Apesar de a lei proibir a contratação de parentes, a servidora comissionada Maria Graça Silva foi contratada pelo próprio marido, Edson Ferrari, presidente do Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE) e, depois de várias denúncias de nepotismo que vieram a público, ela foi colocada à disposição do governo. No site da transparência estadual, o nome da funcionária aparece na Governadoria, mas na verdade ela está lotada na Organização das Voluntárias de Goiás (OVG), o que caracteriza outra irregularidade. A comissionada não poderia ter sido transferida de uma instituição para outra. “Isso mostra que a Transparência não é tão transparente”, diz Fernando Carneiro, procurador do Ministério Público de Contas de Goiás (MPC-GO). Ele complementa afirmando que a servidora não poderia estar cedida a OVG, uma vez que o cargo de comissão é uma relação de confiança.

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Para o procurador, a partir do momento em que a autoridade nomeante contrata uma pessoa em regime de comissão, fica subentendido que aquele cargo contém uma relação de proximidade confidencial, uma relação de boa fé. Dessa forma, esse tipo de ocupação muitas vezes tem a nomenclatura de cargo de confiança. Entretanto, o posto não pode ser ocupado por parentes de quem está empregando, o que caracteriza nepotismo. Fernando Carneiro argumenta que, nessa situação, houve nepotismo e em seguida o rompimento da confiança por conta da transferência para a OVG. Segundo o procurador de Contas, o servidor não é transferido para manter relações de confiança com outra instituição, mas para atender a interesses pessoais. 

Maria Graça foi afastada do TCE por causa de denúncias de irregularidades e, para Carneiro, ela deveria ter sido exonerada e não cedida para outro órgão ou instituição, já que a prática é ilegal. Mesmo assim a servidora continua trabalhando e, de acordo com a Transparência, o salário da comissionada é de R$ 9.789,08. Não é a primeira vez que a Rádio 730 aborda a temática uma vez que existem várias denúncias sobre o nepotismo no TCE e no Ministério Público estadual. A reportagem já denunciou o arquivamento desse mesmo caso de nepotismo pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO).

A matéria foi veiculada no dia 06 de março desse ano e mostrou que o promotor Umberto Machado de Oliveira, então coordenador do Centro de Apoio Operacional do Patrimônio Público, investigou a denúncia de nepotismo envolvendo a esposa do presidente do TCE, em 2011. De acordo com o procedimento, Maria Graça Silva, além de ser funcionária comissionada e esposa do presidente do TCE, Edson José Ferrari, acumulava cargo em comissão na Agência de Esporte e Lazer, (AGEL). A despeito das irregularidades evidentes, o promotor emitiu parecer pedindo ao então procurador-geral Benedito Torres o arquivamento do caso, que despachou o pedido de arquivamento, no dia 27 de junho de 2011. A denúncia foi arquivada.

A pedido do Ministério Público de Contas, a Rádio Clube chegou a fazer um convite para ambos debaterem o assunto. Mas tanto o promotor Umberto Machado, quanto o procurador Benedito Torres não aceitaram o solicitação. Na época, a Associação Goiana do Ministério Público (AGMP) emitiu nota de repúdio, em relação à matéria da Rádio Clube. Entretanto, AGMP também preferiu não participar do debate.O promotor Umberto Machado, em entrevista à Rádio Clube, disse que sua participação no arquivamento, apesar de assinar a sugestão, foi de mero coadjuvante no procedimento. Segundo o promotor, o arquivamento é de responsabilidade do procurador de Justiça, Benedito Torres. Já Benedito Torres afirmou à reportagem que arquivou de acordo com a sugestão do parecer de Umberto Machado e que as justificativas deveriam ser cobradas do promotor.