim como placas de “Fora Bolsonaro” e gritos contra o presidente.
Praticamente todos usavam máscaras, muitos do tipo PFF2. Vários locais tinham aglomerações, como os que concentravam baterias, e outros não. A Polícia Militar não acompanhou o protesto, como de costume.
O protesto no Rio tem as seguintes pautas: “Pela vida, por vacina, pelo auxílio digno e contra os cortes na educação”. Os organizadores também pediram que os manifestantes levassem um quilo de alimento não perecível.
No último domingo (23), a capital fluminense foi palco de uma mobilização pró-Bolsonaro. Três dias após dizer em live que voltou a ter sintomas da Covid-19, o presidente fez um passeio de moto com público estimado em 10 mil a 15 mil pessoas pela prefeitura carioca.
Ao final, ele fez um discurso criticando as medidas restritivas adotadas para conter a pandemia, causando aglomeração.
Também sem máscara, o ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello esteve ao lado dele em cima de um carro de som.
Em Brasília, os manifestantes defenderam o impeachment de Bolsonaro, além da aceleração da vacinação e aumento do valor do auxílio emergencial.
Segundo os organizadores do evento, cerca de 30 mil pessoas participaram da passeata, que percorreu a Esplanada dos Ministérios até a frente do Congresso Nacional. Também foi organizada uma carreata na capital federal.
Manifestantes carregavam faixas com frases contra Bolsonaro, além de bandeiras do PT e de apoio ao ex-presidente Lula. O PT apoiou as manifestações deste sábado.
Os organizadores contestaram a atuação de policiais e fiscais em Brasília, que impediram a venda de comida na região e também que um boneco de ar com a imagem de Bolsonaro seguisse durante a passeata.
Em Salvador, milhares de manifestantes se concentraram na praça do Campo Grande, e saíram em passeata na avenida Sete de Setembro acompanhados de um minitrio e de grupos de percussão.
Organizadores tentaram organizar a passeata em três filas, com o objetivo de manter o distanciamento entre os presentes. Mas a estratégia funcionou apenas em alguns pontos do protesto. A grande maioria dos manifestantes usava máscara de proteção contra a Covid-19.
“O ato superou nossas expectativas. Houve uma mobilização muito forte da juventude”, disse Walter Takamoto, da Frente Brasil Popular, um dos organizadores do protesto na capital baiana.
A pauta foi diversa: além das críticas à atuação do presidente Jair Bolsonaro na pandemia, houve protestos contra os cortes de verbas na educação, contra a privatização dos Correios e em defesa da moradia popular. Grupos de torcedores do Bahia e do Vitória também se uniram à manifestação.
Alguns manifestantes levaram faixas e vestia camisas em favor do ex-presidente Lula. Um grupo levou uma caixa de som que tocava um jingle do ex-presidente em ritmo de forró.
Em Belo Horizonte, os manifestantes se reúnem na Praça da Liberdade, região centro-sul da cidade. O local é o mesmo utilizado para atos organizados por correligionários do presidente.
O protesto começou por volta das 10h. Com bandeiras e camisas vermelhas, os manifestantes seguirão em passeata até o centro. Os organizadores do ato avisam sobre a necessidade de distanciamento de dois metros entre os participantes, uso de máscaras e álcool em gel.
Uma carreata também começa a ser organizada para quem não se sentir seguro de participar da passeata.
Forças da oposição de esquerda estavam rachadas nos últimos meses sobre ir às ruas em meio à pandemia de Covid-19, mas entenderam que o descontrole do vírus e os índices de desemprego e fome exigem a realização de protestos.
Para neutralizar as críticas, tanto entre apoiadores quanto entre detratores do governo, os articuladores deram orientações de segurança para as pessoas que irão aos atos, como o uso de máscara adequada (do tipo PFF2) e a ordem de manter distanciamento nas passeatas.
As manifestações deste sábado abraçam ainda pautas como a aceleração da vacinação contra a Covid, o retorno do auxílio emergencial de R$ 600, a luta antirracista, o combate à violência policial, o ataque às privatizações e a defesa da educação pública.
Embora partidos e movimentos por trás da convocação afirmem que o mote “fora, Bolsonaro” traduz o desejo de afastamento imediato, líderes admitem haver obstáculos para o desenrolar de um processo. Eles, no entanto, enxergam as mobilizações como um passaporte que pode levar a esse destino.
A avaliação é que o impeachment pode ganhar força a partir da ocupação das ruas. Por isso, o esforço é para pressionar o centrão, fiel a Bolsonaro e uma barreira para o processo na Câmara, e o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), a quem cabe desengavetar um dos 114 pedidos protocolados.
Na quarta-feira (26), centrais sindicais e movimentos sindicais fizeram um protesto em Brasília, no gramado em frente ao Congresso Nacional, para denunciar o aumento da fome no país, reclamar da gestão da crise sanitária e pedir o reajuste no valor do auxílio emergencial.
A iniciativa foi tratada como um ato simbólico, com a presença de número reduzido de pessoas e transmissão dos discursos pelas redes sociais. Os manifestantes procuraram congressistas para expor suas bandeiras e fizeram doação de alimentos para catadores de material reciclável.