Estudo publicado na revista internacional Critical Care Medicine, da Sociedade Europeia de Medicina Intensiva,no último mês de setembro, mostra que o percentual de mortalidade de pacientes submetidos à ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea), terapia conhecida como “pulmão artificial”, foi significativamente maior na segunda onda da epidemia da Covid-19 se comparado ao primeiro surto da doença (60,1% vs. 41,1%).

A pesquisa, realizada por médicos especialistas a partir de dados de 24 países, analisou o total de 319 casos, sendo 151 (47,3%) na primeira onda e 168 (52,6%) na segunda.

Em entrevista ao Sagres Sinal Aberto II desta sexta-feira (15), a médica diretora da clínica ECMO Minas, Marina Fantini, explica outros motivos que levaram a um maior número de mortes de pacientes da Covid-19 submetidos à terapia nesta segunda onda. Assista a partir de 00:28:00

“O paciente da segunda onda foi mais grave do que da primeira por uma série de motivos. A idade, outras doenças que acometeram aquele paciente além da infecção pela Covid”, afirma.

Os resultados da pesquisa apontam ainda que os principais fatores responsáveis pela piora do índice estão relacionados ao relaxamento nos critérios para indicar a terapia de acordo com o perfil e estado do paciente, e ao aumento de intervenções realizadas fora dos centros de referência.

“O doente da segunda é mais complexo, que requer uma expertise um pouco melhor para cuidar no que diz respeito à terapia da ECMO, e que eventualmente a gente pode ter usado a terapia de uma forma aventureira. Grupos novos resolveram fazer a ECMO sem ter cultivado isso ao longo do tempo”, afirma. “A ECMO não é uma terapia para aventureiros quando ela é feita no momento certo, da forma que a gente julga ser a forma correta de se fazer, os resultados não são piores, e sim melhores”, complementa.

Segundo Marina Fantini, todos os profissionais da equipe multidisciplinar precisam ter o conhecimento e estar habilitados para realizar os procedimentos de ECMO.

Foto: Sagres TV

“A ECMO não é um equipamento. É uma terapia que envolve um equipamento, uma equipe multidisciplinar que cuida do doente de uma forma integral. Além de médicos, cirurgiões, precisa de enfermeiros, a equipe precisa ter enfermeiros, fisioterapeutas, todo com treinamento e com a capacitação para se fazer a ECMO”, pontua.

No Brasil, existem 29 centros que se adequaram aos protocolos da ELSO (Extracorporeal Life Support Organization), entidade responsável por padronizar os procedimentos e acompanhar as melhores práticas do uso da ECMO em todo o mundo.

Marina Fantini acrescenta que para ser submetido à ECMO, o paciente não pode iniciar a terapia fora do tempo correto, ou seja, nem muito cedo tampouco quando já estiver com o estado de saúde considerado grave.

“Esse feeling, esse entendimento do momento certo de se iniciar uma ECMO, é uma coisa que se vai ganhando com experiência, e não uma coisa protocolar”, conclui.