Fernando Francisco Reges é um dos jogadores mais queridos da torcida do Vila Nova. Ele estourou para o futebol mundial em 2007, mas com a camisa amarela da seleção brasileira, o atleta, então jogador colorado, disputou o Sul-Americano Sub-20 realizado no Paraguai. Foi lá que chamou a atenção do Porto, clube que na sequência defenderia por seis temporadas.

No Dragão, como o clube português é conhecido na Terrinha, Fernando conquistou 13 taças: quatro do Campeonato Português, três da Taça de Portugal (equivalente a Copa do Brasil), cinco títulos da Supertaça de Portugal e uma Liga Europa. Além disso, o futebol apresentado no Porto não passou despercebido e ele, é hoje, uma peça importante no elenco do Manchester City. Em 2014, os Citizens pagaram cerca de R$ 45 milhões para tirá-lo de Portugal.

Três anos depois Fernando continua se destacando no meio-campo, ainda no clube inglês, que agora é comandado por Pep Guardiola. Ele que é um dos melhores técnicos do futebol mundial. É idolatrado por muitos, sonho para outros. E além da admiração e o respeito, também o rancor, sobretudo de alguns atletas. Mudança, principalmente de filosofia, é o que está rolando nessa temporada no Manchester City. E quem está aproveitando esse período é o meia Fernando.

O jogador recebeu o repórter Juliano Moreira, da Rádio 730, em sua casa em Manchester e mostrou-se tranquilo para falar do passado, do presente como é a metodologia de Pep Guardiola, das ambições em relação ao futuro. Sua relação com o Vila Nova. Revelou uma história inédita sobre a quase ida para o Goiás, além do desejo de ser convocado e de um dia ser reconhecido no Brasil.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

O Vila foi o começo, mas ele pode ser o que para você no futuro?

– Procuro deixar na mão de Deus, mas trabalho para fazer o meu melhor. Hoje meu objetivo é continuar aqui, mas o Vila Nova estará sempre no meu coração. Se um dia aparecer a oportunidade de jogar, seja por uma temporada ou para encerrar minha carreira, será muito bonito por sido o time que me deu oportunidade de crescer. É um clube que sempre torço, meu sobrinho atua no sub-15, minha família terá o Vila Nova nos corações.

É verdade que você quase parou no Goiás?

– Acho que isso é inédito. Em 2004 passei em um teste no Vila Nova e me avisaram do sucesso no teste, mas pediram para eu voltar pra minha cidade e posteriormente regressar ao Vila. Só que meu irmão já morava em Goiânia, e ele me falou pra não ir embora e fazer um teste no Goiás. Fomos para o Goiás, fizemos o teste, mas o Vila ficou sabendo. Meu irmão então falou pra eu ir no clube já com a mala pronta para ficar. E quando cheguei lá (Vila Nova) eles me questionaram do teste realizado no Goiás e reparam na mala. Eu falei que já vim pra ficar e acabou dando tudo que deu.

Você lembra daquele time de 2005?

– Vinícius no gol; o lateral direito era o Hugo; zagueiros eram o Ronan e Vitor, o doido; o lateral esquerdo era o Eduardo; no meio Alisson, Leandro Assis, e eu; na frente Luís Ricardo, Paulo Ramos e Pedro Júnior. Esse time não pode ser esquecido.

Como é trabalhar com o Pep?

– É um treinador, na minha opinião o melhor do mundo, acompanhei os trabalhos dele pelo Barcelona e Bayern de Munique. Lá vi que ele já tinha muita qualidade, mas trabalhando todos os dias, escutando ele, pude perceber que ele é realmente diferenciado. Tenho aprendido muito com ele nos treinamentos, me passa muitas coisas boas. Não só pra mim, mas para todo o time. Com certeza ele vai se dar muito bem aqui no Manchester City. Lógico que existe o processo de adaptação ao futebol inglês, ele está no primeiro ano, mas é um técnico espetacular. Não é atoa que todos desejam aprender com ele.

Como o Guardiola orienta a postura que o elenco do Man. City deve seguir em campo?

– Realmente o trabalho dele (Guardiola) com o Barcelona foi algo que ninguém havia conseguido fazer na história do futebol. Todo mundo ficou impressionado com a dinâmica que eles tinham na época, mas repetir isso na Inglaterra isso será muito difícil. O futebol aqui é muito físico, sempre tem aquele lance de ‘é falta’, mas o juiz manda seguir. Mas o Pep sempre nos pede para ter a posse de bola, e que o time jogue com agilidade para chegar ao gol adversário. Ele aos poucos vai colocando sua filosofia.

A imprensa britânica, pela cultura, questiona muito?

– Os ingleses sabem que a Premier League é o melhor campeonato do mundo e eles querem continuar com esse status. A divulgação é sempre muito grande. Quando o Pep chegou aqui pensaram que o futebol com ele seria revolucionado, mas eles (jornalistas ingleses) diziam que não será bem assim.

Como é o vestiário do Pep Guardiola?

– Eu escutava muitas entrevistas que diziam que ele não conversava com jogadores e isso e aquilo, mas o que vejo no City é algo espetacular. Ele conversa com todos os atletas, passa tudo para nossa evolução, sempre com uma dinâmica muito boa. No vestiário ele é bem tranquilo, mesmo quando a equipe não está jogando bem, ele senta e nos passa orientações. Lógico que em algumas ocasiões ele grita, mas é normal.

Ao longa da semana é difícil compreender o Pep?

– Quando um novo treinador chega, a filosofia acaba sendo alterada também. E ele tenta passar o seu método de treinar no dia a dia. No começo não foi fácil, hoje em dia acho que entendemos bem o jeito dele de comandar o time, mas é um processo que para alcançar a perfeição será com o tempo.

Ele fala de assumir o comando de uma seleção?

– Por incrível que pareça não. Uma vez ele me perguntou o que houve de alteração para a sequência de vitórias do Brasil, expliquei que foi mudança de trabalho com a chegada do Tite. Trouxe uma nova dinâmica para a seleção, jogadores certos. E ele (Tite) é um cara que quer aprender sempre. Isso faz total diferença.

Como foi crescer no Vila Nova e hoje representar o Brasil no Manchester City?

– Tudo correu muito bem na minha carreira, sair do Vila Nova direto para o Porto já era algo muito difícil. Por lá fiquei seis anos, conquistei ao todo 13 títulos. Tenho uma história muito linda e sou tratado muito bem em Portugal. Quando cheguei no City, em 2014, foi outra transação bombástica na época. E aqui tenho os objetivos de conquistar a Premier League e a Champions League.

O Velho Continente é ‘frio’, mas como amenizar essa frieza na temperatura e dos europeus?

– Procuro sempre ser família, ter pessoas boas ao meu lado. Não perder o ‘Brasil’ na família, principalmente quando é preciso encarar o frio, a língua, as pessoas e todas as dificuldades. Hoje estou bem adaptado e encaro isso com muita naturalidade.

Como foi seu primeiro contato com o Gabriel Jesus?

– É um menino espetacular, bem tranquilo e com pés no chão. Com certeza ele vai se dar bem no Manchester City e vai concretizar esse status de revelação brasileira. Ele poderia chegar com uma empolgação muito grande, mas já se mostrou um jogador muito cabeça.

Como é disputar uma partida de Uefa Champions League (UCL)?

– É fantástico, lembro que minha primeira partida da UCL foi contra o meu maior ídolo, o Alex. Porto vs Fenerbahçe. Aquela noite foi incrível, a primeira coisa que pedi a ele foi para trocar a camisa. O pessoal do Porto achou um pouco ruim, mas eu não poderia perder a oportunidade.

Quais foram os melhores jogadores que você já enfrentou aqui?

– Eu sempre pego os melhores, por ser jogador do meio-campo, onde começam as jogadas criativas. Rooney, Cristiano Ronaldo e Messi. Em algumas vezes eles estão inspirados aí fica ainda mais difícil. Todos são bem complicados de marcar, cada um com sua característica. O Messi é um jogador que cola a bola no pé quase ninguém tira. Já o Cristiano é muito rápido e quando dispara…

Você tem pé no chão com a seleção brasileira?

– Brasil é mais difícil, Tive a oportunidade de ser convocado pela Seleção de Portugal em 2014, sou naturalizado e só não fui pra Copa realizada no Brasil porque fui convocado pelo sub-20 do Brasil. Não sei se isso (naturalização) pode atrapalhar em uma futura convocação, mas não é algo que coloco muito na minha cabeça para não me iludir. Se acontecer será mais uma realização na minha carreira.