Inteligência artificial, internet das coisas e realidade virtual e aumentada são tecnologias que estão disponíveis atualmente no mundo. Outras como computadores, tablets, lousa digital, jogos virtuais estão diretamente associadas à Educação. Assim, os acadêmicos já discutem qual é o papel do professor na educação diante das novas tecnologias?

A utilização dos recursos tecnológicos para fins pedagógicos já é realidade na sala de aula. Margarete Costa, mestre em educação e professora do Centro Universitário Internacional (Uninter), afirmou que é um caminho que não tem retorno.

“As novas tecnologias são um caminho sem volta. Esse caminho já vinha acontecendo há bastante tempo, porém, antes da pandemia havia bastante resistência dos professores que davam aulas nos cursos presenciais e na educação básica, principalmente”, contou.

A pandemia obrigou professores a utilizarem todo tipo de recurso tecnológico para levar o conteúdo aos estudantes. “A gente viu o processo de ensino-aprendizagem diferenciado”, disse. Desta forma, os recursos chegam como práticas inovadoras que potencializam o processo de ensino e aprendizagem.

Recursos pedagógicos

Acesso à internet (Foto: Julia M Cameron/Pexels)
Acesso à internet (Foto: Julia M Cameron/Pexels)

O pós-pandemia trouxe inovações como o ambiente virtual de aprendizagem. Além dele, recursos como a robótica já existiam e estão cada vez mais presentes. Costa apontou a inovação como um ponto de partida para os professores, mas também para a sociedade.

“Os professores e a sociedade em geral terão que repensar a educação porque ela é um processo mais complexo frente às novas tecnologias do que a gente pensa, não é só o uso de um recurso”, destacou. Margarete Costa afirmou que qualquer recurso que auxilie em alguns processos é uma tecnologia, portanto, o quadro e o giz são tecnologias educacionais. No entanto, os recursos pedagógicos não modificaram o processo da aprendizagem como as novas tecnologias.

“A tecnologia voltada ao digital, a comunicação síncrona, a possibilidade da assíncrona, gravação e assistir aula depois, é um processo que modificou a educação porque fez os professores repensarem os seus papéis. Mas existe alguma coisa além disso, ela também mexe com os processos cognitivos da formação intelectual do aluno e consequentemente do professor”.

A especialista em educação apontou que a cognição do aluno e do professor é um diferencial no processo de ensino-aprendizagem. Entretanto, até mesmo esse processo está sendo moldado pelas novas tecnologias educacionais. “A gente vai ter rever isso porque os jovens e os adultos estão tendo uma relação com as novas tecnologias digitais que está fazendo com que eles modifiquem a visão de mundo e principalmente de conhecimento”, pontuou.

Processo de aprendizagem

Os novos recursos tecnológicos na educação trouxeram a discussão: qual é o papel do professor na educação diante das novas tecnologias educacionais? Margarete Costa relatou o exemplo de um processo de aprendizagem muito comum do nosso tempo.

“Se você quer aprender a fazer qualquer coisa hoje em dia, se você quer aprender a costurar, desenhar, bordar ou qualquer outra coisa, o que você faz? Você vai ao computador, abre o YouTube ou outra plataforma similar, aprende e faz. Então, cadê o professor nesse processo?”, questionou. Diante de novas formas de aprender, a docente apontou que a educação também precisa adaptar-se aos meios que os estudantes estão acessando.

“A gente tem que repensar esse tipo de coisa porque a necessidade é que os alunos percebam e sintam a vontade de querer aprender uma coisa. Então existe uma distância bem grande entre querer aprender e o aprender e o processo de educação formal como a gente conheceu”, argumentou.

Professores e tecnologias da educação

EAD (Ensino à Distância)
No EAD, cerca de 95,4% das matrículas estão na rede privada (Foto: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação)

O papel dos professores diante das novas tecnologias passa pela formação dos docentes. Porém, Margarete Costa apontou que o processo começa pelos profissionais responsáveis pela formação dos professores.

“As novas tecnologias inverteram o processo educacional. Nunca na história da humanidade os alunos souberam mais do que os professores, somente agora. Então, veja, eu não estou falando de formação para os professores, mas dos formadores desses professores. Como se pensam esses formadores? qual a aproximação deles com as novas tecnologias para trabalhar em relação a isso e assim  chegar ao professor?”.

Existe defasagem no mercado em áreas associadas às tecnologias, como a robótica. Costa entende o processo como um momento de transformação, pois a grande maioria dos professores que estão atualmente em sala de aula não tiveram uma formação voltada às tecnologias.

“Quem está vendo isso são os [professores] mais recentes, mas a grande maioria não tem isso e os alunos têm. Então, essa mudança, até que isso fique em igual tamanho vai demorar muito tempo, não muito, mas vai demorar algum tempo”, analisou.

Formar críticos

O papel dos professores diante das novas tecnologias é formar cidadãos críticos, apontou a especialista em educação. A professora da Uninter avaliou que os docentes precisam dispor de metodologias inovadoras e abrir o processo de conteúdo para saber o que usar frente ao universo enorme de tecnologias.

“Para mim, o mais importante de tudo e que é basilar é a formação da criticidade, tanto dos professores quanto dos alunos, e não mais a preocupação em relação a acesso”, argumentou.

“Há um tempo atrás a gente ensinava os alunos a terem acesso às tecnologias, mas o que nós temos que fazer hoje é ensinar ou construir junto com o aluno uma visão mais crítica em relação às tecnologias. Então, a criticidade, não aquela crítica no sentido negativo somente, mas a criticidade de perceber potencialidades das tecnologias que funcionam, aonde elas podem nos levar e quais são os limites e linearidade entre o que a gente quer e o que é possível”, afirmou.

Portanto, destaca a especialista, a educação é um caminho para preparar os estudantes para o futuro cheio das tecnologias, no entanto, com o olhar voltado para o que virá com elas.

“Estamos num sistema capitalista mais do que nunca agora e existem interesses financeiros, econômicos e sociais por trás das tecnologias. E com isso a manipulação dos alunos. Então, o que cabe aos professores frente às novas tecnologias é despertar a criticidade nos alunos para que eles possam fazer uso delas, mas sabendo qual é a moeda de troca em relação a isso”, contou.

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