A ideia da Federação Goiana de Futebol (FGF) de promover um torneio extraoficial entre as equipes que quiserem participar é bem melhor do que esta dos que estão apregoando o retorno dos jogos do Campeonato Goiano. Melhor e mais justa. Um torneio extraoficial dá liberdade para quem não tem condições declinar do convite, e foi o que fizeram o CRAC e o Goianésia, que vão disputar o Campeonato Brasileiro da Série D.

As duas diretorias alegaram que repatriar os jogadores agora para disputar do torneio, pode significar dois riscos: 1 – ter de manter o elenco até a Série D iniciar e ninguém sabe quando vai iniciar nem a série A, imagina a D? 2 – ter de dispensar o elenco outra vez se a Série D for iniciada em setembro, para não ficar três meses só treinando, pois seria difícil arrumar adversários para amistosos, e a isto soma-se a proibição da presença de público.

Ou seja, além de bancar o time, o clube ainda tem de pagar para jogar. Já que na Série D não existe nenhum auxílio por parte da CBF, que auxilia apenas as equipes das Séries A e B com recursos vindos da venda das transmissões dos jogos para a televisão, o prudente é guardar o dinheiro para quando a Série D vier.

O torneio dará aos times goianos condições para disputar o Campeonato Brasileiro. Em função da chegada da pandemia, os clubes tiveram as atividades suspensas entre o final de março e o início de junho, deixando os elencos fora de condição física e fora de ritmo de jogo. Quatro equipes, as da Capital, toparam entrar na disputa. O Atlético e Goiás, vão disputar a Série A, o Vila Nova a Série C e o Goiânia a Série D. A ideia da FGF é tão boa que equipes de Brasília estão interessadas em participar: se isto é conveniente ou não para os nossos clubes é questão para avaliar, mas a ideia do torneio é boa.

Já a ideia de voltar os jogos do Campeonato Goiano imediatamente é horrorosa. Ela pune a parte mais frágil, que se esforça mais para disputar o regional, com orçamento reduzido, vindo de alguns abnegados e do poder público municipal – os clubes do interior. A decisão pouco inteligente de parar o Campeonato, faltando apenas duas rodadas para terminar a primeira fase, quando já ficaria definido oficialmente os representantes goianos na Série D, as equipes rebaixadas para a Divisão de Acesso do ano que vem e quais clubes ficariam na disputa e quais a deixariam naquela fase, não foi tomada por estas equipes. Sequer atletas, técnicos, diretores foram ouvidos sobre esta imbecilidade. Não havia motivo para a paralisação. Naquela época, no Estado de Goiás tinha apenas três registros de casos de contaminação pelo coronavírus e assim mesmo em pessoas que haviam viajado para o exterior e já estavam isoladas.

O governador havia autorizado a realização das duas rodadas que ocorreriam entre quinta feira e domingo (quatro dias), desde que os jogos fossem sem a presença de público e que fosse feita a testagem em todos os agentes presente nos jogos. Numa reunião do presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais, Marçal Filho e o Goiás Esporte Clube, ficou acertado que o Sindicato entraria com o pedido de suspensão dos jogos imediatamente, junto à FGF.

Assim foi feito e a FGF, sem ouvir os outros 11 clubes, decidiu pela paralisação. Sem outra alternativa, as equipes do interior, com orçamento com tempo limitado, desfizeram seus elencos e se o Campeonato for retomado agora, a maioria delas não terá dinheiro e nem onde buscar, para remontar os times. Desta forma, pagariam por um erro que não foi delas.

Em tempo: a ideia de recomeço imediato do Campeonato nasceu com Túlio Lustosa, ligado à diretoria de futebol e também foi defendida pelo goleiro Tadeu, ambos do Goiás, o mesmo Goiás que teve participação decisiva para a paralisação da competição. Me lembrei do personagem Lingote, criado pelo genial Chico Anísio: “Vai entender?”.