Ossos salientes, fraqueza extrema, pele seca e sem elasticidade, cabelos raleados, ferimentos pelo corpo são sinais evidentes de desnutrição severa. E a recuperação pode levar muito tempo, fator que varia de uma pessoa para outra. É o que alerta a nutricionista e professora da UniEvangélica, Giovanna Mello, em entrevista à Sagres.

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“O tempo de resposta é muito individual. Quando se tem um paciente emagrecido, debilitado e não consegue mais se levantar, a resposta pode durar meses e até mais de ano, porque até esse indivíduo conseguir restabelecer o seu peso ideal, leva tempo”, argumenta.

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A desnutrição ocorre em uma comunidade social e economicamente vulnerável, cenário encontrado geralmente em países pouco desenvolvidos ou em desenvolvimento. São indivíduos sem nenhuma assistência ou em situação de abandono, como o que vem ocorrendo no território Yanomami, em Roraima. Só em 2022, o Ministério dos Povos Indígenas estima que 570 indígenas tenham morrido de fome, principalmente crianças.

Giovanna Mello acrescenta que o tratamento para desnutrição, nesses casos, é feito com o aumento gradual da quantidade de calorias ingeridas, já que um organismo debilitado não tem condições de receber grandes quantidades de alimento. “Assim como para emagrecer é preciso de tempo, para restabelecer esse estado nutricional também é necessário um tempo considerável”, afirma.

Sem alimentos e nutrientes, no entanto, a necessidade de buscar energia para o bom funcionamento do organismo faz com que o corpo esgote as reservas de gordura e músculos, gerando a queda brusca de peso e a fraqueza.

“Temos reserva de energia do nosso tecido adiposo, que é a “gordurinha”, e começa a gastar também a reserva muscular. Então a gente vê aquele indivíduo com aquela aparência emagrecida, com menos músculo, que tem a panturrilha e o braço mais fininhos, porque foi gastando os músculos do organismo para fazer energia e manter o organismo em funcionamento”, explica Giovanna.

Comer mal também desnutre

Engana-se quem pensa que a desnutrição está ligada só à ausência de alimentos. Uma dieta com poucos nutrientes e rica em calorias, ou seja, má alimentação, também pode resultar em um organismo desnutrido, porém obeso e sedentário.

“São alimentos industrializados, prontos, que têm uma baixa quantidade de vitaminas e de proteínas, apesar de terem uma quantidade significativa de calorias. Do ponto de vista de calorias, o indivíduo consegue atingir a necessidade calórica dele, mas não consegue atingir a necessidade de proteínas, vitaminas, pois a gente precisa desses nutrientes para o bom funcionamento do organismo”, reforça.

Alimentação

Ter consciência de que é preciso repensar a alimentação é o primeiro passo para recuperar-se da desnutrição causada por falta de nutrientes. O ideal, segundo Giovanna Mello, é manter uma rotina alimentar balanceada, rica em proteínas e vegetais.

“Sabendo que salgadinhos de pacote, bolachas recheadas e macarrão instantâneo são alimentos que têm bastante calorias mas são vazios em conteúdo de proteínas, é preciso pensar em uma alimentação que inclua esses nutrientes”, afirma.

Pensando em grandes refeições como almoço e jantar, Giovanna Mello orienta que o prato precisa ser dividido em quartos, com um reloginho. “Metade do prato precisa ser composto de vegetais, como folhas, vegetais cozidos e outros tipos de saladas. Na outra metade, um quarto seria para arroz e feijão, e no outro quarto uma proteína. A proteína não precisa necessariamente ser uma carne, mas um ovo ou um queijo, uma leguminosa, grão de bico ou lentilha”, enumera.

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