As eleições desse ano foram marcadas por questionamentos e também pela busca de representatividade. Indígenas, mulheres negras e mulheres trans passaram a ter um pouco mais de espaço e voz. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as eleições de 2020 tiveram a maior proporção da história de candidaturas de autodeclarados negros, com 49,95% do total.

Além disso, foi determinada a equiparação do tempo de propaganda política eleitoral, tanto no rádio quanto na TV. A divisão foi de 50% para mulheres brancas e 50% para negras, e contou também com 30% para cota do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas (FEFC) para candidatas e candidatos negros.

Para falar sobre esse tema tão importante, o Debate Super Sábado contou com a participação da Coordenadora do Núcleo de Estudos em Gênero, Raça e Africanidades e Presidente da Câmara Técnica de Enfrentamento ao Racismo e Diversidade Étnica do Conselho Estadual da Mulher, Janira Sodré. Também contamos com a Presidente da Comissão Especial de Promoção de Igualdade Racial-CEPIR, da OAB/GO, Maura Campos e com a primeira vereadora Afro-indígena eleita da Cidade de Goiás, Elenízia da Mata de Jesus.

Falta de representatividade

Apesar de uma melhora, que precisa ser reconhecida, ainda há poucas mulheres negras na política. E isso não é por falta de interesse, mas sim por inúmeros obstáculos que elas encontram, como explica Janira Sodré: “De fato, nós temos um déficit de representação. As candidatas negras tem que lidar com sexismo, machismo e tem que lidar com uma visão estratégica que não oportuniza a condição de recursos para se ter uma visibilidade melhor dessas candidaturas”.

Elenízia da Mata, que é a primeira mulher negra, Afro-indígena eleita da Cidade de Goiás, também fala sobre essa questão. Ela explica como foi difícil e solitário seu percurso até a vitória nessas eleições. “Primeiro, eu sou uma mulher que tem consciência da sua negritude e estou nos movimentos de luta há mais de 10 anos. A culminância nessa candidatura, nessa cadeira à Câmara, não é muito distante dos movimentos que nós já estávamos fazendo. Na verdade vem desse movimento.” afirma a vereadora.

Ela ainda fala como a falta de museus que citem histórias de sucesso de pessoas pretas, por exemplo, interfere na auto visão do negro. “Isso diz muito. Nós pessoas pretas, não somos educadas nesse sistema convencional para que tenhamos orgulho, desejo por isso. E ainda, se você tem orgulho e desejo, você não recebe as estratégias para poder furar o sistema” relata Elenízia da Mata.

A advogada Maura Campos ainda elucida à respeito de como a legislação em torno do tema tem melhorado e sobre a importância disso: “A legislação vem evoluindo a passos curtos. As mulheres negras já passaram a ter direito a um montante para que elas possam desenvolver suas políticas”.

Ela também cita a vitória de Vilmar Kalunga (PSB), primeiro prefeito quilombola eleito na cidade de Cavalcante, Goiás. “Isso é uma evolução enorme. Tempos outros, isso nunca houve nesse país. Os quilombolas eram mais desprestigiados do que os negros da cidade. Então cabe a ele agora, fazer um trabalho de excelência mostrando aos seus compatriotas que é possível” afirma a advogada.

Confira o debate completo:

Emily Fernandes é estagiária do Sistema Sagres de Comunicação, em parceira com o IPHAC e com a Faculdade Sul-Americana (FASAM), sob supervisão da jornalista Letícia Martins.