O Brasil registrou um aumento exponencial de casos de violência nas escolas nos últimos dois anos. O primeiro caso ocorreu na Bahia em 2001. Desde então, as autoridades registraram 24 ataques até abril deste ano. Porém, em 11 meses, já ocorreram 11 ataques, o que faz de 2023 o ano com o maior número de atentados nas escolas no Brasil. 

O Pauta 1 desta terça-feira (8) recebeu a advogada e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem), Cléo Garcia, para compreender as causas do aumento da violência nas escolas do país. Mas a especialista destacou que não é possível apontar um motivo para um aumento tão significativo. Garcia detalhou o aumento exponencial de ataques em dois anos.

“Nós tivemos o primeiro caso ocorrido em 2021 em Macaúbas, na Bahia e depois disso um espaço muito grande entre outros eventos. Mas chegou em 2022, no primeiro semestre a gente teve algum e depois no segundo semestre foi um atrás do outro. Só resumindo, em 2022 nós tivemos 10 ataques desse tipo, que nós consideramos então ataques de extrema violências nas escolas do Brasil. E só esse ano nós já tivemos 11 ataques, então já ultrapassou o número do ano passado”, contou.

Combate à violência nas escolas

A onda de ataques em ambientes com crianças e adolescentes desencadeou um problema que o sistema educacional não estava preparado para prevenir e combater. Nos últimos meses, além da formação básica e profissional, o governo viu-se imerso no tema do combate à violência nas escolas.

O Governo Federal decretou em 5 de abril a criação do Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) para propor políticas de prevenção e enfrentamento da violência nas escolas. O Grupo reúne os ministérios da Educação; Justiça e Segurança Pública; Direitos Humanos e da Cidadania; Comunicações; Saúde; Cultura; Esporte e a Secretaria Nacional de Juventude da Secretaria-Geral da Presidência da República. A missão do GTI é apresentar o escopo do que será a Política Nacional de Enfrentamento à Violência nas Escolas.

A advogada avaliou que não existe solução a curto ou médio prazo para o combate e a prevenção dos casos, porque os ataques são muito complexos e há vários fatores interligados. Garcia pontuou também que é natural que a segurança apareça em primeiro plano, mas ressaltou a necessidade de olhar para todas as camadas que envolvem as ações.

“Sabemos que existem várias camadas que nós tratamos nesses tipos de evento e que não somente a segurança vai dar conta. Então, precisamos lembrar também que a escola precisa de uma rede de proteção, ela não atua sozinha. As crianças e os adolescentes têm uma proteção, algumas instituições que fazem parte da rede de proteção que garantem os seus direitos e essa rede de proteção precisa trabalhar junto com a escola”, afirmou.

Interação online

De acordo com a observação da pesquisadora, a partir do caso de Realengo em 2011, é perceptível uma interação online entre os autores dos ataques. Um dado que chama atenção de Cléo Garcia é que, apesar de casos de estranhos que invadem as unidades, a maioria do perfil dos autores tem vínculo com a escola-alvo.

A interação online é o principal foco do Governo Federal para prevenir os ataques. Garcia contou que o executivo investiu em inteligência de crimes cibernéticos, mas apontou que ainda assim são casos muito complexos e  demorados para solucionar.

“Não vai ser solucionado de uma forma em que se prime apenas pela segurança, é necessário trabalhar outras fontes e trabalhar em conjunto, intersetorial”, ressaltou.

Ações isoladas

A advogada notou que cada Estado tem desenvolvido o seu próprio sistema de combate a violência nas escolas. “Eles tem feito fóruns de segurança onde acabam expondo as medidas que foram tomadas. Muitas delas estão com policiais dentro das escolas também”, disse.

A especialista, no entanto, repetiu que somente ações de segurança não são suficientes para solucionar os casos como os conhecemos, por causa das diversas variáveis que envolvem os ataques e seus autores.

“São variáveis que a gente encontra em vários países. Então temos a disponibilidade de armas, o contexto social, familiar e cultural, em que aquele autor é imerso e que influencia no desenvolvimento dos valores que ele tem. De  certa forma, os valores vistos nesses autores legitimam a utilização da violência como meio de resolução dessas questões que são consideradas relevantes para eles”.

O que fazer?

Segundo Garcia, não há como apontar uma causa única para o problema que o Brasil está enfrentando. Mas ela argumenta que a sociedade como um todo está inserida nos fatores que desencadearam a frequência dos ataques às escolas pelo país.

“Todos nós somos responsáveis. Somos responsáveis no sentido de que podemos fazer essa mudança”, disse.

O caminho para a especialista está na própria educação. Apesar de serem casos de extrema violência, Garcia avaliou que não é possível “trabalhar um caso desses sem envolver todas as instâncias que fazem parte dessa rede de proteção”.

“Claro que a segurança faz parte, mas nós precisamos de políticas públicas. Precisamos de uma educação que invista na convivência democrática, numa convivência ética e que isso faça parte do currículo da escola”, comentou.       

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