Uma pesquisa conduzida em Michigan, nos Estados Unidos, identificou que a vacina contra a Influenza, vírus da gripe, pode proteger também contra o coronavírus, mesmo que temporariamente. O médico infectologista Marcelo Daher afirmou, em entrevista à Sagres, que isso pode ser considerado normal, pois a vacina estimula a produção de muitos anticorpos no nosso sistema.
“Como são vários, você tem proteção de anticorpos que protegem não só contra aquele objetivo, mas contra outras doenças também. Por isso que quando a gente faz uma vacina, a gente acaba tendo uma proteção paralela, que não é o objetivo principal e é momentânea, contra outras doenças e, no caso, contra a Covid-19”.
Ouça a entrevista completa:
O infectologista ainda ressaltou que é preciso aguardar um intervalo entre uma vacina e outra, pois o nosso sistema de defesa precisa de 14 dias. Marcelo comentou, inclusive, que no caso da Coronavac, por exemplo, que a primeira e a segunda doses são administradas com um espaço de 28 dias, é possível tomar a de gripe durante esse período. Porém, o médico deixa claro que se precisar escolher, a prioridade deve ser para a vacina contra a Covid.
“As pessoas que estão próximas de receber a vacina contra a Covid-19, vacinem-se contra a Covid-19, deem preferência para essa doença. É a doença que está acontecendo, que está matando muito. Então essa é a doença que a gente tem que priorizar. Aí depois, em um segundo momento, façam a vacina contra a gripe”.
Como o Brasil tem, hoje, dois tipos de imunizantes sendo aplicados contra a Covid-19 (CoronaVac e AstraZeneca), é necessário entender os prazos de cada uma para saber quando a pessoa vacinada, atingirá o total de proteção oferecida por aquela vacina. Segundo Marcelo, a CoronaVac tem eficácia de 50,38% após 10 dias depois da segunda dose, enquanto a AstraZeneca oferece cerca de 76% 28 dias após a primeira dose. “Não adianta achar que tomou a vacina e na semana que vem já está pronto para se expor, não é assim”.
Outra questão abordada pelo infectologista, é o de pessoas que se vacinaram e, mesmo assim, contraíram a doença. Primeiro, Marcelo explicou que algumas pessoas recebem o imunizante já com o vírus incubado, ou seja, não há tempo para que os anticorpos produzidos pela vacina ajam no corpo. O médico também detalha que as vacinas não foram criadas para evitar o contágio e sim para que as pessoas não desenvolvam a forma grave da doença. “Então, quando eu faço a vacina, não é que a pessoa não vai se infectar, mas a chance dela internar e ir para um ventilador e morrer é muito menor. Isso é primeira coisa que a população tem que entender”.
Marcelo citou casos no Hospital de Urgência de Anápolis (Huana) de profissionais de saúde, vacinados, que pegaram a doença, sendo que nenhum desenvolveu sintomas graves. “A vacina diminui a gravidade da doença e a gente tem alguns dados concretos, da nossa região, mostrando isso”.
Explosão de casos
Ainda no Huana, o médico contou que março foi o pior mês da pandemia no local e que o número de casos foi tão grande, que dava a impressão de que a cidade vinha recebendo pacientes de outras regiões. A variante P1, circulando em Goiás, deve ser a causa do aumento no número de casos e mortes, segundo o infectologista.
“Ela deve ser um pouco mais agressiva, a gente vê alguns casos de evolução mais rápida. Mas, claramente, o simples fato dela ser mais infectante, ser transmitida com mais facilidade e maior rapidez, só isso já faz com que o número de casos exploda”.
O infectologista ainda afirmou que, mesmo que a variante seja mais agressiva, ela não deve ter tanta diferença, nessa questão, em relação à primeira cepa do vírus. “Se tivesse uma variante que tivesse matando muito e muito mais rápido, não teria um crescimento tão alto do número de casos, porque as pessoas adoeceriam e morreriam muito rápido”.
Medidas de contenção
Marcelo Daher ressaltou que as medidas de isolamento social, para diminuir a taxa de transmissão, começam a mostrar resultados a partir de agora, em função do ciclo do vírus, que fica incubado de 6 a 7 dias e leva cerca de 10 dias para levar à internação. Porém, a reabertura e o feriado causam um certo desconforto no infectologista.
“Eu acho que ainda é muito cedo para a gente achar que nós já estamos com o problema resolvido […] A melhor hipótese seria a gente ter mantido o comércio fechado até domingo, final do feriadão e liberado na segunda-feira, porque a gente teria uma segurança maior e evitaria as aglomerações do feriado prolongado”, contou o médico, que ainda disse que se não tomarmos cuidado “todo esforço feito nos 14 dias será jogado fora”.