Em Goiás, 9.708 pessoas se declararam indígenas. Destes, no entanto, aproximadamente 500 vivem em terras indígenas. Os dados são do Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em todo o país são 896.917 indivíduos. Mas você sabe onde estão localizadas essas etnias em nosso estado?

O território goiano, que já chegou a ter 12 povos indígenas, atualmente possui apenas três terras homologadas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai): Karajá, cuja homologação ocorreu em 2000; Tapuio, homologada em 1990; e Avá-Canoeiro, em 1983. 

Localização

Localização dos Karajá em Goiás, na divisa com Mato Grosso

Os Karajá estão localizados em Aruanã, município próximo à divisa com o estado do Mato Grosso, acima de Britânia. No local, uma parcela dos indígenas encontra-se na margem matogrossense do Rio Araguaia. São 3 mil indivíduos em 29 aldeias nos dois estados. 

Já o povo Tapuio vive na região do Vale do São Patrício, em duas regiões localizadas entre os municípios de Crixás, Nova América, Araguapaz e Rubiataba, chamadas de “Carretão I e II”. No século XVIII eram 5 mil pessoas. De lá para cá, a população tapuia foi reduzida a 200, segundo o Censo 2010.

Localização do povo Tapuio (Fonte: Seplan-GO)

No caso dos Avá-Canoeiro, são dez indivíduos ao todo, que ficam na região entre os municípios de Colinas do Sul e Minaçu, às margens do Lago Serra da Mesa. A etnia possui a sua maior parte concentrada no estado do Tocantins.

Localização das famílias Avá-Canoeiro (Fonte: Sieg-GO/Funai)

Confira o mapa geral a seguir

Localização dos 3 povos indígenas em território goiano (Fonte: Sieg-GO)

As etnias

O professor de História da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Câmpus Cora Coralina da Cidade de Goiás, Euzébio Fernandes de Carvalho, que estuda os povos indígenas no estado, enumera particularidades de cada etnia. 

Os Karajá, por exemplo, são conhecidos pela confecção de peças de barro, como as bonecas. “Pequenas de peças de barro, em formato de boneca, isso é possível ver muito, que são as bonecas Karajá”, afirma o professor. 

Bonecas Karajá (Foto: Secult/Governo do Tocantins)

Se você já frequentou ou gosta de ir às praias do Rio Araguaia, na chamada “alta temporada”, que ocorre no verão e, principalmente, no mês de julho, saiba que essa tradição tem origem no povo Karajá. 

“Nas praias eles têm o seu momento de festa. O mês de julho é muito importante para eles. Acontecem festas. Para o povo karajá, eles nascem do Rio Araguaia, eles saem do rio. O nosso costume goiano de gostar da temporada do Araguaia está intimamente ligado com a existência do povo karajá”, argumenta. 

Tapuio

A aldeia dos Tapuio, chamada de Carretão ou também de aldeamento Pedro 3º, foi criada em 1788. O processo de aldeamento consiste em concentrar povos indígenas em um determinado local. 

“O aldeamento funcionava assim: a Coroa Portuguesa escolhia um local no território para construir um aldeamento, a igreja entrava nesse aldeamento para coordenar as ações e atividades, e a Coroa começava a concentrar os indígenas nesse ponto”, explica Euzébio. 

Para essa região foram enviados indivíduos Xavante, os Caiapó do Sul, os Xerente, os Karajá, os Javaé e as pessoas negras escravizadas. Segundo o professor, essa concentração de povos resultou em uma miscigenação, que deu origem aos Tapuio.

“Hoje a gente olha para um indígena Tapuio e logo acha que são pessoas pretas ou pardas, justamente porque processo histórico que resultou nos tapuias é o de forçar a miscigenação, a mistura racial”, explica. 

Avá-Canoeiro

Dos dez indivíduos que vivem no povo Avá-Canoeiro, a maioria advém de outro povo, os Tapirapé. Isso porque uma jovem avá-canoeiro casou-se com um indígena tapirapé, com quem teve três filhos. Estas crianças, assim como a mãe, são consideradas avá-canoeiro. 

Em seguida, um casal tapirapé, também com três filhos, migrou para a região, formando o grupo com duas famílias. A maior representação avá-canoeiro encontra-se no Tocantins. “Eles realmente são canoeiros. Uma característica dessa etnia é que eles navegavam. É uma etnia do tronco Tupi e usavam canoas para navegar nos rios Tocantins e Araguaia”, relata. 

De acordo com o professor Euzébio, a razão pela qual os Avá-Canoeiro foram praticamente dizimados em Goiás é a resistência histórica desses indivíduos à interferência do chamado Estado Brasileiro, ou seja, a ação do homem branco. 

“Eles resistiram a todo e qualquer contato com o branco. Apenas em 1983, os Avá-Canoeiro fizeram contato com um morador [não-indígena] da região que hoje abriga a Usina de Serra da Mesa. Antes disso eles resistiram bravamente à invasão de suas terras e evitavam o contato com não-indígenas e revidavam todas as ações dos fazendeiros de se apropriar de suas terras. Por isso, a gente entende por que eles são tão poucos atualmente, porque foram muito bravos na defesa de seu território e, portanto, foram assassinados”, conta. 

Uma preocupação em relação a esse povo é o valor cultural. O historiador acredita que a língua falada pelos Avá-Canoeiro pode desaparecer a qualquer momento, dada a quantidade reduzida de indivíduos em território goiano.

“Quando uma língua morre, a gente perde uma dimensão muito grande humanidade, que fica mais pobre toda vez que uma língua morre. Uma língua, assim como a nossa portuguesa, estrutura a nossa visão de mundo, as palavras, o sentido. É uma coisa muito triste não só para Goiás, para o Brasil, mas para o mundo”, afirma. 

O professor Euzébio, da UEG câmpus Cidade de Goiás (Foto: Sagres Online)

História e cultura indígena

Os mapas e as informações desta reportagem constam no dossiê “Povos Karajá, Tapuio e Avá-Canoeiro: desafios da (re)existência”, realizado pelas professoras Lorranne Gomes da Silva, Sélvia Carneiro de Lima e do professor Edevaldo Aparecido de Souza, que você confere na íntegra a seguir.

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