No dia 14 de abril, a Secretaria Municipal de Educação – SME – enviou um ofício para todas as unidades escolares de Goiânia, com orientações sobre segurança. Em conjunto com a Guarda Civil Metropolitana, algumas ações foram definidas por causa dos ataques recentes em escolas nas cidades de São Paulo e Blumenau (SC).

Além dos fatos ocorridos, uma onda de notícias falsas na internet sobre novas ações criminosas também motivaram um olhar mais atento das autoridades, profissionais de educação e pais, sobre a segurança dos alunos. Desde então, com base nos protocolos definidos, algumas regras estão em execução. Não permitir a entrada e saída de pessoas no horário do recreio, nem mesmo de fornecedores, pais e visitantes, é uma de várias ações.

E como informar e orientar os alunos sobre as mudanças nas escolas? Uma missão não só para professores, mas também para os pais, que têm de conter a ansiedade dos filhos.

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Pais e filhos

“A minha menina disse que se esconderia, mas o meu menino disse que queria defender e salvar a escola”, disse Fernanda Nazário, mãe de um casal de gêmeos de 7 anos, que estuda na escola municipal no Jardim da Luz, em Goiânia.

Fernanda admitiu que não foi simples explicar para os filhos o que estava acontecendo. “Tive de fazer tudo com muita cautela pra não desesperar os dois”, explicou a mãe, que passou a conversar mais com outros pais e com os professores.

“Mandei em grupo de Whatsapp para a coordenadora, algumas sugestões de segurança que poderiam ser tomadas para as crianças e os professores não ficarem tão vulneráveis. Discutimos algumas questões, foram mudadas algumas normas na escola. Houve uma manifestação por parte das mães”.

Com a mesma missão dos pais de alunos das escolas municipais e estaduais, a jornalista Fernanda Dias tem um menino de 11 anos que estuda em um colégio particular no Parque das Laranjeiras. Ela também conversou com seu filho sobre os ataques e cuidados que ele deveria tomar.

“Perguntei se alguém da escola falou o motivo de ter uma pessoa diferente lá na escola, ele disse que não, ninguém falou o motivo. Então falei o que tinha acontecido em um colégio, que um aluno atacou uma professora porque ele não concordou em ter sido chamado atenção. Que uma pessoa desconhecida tinha entrado em uma escola em outra cidade e feito maldade com crianças. Disse que isso não ia acontecer na escola. Porém pedi ele ficar atento a atitudes dos colegas”, detalhou Fernanda, que também confirmou que a escola reforçou a segurança durante as aulas.

“Fizeram uma “live” com os pais sobre as novas medidas de segurança. Passaram comunicado dizendo que a escola não ia mais ter faca e garfo na hora das refeições”, completou.

Alunos e professores

Diretora desde de 2018 da Escola Municipal Amâncio Seixo de Brito – no Jardim Balneário Meia Ponte, em Goiânia -, Silvânia Assis, lembrou que o protocolo com medidas de segurança divulgado pela SME, chegou para reforçar o que algumas unidades educacionais já faziam. Segundo a professora, todos os profissionais receberam orientações de como conduzirem o tema sobre o ataques com os alunos.

“A orientação é acalmar neste momento tão difícil. Nós temos projetos de valores, já trabalhamos em cima disso. Nós como instituição, devemos trabalhar a Cultura da Paz, que foi um projeto lançado no último dia 24. Devemos mediar as palavras com os alunos sem alarmar o ambiente com essas fakenews”, ressaltou.

De acordo com Silvânia, a unidade escolar que dirige conta com 978 alunos do ensino infantil ao EJA – Educação de Jovens e Adultos. Por isso precisou diferenciar a forma conduzir as conversas e reuniões com pais e alunos.

“Alguns alunos queriam bancar os heróis. No período vespertino, onde lecionamos do ensino infantil até o 5º ano, foi o foco, quando tivemos de conversar com os pais, porque alguns entraram em pânico. Nós organizamos reuniões em pequenos grupos pra tentar acalmar nossa comunidade. Trocamos muitas ideias, alguns resolveram não mandar os filhos para as aulas naquela semana do dia 20. Entendemos a situação das famílias”, ponderou a diretora, que tratou sobre o tema de forma mais aberta com os alunos mais velhos.

“No período matutino, o grupo gestor passou de sala em sala conversando com todos e cada um tinha uma história. Diziam que se alguém invadisse a escola, já tinham um plano de fuga elaborado, então já estavam na direção da preocupação mesmo”.

Psicologia

E do ponto de vista da psicologia, qual a melhor forma de falar sobre um assunto tão delicado com os filhos? Para Aline Mariano, psicóloga da Renapsi – Rede Nacional de Aprendizagem, Promoção Social e Integração – o dialogo sempre será a melhor opção de entendimento entre pais, filhos e professores.

“Quando falamos de crianças é importante acolher todos os sentimentos. Ouvir tudo que ela tem a dizer, quais as dúvidas e a partir daí ajuda-las a compreender o sentimento de medo e mostrar quem são as pessoas que ela pode confiar, como a professora por exemplo.
Não podemos negar o que está ocorrendo, mas podemos falar de forma que não cause mais pânico. Porém abordando de uma forma mais lúdica e dando a devida medida as coisas”, ressaltou Aline, que adota a mesma linha para comunicar com adolescentes e jovens.

“Na mesma linha, é necessário espaço de diálogo. Mas nessa fase a conversa precisa além de um acolhimento, ter caráter de alertas e possibilidades, tendo em vista que eles tem ainda mais acessos as informações”.

Tempo para ouvir

Além da disseminação de uma cultura de paz no ambiente escolar, Aline Mariano também lembra que o tempo dos pais com os filhos. De acordo com a psicóloga, também é importante para o desenvolvimento de um comportamento saudável das crianças.

“É ideal que os pais tenham tempo de qualidade com os filhos no dia a dia, participem da rotina escolar e tenham controle sobre o conteúdo que veem nas redes. Temos que ter sempre em mente que são seres em formação e os sentimentos dos mesmos na maioria das vezes não são processados como de um adulto, podendo ter uma amplitude bem maior mas precisam sempre ser validados”, finalizou.

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