Em 29 de julho de 1943, 78 anos atrás, era fundado o Vila Nova Futebol Clube. O nome, uma homenagem à ‘vila mais famosa’ de Goiânia, a Vila Nova, bairro que desde os seus primórdios abrigou operários e migrantes na ainda jovem capital goiana. A origem popular motiva uma das alcunhas mais utilizadas para designar o clube: ‘O Time do Povo’.

De toda forma, o seu processo de formação se deu um pouco antes. Em 1938, o padre Giuseppe Balestiere fundou um clube amador para unir as comunidades católicas da nova capital, a Associação Mariana. O projeto cresceu e, cinco anos mais tarde, através do coronel Francisco Ferraz e da água benta do padre Balestiere, nasceu o Vila Nova.

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O surgimento de uma paixão

Para Hugo Jorge Bravo, atual presidente executivo colorado, a sua criação ajuda a entender como o clube ainda está ativo. O Vila Nova chegar aos 78 anos “é por providência divina, pela força que representa, e por isso falo que é o maior clube do Centro-Oeste. Desafio qualquer outro a passar pelo que passamos e estar da forma como estamos. Acho praticamente impossível. Não por acaso, a fundação do clube teve até a participação de um padre. Não tem como ser diferente, porque, aos olhos humanos, com o que passamos é difícil encontrar uma razão disso aqui ainda estar da forma como está”.

Em uma entrevista especial produzida pelo repórter Rafael Bessa em homenagem aos 78 anos do Vila Nova, o dirigente, desafiado a encontrar uma forma de explicar o clube, recordou da frase ‘o Vila não se explica, o Vila se ama’. Para Hugo, “é um negócio que não tem lógica. Ser vilanovense é algo que não se explica. É um sentimento de sofrimento e dificuldade, mas as conquistas, quando vêm, são com uma carga de emoção tão grande que te fazem gostar cada vez mais. Ser vilanovense é isso: amar o que não se explica. Se nasce com isso, por isso que falo que o vilanovense está no DNA”.

Hugo Jorge Bravo, presidente executivo do Vila Nova (Foto: Rafael Bessa/Sagres)

Ao longo da sua história, o clube passou por algumas transformações, motivada por problemas financeiros e administrativos – que sempre permearam a trajetória vilanovense. Entre a segunda metade dos anos 1940 e parte da década seguinte, foi Operário, Araguaia e Fênix antes de recuperar o nome original em 1955. Viveu a sua profissionalização a partir da gestão de Onésio Brasileiro Alvarenga, que hoje dá nome ao estádio e sede social do Vila Nova, enquanto os primeiros títulos começaram a surgir nos anos 1960.

Primeiro clube goiano a participar da Taça Brasil, em 1963, também foi pioneiro em outras conquistas no contexto do futebol de Goiás. Viveu nas décadas seguintes o seu auge, com oito dos seus 15 títulos estaduais conquistados entre 1969 e 1984, incluindo o então inédito tetracampeonato goiano de 1977-80. Em 1996, se tornou o único goiano a ser campeão brasileiro de forma invicta, quando ganhou a Série C pela primeira vez – ainda o único a ser tricampeão da divisão no Brasil. Três anos depois, o primeiro a participar de um torneio internacional, a Copa Conmebol de 1999.

Apesar de ter sido um clube criado para o futebol, como carrega no seu nome, abriu as portas para outras modalidades na década de 1970, quando obteve grandes conquistas no basquete. Campeão brasileiro em 1973 e sul-americano em 1974, além de terceiro colocado mundial, criou tradição nos esportes olímpicos em Goiás.

O desafio de manter a paixão viva

Com um incômodo legado de problemas financeiros e administrativos para resolver, Hugo Jorge Bravo, em meio ao sonho realizado de ser presidente do clube, além da promessa cumprida ao falecido avô, que transferiu a paixão vilanovense, entende que “o desafio é gerir um clube com grandes problemas, que são naturais, mas com poucos recursos e a cobrança muito grande por resultados. O resultado é fruto de um processo de construção: o que se planta, se colhe, então temos buscado plantar coisas boas aqui para colhermos coisas boas”.

“O clube não muda do dia para a noite. Jamais falaria em tamanho, porque somos gigantes, mas ainda veremos o Vila no patamar e na prateleira que merece, mas é um trabalho que não acontecerá do dia para a noite, principalmente enfrentando os percalços que estamos enfrentando, a pandemia. Torcemos muito para que a ideia continue com as pessoas que vierem sentar aqui (cadeira de presidente) para que consigamos sair desse grande jejum de 36 anos fora da Série A. O primeiro passo para isso é continuar na Série B com boas campanhas, porque uma hora ‘papai do céu’ fará a bola entrar e falar ‘esse povo sofreu demais’. Não tem deserto que dure para sempre”, destacou o dirigente.

Hugo Jorge Bravo, presidente executivo do Vila Nova, ao lado de Tim, ex-jogador colorado e campeão brasileiro em 1996 (Foto: Rafael Bessa/Sagres)

Hoje comentarista do Sistema Sagres de Comunicação, Carlos Eduardo Pereira, o Tim, conhece bem as glórias e os infortúnios que acompanharam e ainda acompanham o clube. Ex-jogador e dirigente colorado por quase três décadas, participou do primeiro título nacional do Vila Nova, a Série C de 1996, e também do último título estadual, o Campeonato Goiano de 2005.

Para o ídolo vilanovense, “são 78 anos de muitas glórias e conquistas, com uma torcida espetacular, fanática e apaixonada, e durante 28 anos dessa história eu passei dentro do Vila Nova. Entrei ainda garoto na escolinha, com apenas 10 anos, passei por todas as categorias de base e cheguei ao profissional, onde conquistei títulos do Campeonato Goiano e do Campeonato Brasileiro. Por diversas vezes participei de campeonatos da Série B e por muito pouco, em duas oportunidades, não conseguimos o acesso para a Série A, em 97 e também 99”.

“Tenho uma gratidão incrível pelo Vila, um time que me acolheu ainda criança, me deu a oportunidade de me tornar um atleta profissional e onde conquistei muitos amigos e conheci o país todo, atuando em diversas cidades defendendo as cores vermelho e branco. Os últimos anos têm sido de dificuldades, mesmo em 2020 conquistando o título da Série C, mas o torcedor não quer mais conquistar esse título, quer agora o Vila conquistando o acesso para a Série A, que é o maior sonho de todo vilanovense, e torço muito para que isso aconteça o mais rápido possível”, completou Tim.