Trabalhar em uma posição sentada por longos períodos, sem pausas adequadas, pode significativamente elevar o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, de acordo com um estudo conduzido pela Universidade Médica de Taipei, em Taiwan. A pesquisa, que acompanhou aproximadamente 480 mil indivíduos ao longo de 20 anos, revelou que essa prática pode aumentar em até 16% o risco de morte prematura.

Raquel Casarotto, professora do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional (Fofito) da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo, ressalta os perigos associados a períodos prolongados na posição sentada e fornece insights sobre como adaptar o corpo ao ambiente de trabalho para mitigar esses riscos.

Raquel Casarotto – Research Gate

Segundo a especialista, permanecer sentado por longos períodos pode levar ao surgimento de problemas musculoesqueléticos, tais como distúrbios e lesões que afetam músculos, nervos, articulações, cartilagens e discos da coluna vertebral, frequentemente acompanhados por desconforto e dor. Os problemas posturais mais comuns concentram-se principalmente na região cervical e lombar da coluna.

“Além das dores na coluna cervical, na região do pescoço, e na coluna lombar, que é a parte de baixo da coluna, se uma pessoa trabalha sentado e tem um posto de trabalho que não está ajustado adequadamente a ela, também podem ocorrer dores em outros locais, como no ombro, zno joelho, no quadril, tornozelo e nos membros superiores, como punho e cotovelos”, afirma a Julio Silva do Jornal da USP.

Outros problemas

Além dos problemas musculoesqueléticos, o comportamento sedentário associado ao trabalho prolongado na posição sentada pode resultar em complicações de saúde mais sérias. Um desses desafios é o aumento da resistência à insulina, que pode contribuir para o desenvolvimento de diabetes tipo 2.

Raquel destaca ainda que o comportamento sedentário pode levar ao acúmulo de lipídios na corrente sanguínea, promovendo a obstrução vascular, conhecida como aterosclerose. As doenças cardiovasculares mais comuns associadas a essa condição incluem infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs), também conhecidos como derrames.

“Além desses problemas mais comuns, pode-se ter também a obstrução vascular periférica, que, dependendo da gravidade, pode causar até a amputação de membros. Então, essas doenças todas são causadas pelo aumento de lipídios circulantes, por isso, é importante evitar esse comportamento sedentário”, discorre.

Fora do trabalho

Como explica a professora, é importante que os indivíduos que trabalham longos períodos sentados não fiquem nessa posição em seu tempo de lazer fora do ambiente de trabalho. Ela alerta que mesmo a prática de atividades físicas isoladamente não é capaz de amenizar os transtornos causados por permanecer muito tempo sentado e, portanto, para reduzir esses efeitos é importante organizar pausas para se movimentar durante a jornada de trabalho.

“Esses problemas ocorrem independentemente da prática de atividades físicas. Então, se uma pessoa fica oito horas sentado no trabalho, depois mais três horas sentado vendo televisão e então vai correr uma hora na academia não adianta nada, isso ainda vai aumentar o risco para todas essas doenças vasculares”, avalia.

Segundo a docente, os trabalhadores frequentemente precisam se movimentar dentro do espaço da própria empresa. Ela conta que os especialistas fazem algumas sugestões básicas sobre como se exercitar no local de trabalho e que fazem total diferença para o bem-estar e o combate a doenças. 

“Temos aquelas orientações básicas: se for trabalhar de condução, desce um ponto antes para andar mais. Durante o trabalho é importante organizar pausas, sair para andar, levar um documento, tomar um café, ir ao banheiro, andar mais dentro da própria empresa. Se tem andares, vai para um andar, depois para o outro”, orienta.

Ambiente

De acordo com Raquel Casarotto, as pausas e movimentações no trabalho reduzem os riscos de adquirir as doenças cardiovasculares, mas, para amenizar os problemas musculoesqueléticos, é fundamental ajustar o ambiente de trabalho. Ela diz que os trabalhadores que têm essas dores geralmente possuem cadeiras que não estão adequadas às medidas antropométricas do seu corpo, além de uma disposição ruim do mobiliário.

Conforme a professora, as variáveis relacionadas ao ambiente de trabalho que geram mais dores no sistema musculoesquelético envolvem utilizar cadeiras que apoiam apenas a região lombar, ter o mouse afastado do teclado, ter a cabeça inclinada 45º para baixo e trabalhar mantendo os dois braços acima do nível da mesa. Ela alerta, contudo, que não adianta ter o posto de trabalho adequado e continuar sentado por longas horas, pois os problemas vão continuar.

“O ideal é, quando você ficar cansado, começar a se sentir incomodado, você levantar, tem um trabalho que mostra que, a partir de 40 minutos sentado, já começam a aparecer os sinais de fadiga. Não temos uma recomendação precisa de horas, mas a recomendação em geral, que nós especialistas damos, é que a cada uma hora as pessoas se levantem”, finaliza.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar

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