A quarta rodada de negociações da ONU, encerrada em Ottawa, Canadá, na segunda-feira (29), refletiu a complexidade das discussões em torno de um acordo global para lidar com a crise da poluição plástica. Enquanto nações em desenvolvimento clamam por compromissos mais robustos na eliminação dos plásticos, as nações produtoras de petróleo, apoiadas pela indústria química e de combustíveis fósseis, resistem, gerando um impasse.

O cerne da discordância reside na definição de metas concretas para reduzir a produção de plástico e mitigar seus efeitos prejudiciais. Países como Ruanda e Peru propuseram metas ambiciosas, apelidadas de “estrela do norte”, visando uma redução global de 40% na produção de plásticos primários até 2040.

Essa proposta, apoiada por 60 países, incluindo a União Europeia, é comparável ao Acordo de Paris em sua importância, mas enfrenta resistência da indústria de combustíveis fósseis. “A meta deve alinhar-se com os nossos objetivos de uma economia circular segura para os plásticos, eliminando a lacuna de circularidade entre a produção e o consumo”, afirmaram.

Medidas concretas

Enquanto isso, na reunião do G7 na Itália, os ministros prometeram medidas concretas para reduzir a poluição plástica, mas detalhes sobre tais medidas permanecem escassos. Organizações ambientais como o Centro de Direito Ambiental Internacional (CIEL) expressaram desapontamento com os resultados da negociação, destacando a necessidade de ação mais enérgica diante da crise iminente.

“Em Ottawa, vimos muitos países afirmarem, com razão, que é importante que o tratado aborde a produção de polímeros plásticos primários”, disse David Azoulay, Diretor de Saúde Ambiental do CIEL. “Mas quando chegou a hora de ir além da emissão de declarações vazias e lutar por trabalho para apoiar o desenvolvimento de um programa intersecional eficaz, vimos os mesmos Estados-Membros desenvolvidos que afirmam liderar o mundo rumo a um planeta livre de poluição plástica, abandonarem a ideia, assim que os maiores poluidores olharam para eles”, lamentou David.

A produção de plástico não apenas contribui para a poluição, mas também representa uma parcela significativa das emissões de carbono, tornando-a um componente importante das mudanças climáticas. No entanto, a influência da indústria de combustíveis fósseis continua a ser um obstáculo significativo para um acordo abrangente.

“É hora dos negociadores pressionarem fortemente por cortes na produção de plástico virgem e pela exigência de que a indústria petroquímica divulgue de forma transparente suas cifras de produção e os produtos químicos utilizados nos plásticos. Embora haja muitas situações em que o plástico oferece grande valor para a sociedade, como em usos médicos e alimentares, esses benefícios não devem vir ao custo atual para as pessoas e o planeta. O relógio está correndo, mas ainda há tempo para deixar às gerações futuras o legado de um planeta saudável, sem ser manchado pelo lixo plástico”, frisou o professor, em artigo no Guardian.

Negociações

À medida que as negociações avançam em direção à rodada final na Coreia do Sul, a pressão aumenta para que os países superem as divergências e adotem medidas concretas para enfrentar a crise da poluição plástica.

“Viemos a Ottawa para avançar o texto e com a esperança de que os países concordassem com o trabalho intersecional necessário para fazer progressos ainda maiores antes do INC-5”, disse a Diretora Executiva do Programa Ambiental da ONU, Inger Andersen, num comunicado. “Saímos de Ottawa tendo alcançado ambos os objetivos e um caminho claro para chegar a um acordo ambicioso”.

A expectativa é que reuniões paralelas antecipem o último encontro, com foco na definição do escopo do tratado e na superação dos interesses da indústria em prol do bem-estar global. “Estamos na presença de uma indústria com um manual bem conhecido por comprometer a ambição das negociações ambientais e sociais”, disse Delphine Lévi Alvarès, coordenadora global da campanha petroquímica da CIEL.

“Os Estados Unidos precisam parar de fingir ser um líder e assumir o fracasso que criaram aqui. Quando o maior exportador mundial de petróleo e gás, e um dos maiores arquitetos da expansão do plástico, diz que irá ignorar a produção de plástico à custa da saúde, dos direitos e da vida do seu próprio povo, o mundo escuta. Mesmo quando os EUA sinalizaram ao G7 que se comprometeriam a reduzir a produção de plástico, bloquearam intencionalmente os esforços nesse sentido nas conversações globais mais relevantes para a questão”, disse Carroll Muffett, presidente do CIEL.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 12 – Consumo e Produção Responsáveis

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