A importância da pesquisa Serpes/O Popular publicada neste domingo, 6, pode ser medida por uma pergunta inevitável:

– o que o líder e candidato à reeleição, governador Marconi Perillo (PSDB), tem mesmo a comemorar?

 (clique aqui para ver a pesquisa )

Nos últimos anos, a oposição em Goiás foi questionada justamente por não ser oposição. Deu muito mole ao governador, que passou por problemas crônicos.

Um deles: início de governo marcado por formação de equipe que mais parecia acerto de contas de campanha – segundo diziam aliados contrariados (acordos etc.) – do que time escalado por conta própria.

(leia mais aqui: Marconi: reforma empacada, guerra de grupos e agiotagem )

Depois, vieram denúncias iniciadas com a Operação Monte Carlo e uma CPMI que colocou o tucano na mídia negativa nacional por longo tempo.

Uma sangria que parecia sem fim. Mas que não foi aproveitada de forma objetiva por qualquer adversário. Marconi sobreviveu.

Em meio a isso, o seu governo foi aos poucos se transformando em campo de guerra interna. Grupos fortes passaram a disputar abertamente espaços estratégicos de poder.

(leia mais aqui: Fogo amigo) 

O descontrole do governador foi tanto que muitos que quis demitir, ficaram nos cargos enquanto quiseram. Ele não tinha forças para mandar na sua administração como queria. Era refém dos próprios aliados que juntou para vencer em 2010.

Um exemplo claro dessa falta de pulso de Marconi é o da Secretaria de Indústria e Comércio. Seus aliados mais próximos ‘vazaram’ que o titular, Alexandre Baldi, seria demitido pelo menos três vezes.

Exteriorizavam a vontade do chefe, e não escondiam isso. Um processo explícito de queimação que, enfim, não funcionou. Baldi foi mais forte. Ficou, se fortaleceu, é candidato a deputado federal.

Outro exemplo está na clara guerra de ex-auxiliares do governador que tentam um mandato parlamentar. Os maiores adversários deles são eles mesmos, não são os nomes que brotam aqui e ali na oposição.

Um aspecto do caso envolvendo o deputado federal Roberto Balestra e a discussão em torno do chapão de candidatos a deputado, com ou sem o seu PP, escancara isso. Revela em que ponto essa guerra está.

No que Balestra piscou, dizendo que poderia não ser candidato caso o partido fosse obrigado a ficar no chapão, colegas seus do governo correram até suas bases no interior e começaram a canibalizá-la sem dó nem piedade.

Balestra, que tentava proteger companheiros de legenda, teve que agir rápido para não perder espaço. Perder para quem? Companheiros de governo. Candidatos com poder de fogo financeiro privilegiado.

Rejeição demais para aprovação de menos

Marconi Perillo sofre ainda com uma rejeição dura de roer, ou reverter. Apesar dos cerca de R$ 500 milhões gastos em publicidade nos últimos 3 anos e meio, ele não saiu do lugar. Chegou à casa dos 30% e lá está. Se tanto investimento não ajudou, o que mais há para ser feito?

Com rejeição alta, a aprovação não ajuda. Marconi vive em 2014 tempos sombrios em termos de avaliação popular e de governo. Situação muito distante daquela vista em tempos áureos, quando era absoluto, e tido como imbatível.

Em 2001, com números negativos de aprovação, ele iniciou uma arrancada arrasadora. Em pouco mais de um ano, reverteu mais de 14 pontos de frente do adversário Maguito Vilela (PMDB) nas pesquisas de intenção de voto, chegando a uma vitória incontestável em outubro: no primeiro turno.

Agora, o que vemos: na prática, apesar de todos os seus esforços, e da oposição que não é oposição de verdade, Marconi Perillo não sai do lugar. Nem na rejeição, nem na intenção de voto.

E é aqui que está o ponto. A pesquisa Serpes/O Popular mostra, em linhas gerais, o que todas as outras pesquisas vêm mostrando: ele é primeiro, mas um primeiro que não avança, que está em um incômodo teto (proporcional, não em necessariamente e números absolutos). Pode ultrapassá-lo?

Iris, Vanderlan e Gomide largam agora

Repare que nas últimas semanas todos os seus adversários sofreram atropelos, passaram por problemas difíceis e principalmente foram questionados no que ele apenas se limitava a negar não negando, estrategicamente: a possibilidade de ser candidato.

Assim é que, enquanto os adversários sofriam, o que fazia Marconi? Campanha.

Há tempos sua agenda não era tão intensa com visitas e contatos no interior. Nas últimas semanas, houve de tudo: inaugurações de obras, lançamentos de outras, entrevistas constantes, Governo Junto de Você (sucessor do Governo Itinerante, ponta de lança da arrancada de 2001/2002) embalado.

E propaganda, muita propaganda, com uma mensagem subliminar evidente: é preciso continuar o que está bom, a ‘mudança’ em andamento.

Mudança? Sim, mudança, não coincidentemente a palavra de ordem de todas as campanhas porque tradução literal do sentimento do eleitor goiano detectado em pesquisas quali e quanti.

(leia mais aqui: Eleição na teoria e na prática)

Nesse meio tempo, Iris Rezende e Júnior Friboi lutavam entre si para ver quem seria o candidato a governador pelo PMDB; Vanderlan brigava por alianças que não vingaram, e para negar que seria vice de Marconi ou de Iris; Gomide corria o Estado também negando que faria acordo com os peemedebistas e que sua candidatura era para valer.

A autofagia no PMDB só parou no final de junho; Vanderlan só definiu sua chapa no último minuto das convenções; Gomide só deixou claro sua candidatura quando bateu martelo com chapa própria. Justo aí Marconi era só inauguração, só propaganda, só discurso propositivo, só… campanha.

A pesquisa Serpes/O Popular é, portanto, o reflexo desse momento. Ela reflete o exato instante em que a campanha começa de verdade para Gomide, Vanderlan, Iris, Marta Jane (PCB), Weslei Garcia (PSOL) e Alexandre Magalhães (PSDC). Porque, para Marconi, começou faz tempo.

Reflete igualmente que se, para os outros, a campanha dá largada com a solução de todos os seus problemas, para Marconi Perillo ela irrompe justo quando a luz amarela acende.

Luz amarela para o tucano

A base política de Marconi Perillo não é mais a mesma. Já não conta com Ronaldo Caiado e o DEM, nem com Armando Vergílio e o Solidariedade. Dois companheiros dos bons tempos do chamado ‘tempo novo’ que venceu pela primeira vez em 1998 o PMDB de Iris Rezende. E com quem estão os dois? Com Iris.

(leia mais aqui – http://diariodegoias.com.br/blogs/vassil-oliveira/6516-eleicao-na-teoria-e-na-pratica)

 Como o PMDB esteve antes, a base de Marconi está em guerra eleitoral autofágica. E não apenas porque há uma disputa dura dos candidatos a deputado.

Muito mais porque essa disputa se dá com nomes fortes, que têm estrutura (dinheiro) independente do tucano, lutando mais por eles mesmos do que pelo chefe.

É o que se vê, o que está exposto nos primeiros movimentos de todos: é cada um por si e Marconi que se cuide. Ou as dobradinhas serão puras, sem peemedebistas, por exemplo, junto? Nos bastidores, ninguém cobra fidelidade de ninguém, a não ser às suas postulações individuais.

Tem ainda a chapa majoritária que desagrada. José Eliton (PP) vice e Vilmar Rocha (PSD) senador não são os companheiros que estimulam os governistas a ir para as ruas pedir votos. A chapa é de Marconi, não é dos sonhos de sua base.

(leia mais aqui: Chapa de Marconi é ferida não cicatrizada)

E justo quando processos contra Marconi Perillo batem à porta para virem à luz. E ele próprio, na definição de companheiros contrariados, não é mais o mesmo: está sem paciência, cara fechada, repetindo muito uma frase: “Já ganhei muitas, perder não será o fim do mundo.”

Frase que soa verdadeira, porém desanimadora para os companheiros: se ele admite a derrota, é porque a considera possível – ou, talvez, provável.

(leia mais aqui – Marconi mudou. O eleitor, também )

 A resposta

A realidade mostra, portanto, que uma reposta para a pergunta lá do início é: largar no ponto em que está, enquanto os adversários estão só começando a campanha, não é algo que mereça ser comemorado.

A situação atual está mais para no mínimo preocupante, porque expõe os nervos abertos de um candidato que tem que se segurar para não cair.

Meses atrás os marconistas anunciavam vitória no primeiro turno. Hoje, fazem cálculos para tentar garantir que haverá segundo turno. E aí, ufa!, dizem: o governador ganha. Mas…

Mas há outra conta ainda: até agora, Marconi Perillo perdeu na carne (Caiado e Vergílio), e o que ganhou era o que já tinha: inúmeros partidos pequenos cujos dirigentes ocupam direta ou indiretamente (por indicação) espaços na sua base. O seu governo respalda.

Que mais? Qual a grande liderança que ele apresentou como novidade? Qual a grande mexida no tabuleiro que favorece sua candidatura mais que a dos outros?

Avançando: e em um hipotético segundo turno, qual a chance dele somar forças? Como imaginar que um segundo turno será melhor para ele?

Gomide, Vanderlan e Iris, em especial, têm Marconi como alvo. Se autoproclamam oposição. Assim como Marta Jane e Weslei. Alexandre? Não se sabe. O apoio de qual deles dá para Marconi contar como certo depois? Qual pode desestabilizar?

Ou o mais razoável é acreditar que todos vão se unir, em torno do que passar para a segunda fase, contra ele?

Marconi Perillo começa a campanha na frente, porque aparece com alguns pontos mais que Iris, Vanderlan, Gomide, Marta Jane, Wesley e Alexandre.

Mas os fatos e os 37% traduzem mesmo outra coisa: ele larga perdendo, em relação a outros pleitos. Está longe de ter vitória garantida.

A realidade é uma só:

Marconi começa mais perto da primeira derrota do que da quarta vitória. É o que terá de reverter. Vai reverter?