Um radialista de 80 anos de idade terá o sonho de concluir o curso de História realizado na noite desta terça-feira (2), no Campus Norte da Universidade Estadual de Goiás (UEG), sediado em Uruaçu, no norte do estado. A colação de grau de José Gomes Ferreira, acontecerá às 20h, junto com o curso de Ciências Contábeis e será realizada virtualmente, por causa da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

“Sonhei com uma formatura presencial, mas essa doença não permitiu”, disse resignado o mais novo historiador, que será o orador da turma.

Os professores do curso de História relatam a assiduidade e a participação do aluno octogenário. “A cabeça dele não para, está sempre pensando, querendo aprender, querendo participar e isso é muito impressionante e muito gratificante de ver”, relatou a professora Aline do Carmo.

José Gomes conta que quando chegou ao Campus Norte há quatro anos, se sentiu um pouco tímido, pois iria conviver com pessoas mais jovens. “Logo isso passou, pois fui muito bem recebido por todos na Universidade”, explicou. Para que José pudesse concretizar o desejo de dar continuidade aos estudos, ele viajava todos os dias 176 km em um transporte que tinha um custo de quase 300 reais por mês.

De acordo com o professor Neilson Silva Mendes, era preciso ter paciência com os limites dele. “Muito bom ter alunos como ele, cuja sede de conhecimento é uma inspiração para qualquer professor”, salientou. “Sua lucidez, a capacidade de ler o cotidiano, o olhar poético sobre a vida tornava a relação de ensinar e aprender uma troca muito rica para mim”, destacou o professor.

Feliz com a conquista, José Gomes deixou uma dica para os jovens: “Não desistam dos sonhos. Tentem, tentem, tentem. Se for para desistir, é melhor não começar “.

O professor Manoel Gustavo de Souza Neto enalteceu a assiduidade e a participação ativa do senhor José Gomes nas aulas. “Ele sempre foi assíduo e muito interessado, nunca deixou de pontuar as aulas com indagações ou colocações fundamentadas em sua experiência de radialista. Foi uma honra ter sido seu professor. Aprendi muito”, diz Manoel.

Com a conclusão do curso, o novo historiador tem outro sonho em mente: escrever um livro. Ele entende o amanhã como uma página em branco, pronta para ser escrita. “O dia de amanhã ninguém usou, ele é nosso”, expressou.

Início

A história de José Gomes Ferreira, tem início no ano de 1939, no interior de Minas Gerais. Ele foi para a escola com treze anos, porém ficou lá apenas cinco meses, que segundo ele foi o tempo suficiente para aprender a ler, escrever e fazer as contas. O José veio para Goiás na década de 60. Morou em Barro Alto e em 1977 e mudou-se para Niquelândia, onde reside até hoje. Na cidade, o aposentado atuou como radialista em duas emissoras, com programas que falavam de esperança e de histórias.