A cidade sofre com a violência contra a mulher e o fato é que o Poder Público faz de conta que trabalha para quebrar este cenário. A cada três minutos uma mulher é morta no Brasil. E a cada cinco minutos uma adolescente é estuprada no País. Mas por que isso acontece? A humanidade já progrediu tanto nas áreas da ciência e da tecnologia! As informações, atualmente, são tão coletivizadas. O que está faltando?
A primeira atitude que temos que tomar, antes de sair gritando por aí que Goiás é o paraíso para as mulheres, é tirar o óculos do preconceito e o capuz da reatividade. A Secretaria de Políticas para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial em Goiás garante nas páginas do jornal Diário da Manhã que está tudo muito bem, obrigado. Deixa claro que as reclamações sobre a situação da mulher em Goiás é fruto de mentes e línguas invejosas. Entretanto, se esquece do básico na construção de um novo cenário, o terreno.
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Essencialmente, em Goiás, assim como na maioria das sociedades com base em uma economia agropastoril, a mulher, os filhos e o equipamento de trabalho são propriedades. É fato. O mundo mudou. O Brasil tem se modernizado. Goiás tem avançado. O número de mulheres chefiando famílias aumenta a cada dia. O mercado de trabalho é cada vez mais acessado pelas mulheres. Mas…. a cultura, ainda, carece de luz. Mas muita luz.
Os números desta realidade grotesca são irreais: em 2012, a cada 24 horas, dez brasileiras foram estupradas por desconhecidos. Entre 2009 e 2012, esse tipo de crime teve um aumento de 162%, segundo o Ministério da Saúde. Enquanto isso, os kits estupros somente podem ser aplicados em situações ocorridas na Grande Goiânia ou no Entorno de Brasília. Uma mulher estuprada em Nova Roma, por exemplo, pode apenas denunciar na delegacia e ir para casa tomar banho e engolir o choro. A alternativa é encarar a estrada e ser levada a Formosa ou Brasília para ser examinada.
A maioria dos juízes em Goiás ainda exige duas testemunhas para emitir uma medida protetiva, ignorando a Lei Maria da Penha. As delegacias de Atendimento as Mulheres em Goiânia sobrevivem por força e garra de suas delegadas, agentes e escrivãs. Casa de abrigo? Apenas o Cevam, que acolhe as flageladas da cultura do desrespeito enviadas pelos sistemas de Segurança, Jurídico e Tutelares.
Aliás, o Cevam ainda está com suas portas abertas porque a comunidade assim o quer. Se dependesse unicamente do Poder Público, o Cevam poderia desaparecer. O Cevam causa constrangimento, pois nele estão reunidos as consequências do desatino da civilização. E ninguém gosta de ficar encarando essa realidade. O governador Marconi Perillo assina documento dizendo que ajudará financeiramente o Cevam, mas não executa. Afinal de contas, o Cevam para receber o dinheiro tem antes que quitar dívidas. É surreal.
É um sistema no qual todos perdem, menos a dirigente governamental que, teoricamente, está na brutal seara da desigualdade cultural apenas por parcos quatro anos. A população perde por que as ações são realizadas com olhares preconceituosos. O poder público, infelizmente, está perdendo a chance de romper com a lógica da violência em Goiás. Eis o modelo da violência contra a mulher goiana: a mulher pobre é espancada e a mulher rica é agredida. Entretanto, ambas são tidas como propriedades de um sistema sócio, econômico e político que privilegia o faz de conta do Poder Público.