SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A companhia russa de energia Gazprom avisou a Polônia e a Bulgária nesta terça-feira (26) que irá suspender o fornecimento de gás, após Varsóvia impor novas sanções a indivíduos e empresas do país comandado por Vladimir Putin.

Com a medida que começa a valer nesta quarta (27), os países se tornam os primeiros a ter o gás cortado pelo principal fornecedor da Europa desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, mostrando uma resposta mais dura de Moscou às sanções do Ocidente.

Os governos de Varsóvia e Bulgária anunciaram que suas estatais receberam um aviso sobre o corte. A empresa russa alegou que não estava suspendendo o fornecimento à Polônia, mas que o país teria que pagar pelo gás de acordo com sua nova “ordem de pagamento” -não comentou, porém, sobre a Bulgária.

A companhia se refere à exigência de Putin de que países que ele classifica como “hostis” teriam de abrir contas no banco Gazprom para fazer os pagamentos pela importação do gás em euros ou dólares, que depois seriam convertidos em rublos.

Apenas alguns compradores do gás russo, como a Hungria e a Uniper, principal importadora da Alemanha, disseram ser possível pagar pelo produto de acordo com nova regra sem que as sanções europeias sejam violadas.

A Bulgária diz ter cumprido “plenamente suas obrigações” e feito os pagamentos estabelecidos pelo contrato “em seu devido tempo”. O país dos Bálcãs denunciou, ainda, “o novo procedimento de pagamento em dois tempos proposto pela parte russa”. “Não se ajusta ao contrato vigente até o fim deste ano e apresenta riscos significativos para a parte búlgara, como realizar pagamentos sem receber nenhuma entrega de gás da parte russa.”

Tanto a Bulgária como a Polônia, membros da União Europeia e da Otan (aliança militar ocidental), possuem contratos que expiram no fim deste ano. A empresa de gás polonesa, no entanto, repetidamente declarou que não iria concordar com o novo esquema de pagamentos, nem estender o acordo.

A Polônia é um firme opositor político da Rússia e está entre os europeus que buscam respostas mais duras à invasão da Ucrânia. Mais cedo nesta terça, o governo anunciou uma lista de 50 oligarcas e empresas russas, incluindo a Gazprom, que estariam sujeitos a sanções de acordo com uma lei aprovada no início do mês, permitindo que seus bens sejam congelados -a legislação é um adicional às medidas impostas pela União Europeia.

Kiev reagiu à decisão e acusou Moscou de estar chantageando a Europa. “A Rússia está tentando destruir a unidade dos nossos aliados. A Rússia também está provando que as fontes energéticas são uma arma”, afirmou Andrii Iermak, chefe de gabinete do presidente Volodmir Zelenski. “É por isso que a Europa precisa estar unida e impor um embargo aos recursos energéticos, privando os russos de suas armas energéticas.”

Tom Marzec-Manser, líder de análise de gás na empresa de inteligência de dados ICIS, afirmou que “isso é um alerta sísmico disparado pela Rússia”. “A Polônia tem uma postura anti-Rússia e anti-Gazprom há vários anos, o que não é o caso da Bulgária. Então ver que a Bulgária terá cortado [o fornecimento de gás] é também um grande desenvolvimento por si só.”

Apesar do corte, os dois países garantiram que não haverá escassez do produto. “Desde o primeiro dia da guerra, declaramos que estamos preparados para a plena independência das matérias-primas russas”, escreveu no Twitter a ministra do Clima da Polônia, Anna Moskwa.

As autoridades declararam que o país possui 76% de sua capacidade de 3,5 bilhões de centímetros cúbicos armazenada e diversas alternativas de fornecimento disponíveis. A estatal de gás disse ainda que iria agir para reinstaurar o fornecimento sob o contrato com a Gazprom e que qualquer suspensão era uma quebra desse acordo. Acrescentou que também buscará compensação pela violação das normas estabelecidas no tratado.

O contrato da Polônia com a empresa russa é de 10,2 bilhões de metros cúbicos por ano, o que cobre cerca de 50% do consumo nacional. Mais cedo, dados das operadoras da rede de transmissão de gás da União Europeia apontaram que o fluxo por meio do gasoduto Yamal-Europa havia sido suspenso, retornando no fim desta terça.

O governo da Bulgária, por sua vez, declarou que havia realizado “ações para encontrar acordos alternativos para o fornecimento de gás natural” e assegurou que “por enquanto” não está prevista nenhuma medida restritiva de consumo. Cerca de 90% do gás consumido no país é fornecido pela empresa russa.​