Peritos da Polícia Civil de Goiás acompanham busca pelo corpo da comerciária Fernanda de Souza Silva, morta pelo namorado (Foto: Divulgação / Polícia Civil)
Em 2019, 40 mulheres foram assassinadas em Goiás, quatro a mais que em 2018, quando houve 36 feminicídios, um aumento de 11%. Os crimes contra mulheres também cresceram no País. Foram 1.310 homicídios no ano passado, contra 1.222 no ano anterior. Aumento de 7,2%. Os dados foram compilados pelo jornal Folha de S.Paulo a partir de registros das Secretarias de Segurança Pública dos Estados.
Os dados foram divulgados neste sábado (22), na mesma semana em que a Polícia Civil de Goiás encontrou o corpo carbonizado da comerciária Fernanda de Souza Silva, 33 anos, de Bela Vista. Ela tinha sido vista pela última vez em 12 de fevereiro. Seu corpo foi encontrado dia 20 nas proximidades de Caldas Novas. Ela foi morta a pauladas e teve o corpo carbonizado pelo namorado, Allan Pereira dos Reis, 23 anos. Neste sábado ele foi encontrado morto na cela onde estava preso, no Complexo Prisional em Aparecida de Goiânia.
Professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Lourdes Maria Bandeira, disse à Sagres 730 que a análise desses dados ainda não está consolidada. No entanto diz que, como hipótese, ela percebe que o aumento da violência contra a mulher tem relação com a expansão do conservadorismo no Brasil, a partir de 2018. “O conservadorismo reforça a ideologia da virilidade, com mais poder para a figura masculina”, diz a professora que também é coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Mulher.
O feminicídio, quando a mulher é vítima da violência por conta do gênero, virou qualificador do homicídio em 2015, elevando a punição de 6 a 20 anos para 12 a 30 anos. Os números mostram que em 2019 houve aumento de mais de 30% nos registros em São Paulo, Santa Catarina, Alagoas, Bahia, Roraima, Amazonas e Amapá. Só na região Norte houve recuo.
O aumento de feminicídios ocorre na contramão dos registros de homicídios em geral. De acordo com dados consolidados pelo Ministério da Justiça, que não trata ainda o feminicídio de forma separada, de janeiro a setembro de 2019 houve redução de 22% nos homicídios dolosos e latrocínios, tendência de queda já verificada desde 2018.
A delegada Cybelle Tristão, titular da Delegacia Regional de Aparecida de Goiânia, que investiga as causas da morte de Allan Pereira dos Reis, 23 anos, réu confesso do assassinato da comerciária de Fernanda de Souza Silva, 33 anos, assinada a pauladas em Bela Vista, considera que a mulher tem de prestar atenção aos primeiros sinais.
Cybele já atuou na Delegacia da Mulher e lembra que a violência doméstica sempre é precedida de casos menos graves que revelam a disposição do agressor. Ela cita casos de ciúmes, de posse e até de brigas mais intensas. Foi o caso de Allan Pereira dos Reis e sua namorada Fernanda. “Ela chegou chorando ao trabalho e com sinais de marcas de violência no corpo”, disse a delegada. A delegada observa que a mulher precisa reagir aos primeiros sinais, inclusive avisando a polícia.