(Foto: Divulgação Internacional)

Torcida única ou torcida mista em clássico? Essa é uma discussão que ganhou bastante espaço nos últimos anos e se tornou uma realidade para o torcedor goianiense desde 2018. Inicialmente para as partidas entre Goiás e Vila Nova, a decisão do Ministério Público do Estado de Goiás se estendeu para as rivalidades envolvendo o Atlético. Decisão contestada por clubes, torcedores e imprensa, mas apoiada pelo poder público.

Discussão que não está alheia ao resto do futebol brasileiro. Em São Paulo, por exemplo, desde abril de 2016 existe a restrição de torcida visitante, o que virou um exemplo para o resto do país. Embora estatisticamente a violência tenha diminuído, o problema está longe de ser resolvido na maior cidade do país, como destaca José Calil, apresentador da Rádio Transamérica e correspondente das Feras do Kajuru na capital paulista.

“A torcida única só pode evidentemente ser legalizada dentro do estádio e nos seus arredores. Porém os conflitos acontecem em pontos distantes, a 20, 30 e 40 quilômetros dos estádios”, frisa Calil, que traz outro ponto ao lembrar da restrição ter sido estendida para Campinas: a ferida à cultura do futebol. Lar de Ponte Preta e Guarani, a cidade também abriga muitos torcedores dos times da capital, que não podem acompanhá-los.

No Rio de Janeiro, a restrição chegou a existir por um breve tempo em 2017, menor do que um mês, e a Polícia Militar garante a segurança das partidas envolvendo Flamengo, Fluminense e Vasco da Gama. A única exceção se dá quando o Botafogo realiza suas partidas no Nílton Santos, quando há a divisão 90-10%, como destaca o repórter Wellington Campos, das rádios Itatiaia e Tupi, também correspondente da Sagres.

“Nós precisamos batalhar para que os bons torcedores estejam no estádio, e não os maus. No Maracanã, por exemplo, sempre há muita presença de famílias, desde pessoas de idade até crianças. Aqui, a própria polícia rechaçou qualquer possibilidade de torcida única”, enfatiza Wellington. Os problemas, claro, não estão isentos, a exemplo do que já aconteceu em Minas Gerais, segundo o repórter Léo Gomide, da Rádio Inconfidência.

Na Arena Independência, em que a torcida visitante fica em um setor superior, há restrição de bandeiras e instrumentos, enquanto isso não acontece no Mineirão. O que ainda gera desavenças nas reuniões antes dos jogos. Hoje há torcida mista, e Cruzeiro e Atlético Mineiro já foram punidos por problemas envolvendo as torcidas, tendo que jogar no Parque do Sabiá, em Uberlândia, no Brasileirão de 2014 por causa de uma briga no ano anterior.

Uma solução encontrada no Pará, palco de outra grande rivalidade nacional, entre Remo e Paysandu, foi a de dividir igualmente a carga de ingressos para as partidas no Mangueirão, em Belém. O estádio, que oficialmente comporta cerca de 42 mil espectadores, durante o Re-Pa abriga somente 35 mil, sendo que remistas e bicolores têm direito cada um a metade do espaço disponibilizado, conforme destaca Giuseppe Tommaso, da Rádio Clube do Pará.

“Não existe torcida única aqui, mas já se comentou muito, porque do lado de fora do estádio as torcidas acabam se encontrando. Tivemos um problema no último clássico, mas são problemas isolados, provocados por torcidas que, inclusive, já foram extintas pelo Ministério Público, que continuam agindo de forma violenta”, lamenta Tomazão. Uma realidade também bastante observada no Nordeste.

Em Salvador, por exemplo, em que vários casos de conflitos entre torcedores de Bahia e Vitória já foram registrados, só há torcida única na Arena Fonte Nova e no Barradão. “Aqui a torcida única no clássico Ba-Vi acontece desde 2017, depois do assassinato de um torcedor do Bahia. A única exceção se deu no ano passado, justamente em uma partida que não terminou por conta de confusões e parou nos tribunais”, destaca o jornalista Elton Serra.

“Esse ano tivemos dois clássicos apenas, um pela Copa do Nordeste e outro pelo Campeonato Baiano, e os dois foram na Fonte Nova com torcida do Bahia. Ou seja, desde o ano passado o Vitória não tem torcedor no clássico Ba-Vi e só terá, claro, se o for no Barradão. Então ainda há um desequilíbrio de forças dentro do estádio, o que deixa dirigentes de Bahia e Vitória chateados com a situação”, acrescenta Elton.

Diferente de Fortaleza, em que o Clássico Rei continua a ter torcida compartilhada na Arena Castelão, embora o Comandante do Batalhão de Eventos da Polícia Militar do Estado do Ceará tenha recomendado a torcida única neste ano, como lembra Júnior Marquezine, da Rádio Cidade – o que não foi seguido, no final das contas. O radialista destaca o reforço no policiamento, enquanto poucos casos foram registrados nos últimos anos.

Assim como em Pernambuco, que não restringe as torcidas de Santa Cruz, Náutico e Sport de assistirem os quentes clássicos de Recife. “São respeitadas as normas da CBF em relação a quantidade de ingressos para visitante e até houve um avanço em especial no clássico Santa Cruz e Náutico. Promoveram uma ação em que os sócios do time visitante podiam pagar meia-entrada”, frisa João Victor Amorim, da Rádio Jornal.

“Estamos longe de ser um exemplo para o futebol brasileiro em comportamento de torcida organizada. Já tivemos alguns incidentes dentro do estádio e fora há um grande problema. Mas os clubes têm se movimentado com a polícia para tentar evitar as brigas e essa ação de respeito aos sócios dos adversários é uma boa iniciativa”, acrescenta o repórter. Janniter de Cordes, da Rádio CBN Diário de Florianópolis, também conta uma realidade próxima.

Em Santa Catarina não há torcida única e os clubes seguem as recomendações da CBF, embora as confusões não estejam alheias ao sul do país. “Muitas confusões já aconteceram dentro do estádio, fora e longe, no centro da cidade e no Terminal Central. Por conta disso, a Polícia Militar juntamente com o Ministério Público já chamou as torcidas e os clubes com a possibilidade de fazer os clássicos com apenas uma torcida, mas isso não passou”.

Problemas também registrados no Paraná, em que “o Ministério Público criou um projeto chamado Torcida Humana, que apenas o Athletico Paranaense seguiu. Na verdade, já era uma ideia antiga do Athletico ter torcida única na Arena”, lembra Osmar Antônio, da Rádio Banda B. O Furacão se vale de uma brecha do regulamento da CBF para ter apenas seus torcedores nos clássicos de Curitiba, o que funciona apenas em partidas nacionais.

Segundo a Conmebol, a torcida visitante sempre precisa ter um espaço reservado e assim a Arena da Baixada precisa abrir suas portas para outros torcedores em competições internacionais. Já Coritiba e Paraná Clube não seguem o projeto do Ministério Público estadual, e as partidas no Couto Pereira e na Vila Capanema contam com a presença dos rivais.

Uma unanimidade na reportagem é de que o melhor exemplo vem do Rio Grande do Sul. Mais precisamente, de Porto Alegre. O Grenal, uma das maiores rivalidades não somente do futebol sul-americano, mas mundial, abriga as torcidas de Grêmio e Internacional no mesmo palco, tanto no Beira-Rio quanto na Arena do Grêmio. Mais do que isso, existe um setor em que podem conviver no mesmo espaço e convidar amigos rivais.

“A experiência foi muito positiva. Quem assiste aos jogos nesse setor assistem em boa paz. Nunca teve nenhum registro de briga nesse setor, até porque o perfil dos que vão nesse espaço são de pessoas que querem ver o jogo em família ou entre amigos sem nenhum problema. Os Grenais ultimamente, salvo eventuais incidentes menores, têm sido bons no quesito paz”, reporta Rodrigo Oliveira, da Rádio Gaúcha.

“Não tem torcida única aqui, nunca teve e acho que está distante de ter, porque as direções de Grêmio e Inter são contrárias a essa ideia e, inclusive, lutam para aumentar a capacidade de ingressos para a torcida visitante. E só não conseguem porque a Polícia Militar do Rio Grande do Sul alega que não tem condições para garantir a segurança de mais do que dois mil torcedores visitantes”, finaliza.