Há exatamente um ano as aulas presenciais do programa Jovem Aprendiz eram suspensas em todo o país. Nos últimos 12 meses, a pandemia de Covid-19 tem mantido longe das salas de aula jovens e professores. Mas o processo de aprendizagem, como sempre em sua história de décadas, evoluiu e encontrou um caminho: a criatividade e a tecnologia.

A Yrla Diniz, jovem aprendiz de 17 anos, conta que foram dias e meses difíceis no início, por causa do fechamento das atividades. Ela relembra que o contrato dela junto a uma empresa atacadista de Florianópolis, em Santa Catarina, terminou pouco antes do início da pandemia.

“Então assim que fui tentar conseguir outro, não consegui porque não estavam mais contratando jovens. Teve muito desemprego aqui e fiquei um longo período sem trabalhar”, relata.

O professor da Renapsi, Pedro Vieira, e a jovem aprendiz Yrla Diniz, de Florianópolis-SC, em entrevista à Sagres (Foto: Sagres Online)

Para melhorar o processo educacional dos jovens durante o isolamento, a Rede Nacional de Aprendizagem, Promoção Social e Integração (Renapsi) elaborou uma plataforma on-line para que os alunos pudessem retomar as aulas de forma virtual. No caso da Yrla, é o psicólogo e professor Pedro Silas Romão Vieira que realiza essa orientação.

“O distanciamento mexeu muito com o modo como a gente lida com os alunos e como eles lidam com a gente em sala de aula. Com o distanciamento social, uma vez que as relações ficaram sempre intermediadas entre uma tela e outra, uma conexão e outra, a gente sai desse campo que a gente chama de realidade para outro, o da virtualidade”, analisa.

Para a jovem aprendiz, foi exatamente essa continuidade intermediada pela tecnologia e as aulas por meio da plataforma que fizeram a diferença desde então. “Fui aprender mais nas plataformas digitais, conhecê-las mais. Eu aprendi bastante nesse período”, avalia.

O aprendizado trouxe resultados positivos. No início de 2021, Yrla conseguiu um novo contrato de trabalho como jovem aprendiz, e hoje integra a equipe da Renapsi de Florianópolis. Ela vai concluir as atividades em 2022.

Goiás

Em Goiânia, o Agles Wilker de Sousa, de 16 anos, conta que não era tão ligado às novas tecnologias antes de assumir a função de auxiliar administrativo da Saneago, a companhia de saneamento do Estado.

“Era mais ou menos ligado nas redes sociais, postava uma foto ou outra, um vídeo. Agora eu fico como um editor, fico por conta de editar reuniões. São coisas que no passado eu não conseguiria fazer e hoje a gente se sente mais preparado”, relata.

Jovem aprendiz há um ano e três meses, Agles conta que o distanciamento e o contato com as novas tecnologias trouxeram novos desafios para a realidade na escola e no trabalho. “Passei por conflitos que nunca pensei que passaria na vida, levei como aprendizado”, afirma.

O jovem aprendiz Agles Wilker e a professora Renata Hirt, ambos de Goiânia (Foto: Sagres Online)

Agles conta que teve facilidade para aprender a trabalhar por meio da plataforma da Renapsi. A professora Renata de Paiva Ultra Hirt, do polo Goiás, sabe da importância que os próprios jovens têm nesse processo de ensino e aprendizagem à distância.

“Para nós como professores, passamos a ser mediadores. Tivemos que mostrar para os jovens a importância deles nesse momento. Para esse ensino à distância funcionar, o jovem tem de entender a responsabilidade dele nesse aprendizado. Não adianta o professor ser um bom mediador, pensar coisas diferentes, se reinventar, se o jovem não entender a responsabilidade dele nisso. Para mim, um dos maiores desafios é passar isso para os jovens”, relata. O contrato do Agles termina ainda em 2021.

Distância

A distância não é problema para a Vitórya Santos, de 18 anos. Jovem aprendiz há cinco meses, ela atua como assistente de Recursos Humanos na Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), em Araguaína, no interior do Tocantins. Em casa, ela acompanha as aulas da Renapsi que são transmitidas da capital, Palmas, a 383 km. “Estou bem familiarizada com a plataforma, não tenho mais nenhuma dificuldade, mas no começo eu tive muitas” conta.

Em Palmas, a professora da Vitórya, a assistente social e instrutora de Curso da Renapsi, Meg Pessoa, conta que começou a ministrar as aulas on-line para os jovens aprendizes em junho do ano passado.

“Fiz um treinamento e aprendi na prática mesmo. A plataforma facilitou muito o contato com os jovens de outros municípios, e também o contato com instrutores do Brasil todo. A gente acabou se conhecendo e trocando experiências. A gente passou a ter contato no dia a dia. Foi desafiador começar e aprender algo novo”, conclui.

A jovem aprendiz Vitórya Santos e a professora da Renapsi de Palmas, no Tocantins, Meg Pessoa (Foto: Sagres Online)

O ambiente de trabalho

O fechamento das atividades e o distanciamento afetou também a realidade das empresas que contavam com o trabalho presencial dos jovens aprendizes. É o caso do Grupo Ramasa, que atua em Goiás e no Tocantins.

A gerente sênior de Recursos Humanos da companhia, Mirley Machado, conta que as atividades na empresa tiveram de ser paralisadas em março de 2020, o que impactou consideravelmente a participação dos 20 jovens aprendizes contratados nos dois estados. Mas a realidade passou a melhorar no início deste ano.

“Neste ano de 2021, a gente percebeu que eles já estão mais adaptados, que eles conseguem conciliar as aulas na parte educacional, e também a complementar, que são as instituições, no nosso caso a Renapsi. A gente percebeu que as instituições tomaram a tempo essa retomada do on-line, como eles fariam, enfim. Eu penso que 2020 foi um ano mais experimental, em que nós experimentamos o novo”, afirma.

Trabalham para o Grupo Ramasa um jovem aprendiz em Palmas, no Tocantins, outro em Iporá, no interior goiano, e os demais em Goiânia, em um hotel e nas concessionárias da companhia. Segundo Mirley Machado, os jovens executam as tarefas à distância, com todo o aparato fornecido pela própria empresa, como serviços administrativos e contábeis. Apesar das dificuldades, a gerente acredita que 2020 foi um ano de muito aprendizado para todos.

“As ferramentas, os portais, a gente teve que buscar a inovação dentro da tecnologia. Hoje percebo que nós enquanto empresa, instituições e jovens aprendizes estamos muito mais preparados para esse momento”, conclui.

Em todo o país

Atualmente, a Renapsi insere jovens no mercado de trabalho com a continuidade do ensino e aprendizagem em 25 estados do Brasil e também no Distrito Federal. Ao todo, são 9.426 aprendizes em atividade.

O professor Pedro Silas Romão Vieira, de Florianópolis, acredita que o momento é de inovação e de ressignificação, de novas linguagens e conceitos de aprendizagem, e que fazem e farão a diferença no presente e no futuro, quando a pandemia acabar.

“A aprendizagem é o que eu adquiro com algum vínculo afetivo. Esse vínculo afetivo que a gente estabelece dentro de sala de aula, estamos estabelecendo de outro modo agora”.

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