A qualificação profissional é um caminho transformador; É nele que sonhos são construídos e desejos vão se tornando realidade, em meio a tempos de crise e desemprego. A qualificação pode ser uma ponte entre a incerteza e o sucesso e cursos de vida podem ser modificados.

Foi isso que aconteceu na vida da Sheilla Figueiredo e da Maria Angélica Silvestre, duas ex-alunas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) Goiás. As duas fazem parte de um universo de cerca de 120 mil pessoas que a cada ano são preparadas em diferentes regiões do estado para atividades ligadas ao setor industrial.

Alunos em atividade de laboratório do Senai. Foto: Danilo Moura.

Histórias transformadas

Maria Angélica era professora de História e enfrentava dificuldades para encontrar um emprego com carteira assinada. Ela tinha o desejo de maior estabilidade na carreira. Foi aí que ela pesquisou e fez o curso de Técnico em Segurança do Trabalho no Senai. Em pouco tempo ela já estava atuando na área.

“Eu estava com dificuldades para achar um emprego com carteira assinada que me desse uma estabilidade maior, fui atrás de outras opções e procurei sobre o curso de Técnico em Segurança do Trabalho lá no Senai e comecei a cursar em 2018 e um ano depois eu já consegui estágio na área”, destacou Maria Angélica.

Maria Angélica em atividade numa obra. Foto: Maria Angélica Silvestre.

Já a Sheilla era farmacêutica há mais de 20 anos, até que seu esposo montou uma indústria de envasamento de água de coco resfriada. Ela resolveu sair da farmácia em que trabalhava para assumir a área técnica da empresa familiar. Sheilla entendeu que para ter sucesso precisava avançar e assim fez o curso de Técnico de Alimentos no Senai e foi aí que a chave virou em sua vida.

“Sentia realmente que faltava alguma coisa e foi quando comecei o curso de técnico de alimentos do Senai. E foi algo que mudou totalmente a minha vida, até brinco que foi antes do Senai e depois do Senai. Porque com o aprendizado de lá, eu pude melhorar bastante o nosso dia a dia, processos melhorias contínuas na rotina da empresa, planilhas, etc tudo isso com maior conhecimento”, disse Sheilla.

Sheilla trabalhando na indústria. Foto: Luciana Maciel

O consultor Educacional do Senai Goiás, Danilo Moura reforça que há parcerias com indústrias, e que o aluno além de sair qualificado, ainda pode receber uma boa vantagem no bolso. “Aqui temos parcerias com as indústrias, e elas nos procuram atrás de mão de obra qualificada, aquele aluno já sai do curso com uma nova esperança, inclusive com uma média salarial que ele não imaginava ganhar”, destacou.

Para se ter ideia, os profissionais tecnólogos formados pela instituição conseguem renda média salarial de 3,27 salários-mínimos, valor superior ao rendimento médio nacional, que é de 2,42 salários-mínimos.

Laboratório em unidade do Senai Goiás. Vídeo: Danilo Moura.

Alcance

Em 2022, o Senai Goiás completou 70 anos. Segundo dados da instituição, entre 1952 e 2021, o serviço de aprendizagem industrial teve 2,9 milhões de matrículas em diversos cursos de qualificação profissional que abrangem cerca de 450 tipos de cursos e programas. Somente no ano passado, 147.379 matrículas para formação de mão de obra para o setor industrial no Estado, com 2.255 empresas atendidas.

O diretor de Educação e Tecnologia do Sesi/Senai, Claudemir Bonatto, explica que a expectativa é que até o final de 2022, 115 mil alunos, compostos por jovens e trabalhadores, como a Sheilla e a Maria Angélica, devem concluir ou continuarão estudando no SENAI em 2023. Somente em cursos de qualificação profissional são cerca de 45 mil alunos que já fizeram ou ainda estão fazendo o curso.

Ele relatou que as ações de educação profissional chegaram a 148 municípios goianos, e são cerca de 30 áreas de atuação industrial que estão firmados em dois fortes pilares: Educação e Tecnologia. O diretor ressalta que a formação pode impulsionar uma carreira, pois competências são desenvolvidas ao longo de um curso.

“Porque a gente não faz simplesmente a formação profissional, nós desenvolvemos nos nossos alunos competências, e hoje quando você identifica no mercado uma vaga, uma oportunidade de trabalho, na essência o que a empresa está buscando é um profissional que detenha determinadas competências, quando você prepara um profissional, ele passa a ter um processo de aprendizagem e desenvolve nele conhecimentos, em habilidades, atitudes, ele chega para ocupar a vaga com um perfil mais adequado, portanto, a taxa de sucesso é maior”, destacou.

Claudemir Bonatto é diretor de Educação e Tecnologia do Sesi/Senai, em Goiás.

A rede goiana do Senai, formada por 18 unidades fixas, dez das quais integradas com o Sesi, 5 núcleos e 11 unidades móveis.

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Suprir carências

Goiás abriu 8,3 mil vagas de emprego com carteira assinada em setembro deste ano, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pelo Ministério do Trabalho e Previdência.

Os setores que apresentaram maior número de oportunidades são serviços (30.548) e comércio (18.196). Na sequência, estão indústria (11.736), construção (8.266) e agropecuária (1.093). No setor industrial a quantidade de contratados só não é maior, por conta da falta de qualificação profissional.

Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), indicam que cinco em cada dez empresas relatam dificuldades em encontrar pessoas habilitadas para determinadas funções. A escassez de profissionais qualificados é uma queixa antiga de empresários da indústria. A falta de talentos para ocuparem determinados cargos ainda é uma realidade.

Jaime Canedo é empresário do ramo da Indústria Química e presidente do Conselho Temático da Micro, Pequena e Média Empresa (Compem) da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (FIEG). Para ele, é fundamental um investimento na educação e qualificação profissional.

“Quando se trata de uma indústria que está em evolução, com a tecnologia 4.0, 5.0, o profissional tem que ter essa qualificação, o profissional precisa lidar com equipamentos eletrônicos, processos diferenciados e isso tem exigências. A Federação das Indústrias através de suas casas Sesi/Senai, mas a gente está sentido ainda que nesta área da indústria há uma carência de profissionais qualificados”, descreveu.

Jaime trata a capacitação profissional como uma forma de aumentar a produtividade e impulsionar o sucesso de uma empresa. “A diferença está na diferença na habilidade e no resultado. Hoje a indústria busca produtividade, quanto maior a produtividade, menor será o seu custo final do produto, daí a necessidade do profissional que saiba lidar e ser inserido neste processo de produtividade, um dos maiores desafios da indústria brasileira”.

De acordo com o Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, um estudo realizado pelo Observatório Nacional da Indústria para identificar demandas futuras por mão de obra e orientar a formação profissional de base industrial no país, até 2025, Goiás precisará qualificar 309 mil pessoas em ocupações industriais, sendo 63 mil em formação inicial para repor inativos e preencher novas vagas e 246 mil em formação continuada, para trabalhadores que devem se atualizar. Segundo o levantamento, 79% da necessidade formação nos próximos quatro anos será de aperfeiçoamento.

Taxa de ocupação

Segundo o Sistema de Acompanhamento de Egressos da Educação Profissional do Senai (Sapes), a taxa de ocupação dos egressos do Senai são satisfatórias. Claudemir Bonatto explicou que os índices a depender do tipo de curso variam entre 60 e 90%. “A gente aborda estes alunos depois que eles fazem a formação e perguntamos como estão, ou seja, a taxa de sucesso é de praticamente é de emprego garantido. É um aluno que já chega sabendo fazer, os indicadores de produtividade são plenamente atendidos”, afirmou Bonatto.

Para o consultor Educacional do Senai Goiás, Danilo Moura, a qualificação é importante para o indivíduo, mas também para a comunidade em que ele está inserido. Danilo avalia que diversas pessoas por questões financeiras acabam não tendo oportunidade para concluir os estudos e quando chegam ao Senai, devido a proposta de ensino feita, além da qualificação, há mudança de vida.

O consultor avalia que, em muitos casos, trabalhadores chegam a instituição com pouca ou nenhuma expectativa na sua vida profissional e aos poucos as coisas vão mudando. “Várias pessoas que chegam até nós não têm expectativa em melhorar profissionalmente. Mas após um trabalho de consultoria, há todo um processo de qualificação, pois ela começa a se ressocializar, com convivência na sala de aula. A pessoa começa ver que há sim como crescer profissionalmente”, disse.

Continuidade

Lembra das histórias da Sheilla e da Maria Angélica? Elas contam que além de aprender o ensino técnico, os cursos também ajudaram elas a vencer em outras frentes. Para Maria Angélica, a busca pelo conhecimento ainda não parou e continua mudando sua vida. “Tem mudado e continua mudando porque não pode parar. Hoje tenho curso de auditorias internas, de bombeiro civil, a busca é contínua e não pode parar, não é só formar e trabalhar, é se capacitar e trabalhar todos os dias”.

Sheilla, por exemplo, perdeu a timidez e conquistou novos parceiros. “O Senai não trabalha só a questão da indústria realmente, mas tivemos também muita aula de gestão, de comunicação, isso também me ajudou em relação a ter novos parceiros, novos clientes, onde fazemos as entregas diárias de água de coco, as palavras certas, a forma certa de como conversar com os clientes e uma gestão também, todo o processo foi melhorado com o conhecimento que adquiri”, finalizou.

Indústria de envasamento de água de coco em que Sheilla atua. Vídeo: Luciana Maciel

O consultor Danilo Moura entende que as histórias de vida de Sheilla, Maria Angélica e milhares de pessoas também servem de fonte de inspiração para ele e demais colaboradores do Senai. “Quando a gente trabalha com educação a gente vê coisas novas, e isso nos ajuda nos qualificar. A história dos alunos também nos motiva a ter um preparo melhor”, analisou.

Moura relatou que é gratificante para ele ver a transformação de vida, a partir do momento em que trabalhadores procuram sair da sua zona de “desconforto” para alçar novos voos na carreira. O sentimento é muito gratificante e neste curto espaço de tempo, em quatro, cinco meses a vida da pessoa muda da água para o vinho, muda a condição financeira, consegue dar uma melhor condição para a sua família. Às vezes, pessoas que têm filhos. A Educação transforma a vida da pessoa e possibilita ela sonhar novamente”, completou.