Nunca a defesa do organismo humano foi tão necessária. A transfusão de plasma com anticorpos IgG, que atuam no combate à Covid-19, tem ganhado espaço como forma de tratamento em diversas partes do mundo, inclusive em Goiás.

“Ao ser infundido em um paciente na fase viral da doença vai ter o benefício tanto de matar os vírus que estão circulantes, como ainda diminuir o processo inflamatório a que essa pessoa está sendo submetida”, explica Luís Henrique Ribeiro Gabriel, hematologista e diretor técnico do Hemolabor em Goiânia, em entrevista à Sagres TV.

O método, chamado de transfusão de plasma convalescente, consiste na utilização do sangue de pessoas que foram contaminadas pelo novo coronavírus e já se curaram da Covid-19, tendo desenvolvido anticorpos que combatam a doença. No corpo de pacientes ainda internados, os anticorpos estimulam seu sistema imunológico, melhorando sua resposta contra o processo inflamatório.

O diretor técnico do Hemolabor diz que o procedimento é seguro e não compromete a imunidade de quem já se recuperou do vírus. “Não gera sequelas. Quem doar o plasma não perde a imunidade, continua imune, pois as células, os linfócitos continuam a produzir anticorpos”, explica.

O diretor técnico do Hemolabor em entrevista na SagresTV, com Letícia Martins (ao centro) e Jéssica Dias (Foto: SagresTV)

Em Goiás, um dos pacientes submetidos ao tratamento foi o professor Laerte Guimarães Ferreira Júnior, pró-reitor de pós-graduação da Universidade Federal de Goiás (UFG), que está internado em um hospital privado da capital com a Covid-19. Após uma campanha por doação feita pela família e pelo laboratório ao Hemolabor, que atende a unidade, ele recebeu uma transfusão na última segunda-feira (15), e a expectativa é que os resultados sejam observados nos próximos dias.

Cada doação de plasma pode salvar até oito pacientes que enfrentam a Covid-19. Segundo o hematologista, o grande desafio é saber quem já está recuperado da doença causada pelo novo coronavírus.

“Precisaria de uma busca espontânea dos doadores para o banco de sangue, ou que os médicos que tratam essas pessoas após estarem curadas nos encaminhem esses ex-pacientes”, conclui.

Critérios e indicações

Para receberem a transfusão, os pacientes dependem da solicitação feita por um médico infectologista ou intensivista que acompanhe seu caso. Segundo Luís, o principal critério para a indicação tem sido a piora do quadro, e não necessariamente sua gravidade. “Já aconteceu de um paciente começar a piorar e fazer a transfusão antes dele ser entubado”, pontua. Já para fazer a doação, não basta o interessado ter se curado da Covid-19. Há uma série de critérios e exigências, inclusive mais rígidos que para a doação de sangue comum.

Em primeiro lugar, o candidato deve apresentar dois resultados de exames RT-TCR-COVID-19, que indicam a contaminação pelo novo coronavírus. Um deles deve dar positivo para a doença, e o outro, mais recente, negativo.

Para o tratamento da Covid-19, é necessário que o doador tenha mais de 65 kg, ter entre 18 e 60 anos e uma veia com calibre suficiente para aceitar o fluxo da doação. Não pode tomar medicação, nem ter passado por transfusão de sangue e cirurgia recente, ou ter feito tatuagem nos últimos meses. No caso das mulheres, também só podem doar as que não tiveram filhos.

Cumpridos os critérios, o candidato a doador deve passar, também, por um exame sorológico completo, que averígua a presença de doenças como aids, sífilis e hepatite. O resultado sai em até 48 horas e, estando tudo certo, o doador já está pronto para o procedimento.

Se na captação convencional de sangue são retirados cerca de 400 ml do doador, no tratamento para Covid1-9 são 600 ml – daí os critérios mais rígidos para peso e idade. Também de forma diferente do procedimento comum, em que cada bolsa de sangue pode ajudar a salvar a vida de até quatro pessoas, no caso do tratamento contra o vírus cada doação é direcionada para um único paciente.

Pouca adesão

Para fazer a doação no Hemolabor, os interessados deverão entrar em contato com o laboratório pelo telefone (62) 3605-6600. Além de Laerte, há outros pacientes à espera de uma transfusão.

Luís lamenta que a dificuldade que tem tido de encontrar doadores. “Não tem muita procura. O pessoal não gosta de doar sangue. Em muitos casos eu mesmo vou atrás das pessoas pessoalmente, mas elas não querem. Mobilizam muito, mas na hora da verdade tem medo”, diz.

Por isso, o diretor técnico afirma depender do auxílio de clínicos-gerais, para que façam o direcionamento para a doação. “É importante que o médico sensibilize o paciente que se curou para ajudar no tratamento de outros”, pontua.

Já são 16.712 os casos confirmados de Covid-19 em Goiás, 967 a mais que ontem (21). O número de mortes passou de 303 para 311. os números são do boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO), nesta segunda-feira (22).

No Estado, são 44.552 casos suspeitos em investigação, e 23.768 já foram descartados. O número de mortes suspeitas é 39, e 366 já foram desconsideradas.

De um total de 246 municípios goianos, 198 já registraram casos de Covid-19. Já são 57 cidades em Goiás com óbitos pelo novo coronavírus. No domingo (21), com 44,61%, o estado figurou na 24ª posição do ranking do isolamento social, à frente de Sergipe (44,49%), Tocantins (43,74%) e Maranhão (43,33%).